quinta-feira, 28 de julho de 2011

Fora do Labirinto





Fora do Labirinto


Finalmente luz, abra as janelas,
Finalmente liberdade para fugir;
Para longe da noite,
De suas sombras e seus vícios.
Foi tempo demais
Gasto feito um defunto caminhando por aí,
Com olhar distante, com dentes pontiagudos,
Afogando-se em sentimentos sem fim,
Um coração, um palpitar gritante.
Finalmente pode-se abrir as asas,
E planar no céu sorrateiro,
Como ave despreocupada,
Observando tudo do alto,
Chega de lágrimas, chega de lutas,
Cada um é livre para tomar seu caminho,
Fora do labirinto,
Dentro de qualquer realidade
Revelando segredos que guardamos no caminho.
Quem sabe o que é certo?
Seria mesmo possível sair deste labirinto?
Quem conhece o segredo por traz do véu da distância?
Quebrando as correntes,
Rompendo para o outro lado,
Entregando o futuro ao destino;
Nada mais a dizer; todos ficaremos bem!
Eventualmente vemos
O que não estava claro aos nossos olhos,
Em sonhos preto e branco,
Fagulhas de lembranças,
Sentimentos que queimam as entranhas.
Presente se solidificando...
Passado se evaporando...
Por toda nossa vida,
Por tudo que se quer e não se tem,
Que se perde com o tempo,
Os altos e baixos de estradas e vielas,
Corredores estreitos, becos escurecidos,
Certeza de que nada é certo e duradouro;
Tudo em pequenos grãos
Como areia do tempo em uma ampulheta...
Verdade oculta no manto dos sussurros,
Silêncio gritando vontades perdidas,
Verdades caladas em caixas poeirentas,
Passos acelerados,busca interminável,
Procura incansável por uma saida.

