sexta-feira, 27 de abril de 2012



Um Drink
Para Essa Noite

Um drink para esta noite,
Um convite tentador...
O luar chama por mim,
Chama por você,
Vamos beber as estações
E de sensações nos embriagar.

Outro gole de vida,
Uma canção ecoada,
Eu e você no bailar
De nossos corpos pulsantes,
Entre as horas e o vento
E cada uma de nossas emoções.

Deixe fluir,
Vamos sorver,
A seiva preciosa
Que entorpece
Nossos sentidos,
Vamos beber.

Meus lábios nos seus,
Meu corpo em chamas
E o seu;
Até o virar da noite
E a ultima gota
Das sensações...

Mais um gole,
Outro sentido,
Mais uma linha,
Outra verdade,
Só mais uma dose
E outro olhar.

Um drink para esta noite,
Palavras que se tornam reais,
Desejos ardentes,
Vontades faladas,
Goles de vida
Em sentimentos variados...

W. R. C.


quarta-feira, 25 de abril de 2012



Gotas cristalinas,
O que me disse o pássaro


Gota por gota formam
Em minhas lembranças
Um manancial de puras águas
Em formas diversas,
Em vários sabores;
Cada um daqueles dias,
Tantas cores, tanto de nós,
Nunca pude dizer tudo,
O vento levou minhas promessas.
 Quando tento recriar,
Reinventar sensações,
Páginas vão se virando
E as linhas
Querem logo um ponto final;
Mas nuvens passam tão escuras
Quando tento tudo
E quero tanto;
Tentando pintar
As cores que se foram,
Reescrever os versos que partiram,
Como um artista da saudade,
Reler as linhas que findaram
Como um escritor de sentidos,
Moldar novamente
A estátua ebúrnea
De todos aqueles sentimentos
Que se perdem no tempo
Nas asas de seus conceitos...
Passo por passo
Vou seguindo
O decorrer de dias tão corridos,
O desaguar de horas pingadas;
Descobrir um pouco mais
De cada sonho
Que muitas vezes
Moldam-se em uma realidade,
Mostrar um pouco mais
De todas as folhas
Que vão se desenhando
Sem pesar,
De forma vagarosa
No rabiscar de tantos ideais;
Não posso conter
Estas páginas,
Não quero ser
Uma folha que passou
Levada pelo vento
Da ultima curva,
Nem um arbusto
Solitário no deserto:
 Um pássaro
Veio até mim esta manhã,
Em seu canto pude ouvir
O que ele pensa
Do amor e da paixão:
_Esse fogo
Que nos deixa ser ar,
Sem ação, sentindo tanto,
Tão forte não se pode explicar
Está no coração.
Essas cores tão brilhantes,
São reflexos constantes,
Do que se tem de mais precioso,
De mais puro e gracioso,
Tudo que se sente,
Do mais simples ao complexo
Dentro da gente,
Fogo que arde,
Sensação sublime que invade.
Assim me disse o pássaro,
E agora eu digo a você...

W. R. C.  

terça-feira, 24 de abril de 2012

António Feijó Portugal

António Feijó
Portugal: 1859 // 1917
Poeta/Diplomata

O Livro da Vida

Absorto, o Sábio antigo, estranho a tudo, lia...
— Lia o «Livro da Vida» — herança inesperada,
Que ao nascer encontrou, quando os olhos abriam
Ao primeiro clarão da primeira alvorada.

  Perto dele caminha, em ruidoso tumulto,
  Todo o humano tropel num clamor ululando,
  Sem que de sobre o Livro erga o seu magro vulto,
  Lentamente, e uma a uma, as suas folhas voltando.

Passa o Estio, a cantar; acumulam-se Invernos;
  E ele sempre, — inclinada a dorida cabeça,
 — A ler e a meditar postulados eternos,
  Sem um fanal que o seu espírito esclareça!

Cada página abrange um estádio da Vida,
Cujo eterno segredo e alcance transcendente
  Ele tenta arrancar da folha percorrida,
  Como de mina obscura a pedra refulgente.

  Mas o tempo caminha; os anos vão correndo;
  Passam as gerações; tudo é pó, tudo é vão...
E ele sem descansar, sempre o seu Livro lendo!
  E sempre a mesma névoa, a mesma escuridão.

Nesse eterno cismar, nada vê, nada escuta:
Nem o tempo a dobrar os seus anos mais belos,
  Nem o humano sofrer, que outras almas enluta,
  Nem a neve do Inverno a pratear-lhe os cabelos!

