sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Chuva



Chuva


Escuto a chuva que cai,
Escuto aquela que ainda quer cair,
Agredindo meu telhado,
Meus pensamentos,
Minha consciência inconsciente
De que no momento
Não posso fazer nada;
O seu som são como navalhas afiadas
A dilacerar meu peito nu,
Caindo em direção à carne
Que sem piedade rasgam meus sentimentos;
Trazendo consigo os demônios da saudade
Que a muito estiveram adormecidos,
E junto com a água que se escorre pelos cantos,
Vão-se também minhas lágrimas
Que se cansaram de cair...

Explode o trovão ferozmente,
Rompendo pelo céu,
O grito de Deus
Que ecoa pelo mundo.
Cadeiras vazias, serpente no chão,
Pássaros em toda parte,
Cenário cinéreo;
A chuva continua a cair,
O choro de Gaia
Que lava o solo em vão...

As luzes da cidade parecem opacas,
Os becos e esquinas repletos de vida,
De morte, o andarilho e seus passos,
Observo os olhares amedrontados
Em suas janelas cinzentas,
A água que cai sem parar,
A cidade adormece com medo de suas paredes desabarem...

Lá fora estão os famintos:
Famintos de ideias...
Famintos de amor...
Famintos de compreensão...
Famintos de coragem...
Prontos para devorarem uns aos outros
Em seu banquete feroz de indiferença,
Em sua parcela diária de fome.

Esperando com paciência
O trem do meio dia,
E o ultimo suspiro do carrasco,
Algoz sanguinolento em seu olhar macabro.
Seguindo as linhas férreas,
Seguindo os dias com ferro e fogo
Em direção ao esquecimento e o sono eterno,
A grandiosa morada do silêncio
Como quem espera a chuva cair.

W. R. C.

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