W. R. C.


domingo, 24 de julho de 2011

Heavy Metal

1969. Um ano de vários fatos marcantes, como a chegada do homem à lua. No mundo da música, mais especificamente no rock, os Beatles terminariam definitivamente sua existência, com o lançamento de sua última obra-prima, “Abbey Road” (posteriormente ainda sairia “Let It Be”, mas já com a banda dissolvida); o The Who nos entregava sua magistral ópera-rock “Tommy”; os Rolling Stones, que ainda enfrentavam a ressaca após a misteriosa morte de Brian Jones, realizaram o fatídico show gratuito no autódromo de Altamont e lançavam “Let It Bleed”. Tivemos o acontecimento do antológico festival de Woodstock, marcando o auge e também o início da decadência do movimento flower-power da contracultura hippie. No Vietnã, batalhas cada vez mais sangrentas, ao mesmo tempo em que a guerra fria vivia seus dias mais austeros. Em meio a dias tão turbulentos, despontam no cenário musical algumas bandas com uma sonoridade mais agressiva, que são tidas até hoje como os pilares do heavy metal. Dentre elas destaque para Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple, autoras de discos que se tornariam as “bíblias” da mais pesada vertente do rock and roll.
O INÍCIO
O termo heavy metal ganhou força definitiva na década de 1980, com o surgimento da “New Wave Of British Heavy Metal”, mas a história do gênero é bem mais antiga. Com relação à mídia, embora o termo “música pesada” (“heavy music”, em inglês) já houvesse sido usado antes (para se classificar o som do Iron Butterfly, por exemplo), a primeira vez que se tem conhecimento que a expressão heavy metal foi realmente usada foi em um review de Mike Saunders sobre o álbum “Safe As Yesterday Is”, do Humble Pie, publicado na revista Rolling Stone em sua edição de novembro de 1970. Musicalmente, o metal começou ainda um pouco antes, com algumas opiniões controversas a respeito disso.
O marco inicial do metal para muitos se deu em 1968, quando os Beatles gravaram “Helter Skelter” em seu famoso e controverso Álbum Branco. Os motivos que dão base a esta tese são muitos: as guitarras saturadas e estridentes, o vocal “berrado”, a própria levada da música... Como se não bastasse, a canção composta por sir Paul McCartney (cujo título pode ser traduzido como confusão, algo fora de controle) foi citada pelo famoso Charles Manson como sua fonte de inspiração (?) para cometer o assassinato de Sharon Tate, esposa grávida do cineasta Roman Polanski, diretor de “O Bebê de Rosemary” – dentre outros disparates que o levaram gradativamente a chegar ao crime, ele acreditava que o quarteto de Liverpool eram os quatro cavaleiros do apocalipse (!!!), e que a letra de “Helter Skelter” representava a batalha do juízo final (!!!!!). Na verdade, a música se refere a um tobogã popular nos parques da Inglaterra, onde se escorregava de forma meio descontrolada, e foi uma espécie de resposta ao The Who, cujo guitarrista Pete Townshend havia dito em uma entrevista que sua canção “I Can See For Miles” era a mais barulhenta já gravada. Mas isso já é assunto para uma outra longa história...
Outros clamam que a semente do metal tem outra origem. Ainda naquele ano, pela primeira vez se usou o termo heavy metal em uma música, na letra da lendária “Born To Be Wild”. Inicialmente, a canção escrita por Mars Bonfire (nome real do guitarrista Dennis Edmonton), quando ainda integrava o The Sparrows, chegou a ser oferecida a outros artistas, como o grupo The Human Expression, mas a honra de gravá-la acabou ficando mesmo para sua nova banda, o Steppenwolf. Tornou-se famosa ao ser escolhida como música tema do filme “Sem Destino” (1969), com Peter Fonda, Dennis Hopper e Jack Nicholson, e seus versos comparavam o barulho da motocicleta a um trovão de metal pesado, “heavy metal thunder”. Relatos do próprio Mars dão conta de que sua inspiração para compor foi um pôster visto em uma vitrine de uma loja em Hollywood, com uma Harley Davidson na estrada e a expressão “Born To Ride” cravada no asfalto.
Há ainda uma terceira corrente, que recai sobre um power trio que tocava mais alto e era mais barulhento do que qualquer banda da época, o Blue Cheer, cujo nome foi retirado de um poderoso tablete de LSD que circulava pela Califórnia naqueles dias. Originalmente um sexteto, após a debandada de metade da banda, os três membros remanescentes Leigh Stephens (guitarra), Paul Whaley (bateria) e Dickie Peterson (baixo e vocal) decidiram aumentar o volume no máximo, para nas apresentações preencher o vazio deixado pelos ex-companheiros. Seu blues-rock extremamente amplificado fez sucesso com uma versão de “Summertime Blues”, de Eddie Cochran, registrada em seu álbum de estréia de 1968, que levava o curioso nome de “Vinceptus Eruptum”, que continha ainda a ótima “Rock Me Baby” e a longa e chapadona “Doctor Please”. Curiosamente, com o decorrer de sua carreira o Blue Cheer foi polindo seu som e diminuindo o volume cada vez mais, num caminho inverso à tendência que o rock seguiria. Alguns hoje classificam o estilo como “stoner rock” (se formos traduzir, rock “chapado”), outros como metal.