Só depois de voltada a folha derradeira,
  Já próximo do fim, sobre o livro, alquebrado,
É que o Sábio entreviu, como numa clareira,
  A luz que iluminou todo o caminho andado...

  Juventude, manhãs de Abril, bocas floridas,
  Amor, vozes do Lar, estes do Sentimento,
  — Tudo viu num relance em imagens perdidas,
Muito longe, e a carpir, como em noturno vento.

  Mas então, lamentando o seu estéril zelo,
  Quando viu, a essa luz que um instante brilhou,
Como o Livro era bom, como era bom relê-lo,
  Sobre ele, para sempre, os seus olhos cerrou...

  António Feijó, in 'Sol de Inverno'

domingo, 22 de abril de 2012

Entre as Vozes e o Tempo



Entre as vozes e o tempo

Despertar é quase sempre assim, outra noite se abre e segue com o aglomerado de brumas, de nuvens lacrimosas no céu, que foram se formando, fumaça dos sentidos de todas as distrações no conjunto disforme de emoções diversas; algumas serão enclausuradas em tumbas gélidas para adormecerem, guardadas distante do presente e suas faces.
Horas e horas e o silêncio venceu a guerra, eu espero aqui parado, o tique e taque do relógio marca as palpitações, coração acelerado ainda espera embora as coisas mudassem em meio aos dias que passam; e mudam muito, muito em mim, quando o espelho revela isso e um pouco do que está por vir, tudo em seu tempo e o tempo não irá esperar por ninguém...
Acordado eu fico quieto observando, entre as vozes e o tempo,em anoiteceres que falam pouco, absorvendo tudo o que sinto, sentindo aquilo que quero, meus pensamentos se perdem no céu entre nuvens cinzentas depois que o sol se esconde; é sempre assim, as mudanças são lentas, vem em pequenos passos e seguem sem olhar para trás...
Talvez uma cartomante para ler o futuro ou as linhas disformes de minha mão; talvez o destino nos conforte então sobre suas asas e devaneios escrevendo suas páginas, transformando nossos caminhos, moldando sonhos em rochas palpáveis; talvez uma chama possa iluminar o caminho quando os papeis se escrevem.
Lanço uma moeda no poço profundo de meus sonhos, buscando palavras que ainda não ouvi que falem um pouco mais, talvez o firmamento me dê uma resposta, soprando melodias em meus ouvidos em trovoadas discretas, talvez a verdade já esteja diante de mim para me mostrar o caminho certo, sussurra verdades em brisa de vento, enterra tristezas em tumbas de pedra, constroem pontes que levem ao outro lado de minhas procuras.
As cores da minha vida se transformam e tornaram-se variações de sentidos, no fogo de minhas paixões complexas, tantos caminhos de promessas seguidos de formas diversas; indecisões envenenam a mente dos que se perderam no labirinto, uma vontade fala ao coração, saudade tira todo o meu ar, esperança perdida se encontra novamente entre os dias e suas vestes, ela sai para ver o jardim de novidades.
No entanto minha jornada deve continuar até o fim, até o fim de meus dias cinzentos quando o sol se mostrar e iluminar os campos verdejantes após aquele amanhecer tão esperado; essa jornada irá até o fim de minhas ilusões e o começo da realidade, e quando caminho sozinho nos dias que se seguem, uma voz me alerta, mostra saídas e novos lugares, eu vejo um homem no espelho olhando para mim com chaves e papeis nas mãos, com fogo e brilho nos olhos...
Aqui estou eu, na travessia da vida eu permaneço em suas pontes diversas, olhando de um lado para o outro, guardando o que não posso mais sentir, e distante não vejo nada, não vejo ninguém, sozinho olhando a estrada, escutando o som de cada vento que sopra em direção às janelas azuis, embora a verdade seja desconhecida e os cavalos correm selvagens pelos bosques verdes da despedida, a vontade se torne muda enquanto as linhas se escrevem, o mundo nos mostra várias saídas em tantas portas variadas, nunca se sabe qual é a certa, nem qual levará ao destino querido, mas pode-se saber o que se quer antes de cruzar a entrada.
Embora os dias sejam frios e as noites agitadas, meu coração queima em chamas, meus pensamentos sobem aos céus, eu caminho sozinho pela estrada e sigo meus ideais em direção ao amanhecer desconhecido e seus jardins que se transformam.

W. R. C.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Perguntas Inquietantes IV



Perguntas Inquietantes IV


Aonde você vai
Quando os pensamentos
Começam a falar suas vontades
De formas pulsantes entre os dias
E suas variadas conversas?
Vai rumo ao amanhã,
Entre as curvas dos sentidos,
Do outro lado da ultima página
Escrita com letras sedentas
E tintas de ideais formulados?

Aonde você vai,
Rumo à vida e suas promessas
Onde o pão de nossos sonhos
Ainda não fora fatiado?
Quando nascemos,
Diga-me qual o nosso objetivo,
Ano após ano, dia após dia,
Quando o sol esqueceu
Como se faz seu trabalho;
Vamos para cima ou para baixo
Em direção
A derradeira água que caiu?

A árvore do conhecimento
Reconhecerá sua voz
Quando o céu se abrir para ouvi-lo?
E o que acontecerá quando
A sociedade gritar
E algumas idéias
Congelarem aprisionadas,
Engasgará
Em seus conceitos mundanos
E ocultará novamente sua face
Ou revelarão seus rostos bizarros?

Nós estamos indo
Rumo ao amanhã,
Ou caminhando
Entre vultos do agora?
O ontem virá com nós
Por estas passagens abertas
Entre os goles de nostalgia
Ou ficará adormecido
No passado cinzento?
Não saberíamos dizer
Se estamos pertos,
Próximo aos campos férteis
Onde brotam realidades distintas
E verdades diversas,
Onde às vezes as paredes
Ficam ainda mais estreitas
No caminhar diário
E suas procuras?

Quando partirmos,
Diga-me o que restará
Dessas perguntas inquietantes
E suas vontades latentes
Que ecoam ainda sem respostas
Nessas bocas tão sedentas?
O que levaremos, o que deixaremos
Em nossas prateleiras de escritos
E seus inúmeros quereres
Em direção ao amanhã
De olhos bem abertos,
De carnes e ossos expostos,
Com a pena na mão
Pronta a escrever
Mais sem poder enxergar
O cenário ao redor
Do amanhã que iremos esperar?

W. R. C.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Agora Chove



Chove Agora

E gotejam inúmeros pensamentos,
As águas levam embora
Tudo o que não quer mais ficar,
Os ventos cantam suas marchas
E o trovão mostra a próxima curva.

Chove agora
Palavras vão desenhando sentidos,
Vozes que tem tanto a dizer;
Falam das chuvas mescladas
Às mais diversas lágrimas
E do tempo que fechou.

Chove agora
O silêncio trava sua batalha
Com estrondos tempestuosos,
Versos e prosa;
Nas ruas rostos se escondem,
Corações se calam mais uma vez.

Chove agora
No alto da cidade
Entre nuvens e arranhásseis,
Um olhar distante,
Outro pensamento como antes
E aves a planar no céu...

Chove agora
Gotas de vontades escorrem,
Verdades, olhares pelas janelas,
Sentidos e suas procuras;
A chuva cai, o tempo se vai
E o céu despeja seu pranto lacrimoso.

W. R. C.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Goethe


Johann Wolfgang von Goethe
Alemanha:1749 // 1832
Escritor, Cientista, Mestre de Poesia, Drama e Novela

Canto dos Espíritos sobre as Águas

A alma do homem
É como a água:
Do céu vem,
Ao céu sobe,
E de novo tem
Que descer à terra,
Em mudança eterna.

Corre do alto
Rochedo a pino
O veio puro,
Então em belo
Pó de ondas de névoa
Desce à rocha liza,
E acolhido de manso
Vai, tudo velando,
Em baixo murmúrio,
Lá para as profundas.

Erguem-se penhascos
De encontro à queda,
— Vai, 'spúmando em raiva,
Degrau em degrau
Para o abismo.

No leito baixo
Desliza ao longo do vale relvado,
E no lago manso
Pascem seu rosto
Os astros todos.

Vento é da vaga
O belo amante;
Vento mistura do fundo ao cimo
Ondas 'spumantes.

Alma do Homem,
És bem como a água!
Destino do homem,
És bem como o vento!

Johann Wolfgang von Goethe, in "Poemas"

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Asas da Imaginação



Asas da Imaginação

 
E voaria
Em meio à luxúria do mundo
E cada um de seus sabores,
Por todas suas delicias,
Neste dia
E em outros,
Buscando os castelos celestiais;
Flutuando suavemente
Como sonhos desprendidos
Do intimo de meu ser;
Planando suave
Pelos corredores
Da existência
Em bifurcações
De caminhos variados,
Buscando respostas diversas
De perguntas
Que ainda não foram feitas
Em papeis amarelados,
Entre os deleites das horas
E suas volúpias;
Entorpecendo devagar
Com os banquetes da vida
E os sussurros
Que ecoam no tempo
E tantas vozes variadas:
Suaves melodias
A todos os amantes.
Vou me perdendo
No ontem e no hoje,
Vou me encontrando
No agora e no depois,
Entre sonhos e realidades,
Visões e delírios,
Beijos que ficaram no passado
E os que esperam para o amanhã;
Cada pedaço desprendido,
Cada vontade remendada,
Deixando fluir novidades,
Sentindo sua essência
E me deleitando com isso...
Abro minha mente
E deixo tudo sair,
Em cascatas
De desejos sem fim,
Anjos luminosos
Sobre voam minhas ideias;
A interminável busca,
O inevitável encontro almejado,
Passos que dançam
Neste labirinto,
Estradas construídas
E suas moradas...
Loucura do momento,
Pensamento em expansão,
Fumaça no presente,
Fogo da paixão
E tudo o que se sente...
Um voo suave,
Voo baixo,
Asas da imaginação
Que se expandem lentamente,
Portas que se abrem,
Em um piscar
De minhas janelas...
Gemido gritante
Que na manhã ecoa,
Anseio em magia,
Vontade guardada,
Procura sem fim,
E o tempo que nunca para...

W. R. C.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Pensamentos Intraduzíveis



Pensamentos Intraduzíveis

 
São inevitáveis;
Passam pela cabeça
Pensamentos de formas diversas,
Que voam por recantos distantes,
E pouco antes que eu me esqueça
Tantas idéias dispersas
Trazem memórias do que vivi antes
E que não são mais palpáveis.

Minha boca tem sede,
Meus olhos mostram o tempo,
Cada grão que evaporou,
Essa areia que voou
Soprada pelo vento
Que um lamento arrastou
Em um beijo que jamais voltou
Ficou rabiscado na parede.
Sua imagem tão bela gravada
Agora na névoa do presente,
Segue seu curso sorrateiro
Construindo dilemas
Em cada lampejo que se sente;
E o sorriso derradeiro
Perdeu-se em outros poemas
Quando minha boca ficava calada.
O tempo escreve suas linhas
E a vida trará de volta
Suas cores variadas
Em outras vozes sussurrantes.
Quem tocou o tempo não mais o solta,
Seguirá ate o fim por essa estrada
Fazendo muito como fizera antes,
Deixando seu nome nas entrelinhas.
Quando a vida fizer sua curva
E as portas se abrirem
Mostrando os jardins,
Cada um terá escrito
Mesmo que não os lerem,
Um pouco de você, um pouco de mim.
É como tenho dito:
Um pensamento nunca muda...

W. R. C.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Células



Células

Somos células agitadas
Que circulam pelo globo,
Somos vozes e seus verbos,
Ecoando seus quereres;
Vida e morte,
Combatentes em nossas lutas,
Parte de um todo...
Flutuando no firmamento
Como aves despreocupadas,
Ou navegando no rio negro
De asfalto e piche,
Rostos diversos,
Sentimentos gritantes,
Nomes variados...
Não percebemos
O tempo que passa veloz
Como um raio
A rasgar a consciência,
Transpassando carne e espírito;
O sangue corre quente
Por veias agitadas,
Células seguem apressadas
Pelas cidades e suas curvas;
O convite já fora feito,
O vento sopra lá fora
E nos conduz,
Guia nossos passos,
Sopra nossos versos,
Impulsiona nossos sonhos
Arrastando-nos
Pelas veredas da vida.
Veja: a selva de pedra
Toda iluminada,
O sol mostra sua força
Quando o céu
Despe seu manto cinzento,
O fogo fátuo que gera vida
Aquece os corpos pulsantes;
E os inúmeros olhares
Que te observam
Também cantam suas linhas
Em enciclopédias de vidas...
A cidade pulsa
Como um coração apaixonado,
Gritando desesperado
Por seu nome,
Pelo meu:
Vamos correr
Por suas veias
Em direção ao amanhã,
Como uma de suas células
Até o coração da cidade
E deixar escrito em suas páginas
Mais um pouco de nós...
W. R. C.

domingo, 8 de abril de 2012

Emmanuel Kant


Emmanuel Kant
Alemanha:1724 // 1804 Filósofo

Os Dois Infinitos

Duas coisas enchem a alma de admiração e de respeito sempre renovados e que aumentam à medida que o pensamento mais vezes se concentra nelas: acima de nós, o céu estrelado; no nosso íntimo, a lei moral. Não é necessário buscá-las e adivinhá-las como se estivessem ofuscadas por nuvens ou situadas em região inacessível, para além do meu horizonte; vejo-as ante mim e relaciono-as imediatamente com a consciência da minha existência. A primeira, a partir do lugar que ocupo no mundo exterior, estende a relação do meu ser com as coisas sensíveis a todo esse imenso espaço onde os mundos se sucedem aos mundos e os sistemas aos sistemas e a toda a duração ilimitada dos seus movimentos periódicos. A segunda parte do meu invisível eu, da minha personalidade e do meu posto num mundo que possui a verdadeira infinitude, mas no qual o entendimento mal pode penetrar e ao qual reconheço estar vinculado por uma relação não apenas contingente, mas universal e necessária (relação que também alargo a todos esses mundos visíveis).
Numa, a visão de uma infinidade de mundos quase aniquila a minha importância, na medida em que me considero uma criatura animal que, depois de ter (não se sabe como) gozado a vida durante um breve lapso de tempo, deve devolver a matéria de que é formada ao planeta em que vive e que não é mais do que um ponto no universo. Pelo contrário, a outra ergue infinitamente o meu valor como inteligência, mediante a minha personalidade, na qual a lei moral me revela uma vida independente da animalidade e até de todo o mundo sensível, pelo menos na medida em que podemos julgá-lo pelo destino que esta lei consigna à minha existência, e que, em vez de ser limitada às condições e aos limites desta vida, se alarga até ao infinito.

Emmanuel Kant, in 'Crítica da Razão Prática'

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Imenso Mar



Imenso Mar

 
O que são palavras
Para ouvidos desinteressados,
Gestos que não tem devido valor,
Que flutuam no oceano do acaso;
Olhares que aos poucos
Ficam no passado
E beijos que perdem seu calor?
E as poucas horas
Que em vão passamos,
Em doces sonhos
E calorosos abraços,
Seriam paixões vazias
Que nós alimentamos,
Ou a corda
Que ao pescoço
Se forma o laço?
No mar da existência navegamos
Entre as nuvens de sonhos
E seus ideais;
Somos aves,
E sempre voamos
Como nestes versos
Que agora componho
Em busca de algo mais.
São tantos pensamentos
De diversas formas,
São tantas palavras
Que se perdem no ar,
Sentimentos cotidianos
Que se tornam norma
No navegar solitário
Desse imenso mar.
O que são essas vontades
Que no peito explodem,
Transportando-nos
À recantos distantes,
Germes... Sentimentos...
Borboletas que eclodem...
O ontem não bate com o agora,
Não é como antes?
Saudade do que
Nem chegou a existir,
Verdades que
Nem mesmos foram faladas
Amor que o peito
Quer comprimir,
Boca que agora
Quer ficar calada.
Silêncio em suas vozes variadas
Soprada pelo vento do presente,
Escritas em linhas tortas,
Páginas diárias que são viradas,
Fogo que n’alma se sente,
Verdades vivas,
Verdades mortas...
São tantos pensamentos
De diversas formas
São tantas palavras
Que se perdem no ar,
Sentimentos cotidianos
Que se tornam normas
No navegar solitário
Desse imenso mar.
W. R. C.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

As Palavras



As palavras

Em seus verbos,
Em suas sílabas,
Seus assentos,
Nas estantes a descansar;
Onde esperam
As respostas
De suas buscas
No conjugar de seus dizeres.
Essas mesmas,
Que se escrevem,
Em versos, em prosa,
No silêncio que as precede,

Do poeta e seus livros
Com seus gestos engraçados,
Em gemidos fazem pose
Quando não mais são tocados.
São tão cegas
E tão surdas,
Quase mudas
A se escrever.
As palavras
Em seus livros,
Que foram escritos
E pouco lidos,
Bem vestidas
Nas estantes,
Quase nunca são falantes
E às vezes falam de mais.
Ganham brilho,
Ganham cores
Em suas dores sem razão;
E do amor falam baixinho,
Quase esquecem
De suas lágrimas
Que como tinta
Rabiscaram o papel.
Fazem música em suas vozes,
Cantam contos em seus textos,
Escrevem linhas da verdade
E se perdem com o tempo.
Quando as páginas envelhecem
E as linhas que se escrevem
Falam tudo que se sabe
E ecoam por saber.
W. R. C.