Se formos voltar ainda mais um pouco no tempo, temos outros momentos que são lembrados e citados também, como a primeira música a apresentar distorção nas guitarras, “You Really Got Me”, do The Kinks, de 1964 (aquela mesma posteriormente regravada pelo Van Halen em seu disco de estréia). Muitos especialistas chegam até mesmo a elencar o lendário Cream, de Eric Clapton, Jack Bruce e Ginger Baker, como pais do som pesado (hipótese a ser considerada, principalmente com relação às elétricas performances ao vivo do trio), bem como o próprio The Who, que além de tocar alto, quebrava tudo no palco, literalmente. Mas, por fim, todos os caminhos acabam sempre levando ao mesmo denominador comum, apontando para as três bandas que dão título a esta matéria como os grupos seminais do estilo.
LED ZEPPELIN
O Led Zeppelin foi uma banda que desde o início já tinha cara de super grupo, afinal era formado pelo ex-guitarrista dos Yardbirds, Jimmy Page, junto ao polivalente e conceituado músico de estúdio John Paul Jones, tendo ainda o exímio John Bonham nas baquetas (com sua incrível capacidade de conciliar peso e swing na medida certa) e a grande revelação Robert Plant nos vocais. Vale lembrar, como curiosidade, que o Zeppelin recebeu seu nome após uma piada dos eternos e saudosos Keith Moon e John Entwistle, do The Who – certo dia, os dois estavam junto a Jimmy Page e Jeff Beck, cogitando a possibilidade de fazerem um som juntos, e em certo momento Moon disse que essa banda decolaria tão bem quanto um balão pesado, onde completou Entwistle: “um zepelim de chumbo”.
Contratados pela Atlantic Records, lançam em 1969 seu début, que levava o nome do próprio grupo e fora produzido pelo próprio guitarrista Jimmy Page (com assistência de Glyn Johns, como engenheiro de som). Já tínhamos nele uma boa amostra do que viria pela frente em sua brilhante carreira: alternavam-se canções com guitarras pesadas e uma forte pegada de bateria, como em “Communication Breakdown”, “Good Times, Bad Times” e “Dazed And Confused”, com belas dobradas de guitarra e baixo, tal qual se ouve na fantástica faixa de encerramento, “How Many More Times”, belos temas acústicos, como “Black Mountain Side”... Havia ainda regravações de temas de blues, como “You Shook Me” e “I Can’t Quit You”, de Willie Dixon. O álbum foi gravado em uma mesa de quatro canais, com os quatro tocando ao mesmo tempo, aproveitando-se do reverb e eco que o estúdio produzia, gerando um som único. Num tom de total reverência, Tom Hamilton, baixista do Aerosmith, disse certa vez: “na primeira vez que ouvi o primeiro álbum do Zeppelin, tive a sensação de que Deus estava saindo pelas caixas de som”. Embora a crítica especializada da época não tenha dado muita bola, foi grande sucesso de vendas.
Como se não bastasse, no mesmo ano ainda chegava às prateleiras outra pedra preciosa que daria continuidade a tudo: “Led Zeppelin II”, produzido novamente por Jimmy Page (agora com Eddie Kramer como engenheiro, notório colaborador de Jimi Hendrix). Alguns seguidores da banda preferem este álbum ao primeiro, afinal ele trazia de cara “Whole Lotta Love”, e tinha ainda no decorrer do disco “Heartbreaker”, “The Lemon Song”, “Living Lovin’ Maid”, “Moby Dick” (com direito ao fantástico solo de bateria de John Bonham), a belíssima balada “Thank You”, “Ramble On”, e “Bring It On Home”, que fechava com chave de ouro. Fã confesso da banda, Steve Vai conta que decidiu tomar aulas para aprender a tocar guitarra quando ouviu pela primeira vez “Heartbreaker”. O álbum foi gravado em vários estúdios diferentes, nos intervalos entre um ou outro show da turnê de seu primeiro trabalho. John Paul Jones cita que muitas das idéias e riffs surgiam no palco, principalmente nos longos improvisos de “Dazed And Confused”. Foi também o primeiro álbum a atingir simultaneamente o número um das paradas nos EUA e na Inglaterra.
O Zeppelin fez história. Praticamente toda sua discografia é tratada como obra-prima. Sobre os músicos, o que mais dizer? Com seus grandes e exóticos arranjos e sua extensa exploração de afinações alternativas, Page logo galgou seu lugar junto aos deuses da guitarra – quem nunca ficou embasbacado ao ouvir seus riffs e solos inspirados, ou ao vê-lo empunhando um arco de violino para tirar sons inimagináveis de seu instrumento? John Paul Jones é admirado cada vez mais por sua versatilidade e capacidade musical, Robert Plant é, sem dúvidas, uma das maiores vozes da história do rock, e John Bonham até hoje é referência para qualquer cidadão que ouse segurar uma baqueta – uma pena que nos tenha deixado tão cedo.

BLACK SABBATH
Após alguns anos tocando blues em clubes locais sem muito dinheiro ou repercussão, o quarteto da cidade industrial de Birmingham chamado Earth dá uma guinada em sua carreira em 1969. Mudam seu nome para Black Sabbath, inspirados em um filme de terror com Boris Karloff que levava este nome, e passam a apostar numa sonoridade mais arrastada e assustadora. Com sua guitarra SG saturada e cortante, Tony Iommi já demonstrava, desde o início, ser o mestre dos riffs. Ozzy Osbourne podia não ser o melhor vocalista do mundo, mas já era dono de um carisma inigualável. A cozinha formada por Terry “Geezer” Butler e Bill Ward era ainda bastante coesa e inspirada. Foi apenas questão de tempo então até conseguirem se firmar no cenário. Após algumas apresentações com o novo nome e a divulgação de um single (“Evil Woman”), conseguem um contrato com a gravadora Vertigo para lançar seu primeiro trabalho, que fora gravado e mixado em, acreditem, apenas três dias, tendo a produção assinada por Rodger Bain.
Para dar uma atmosfera mais sombria, o ótimo disco de estréia, que levava o próprio nome da banda, foi lançado em uma sexta-feira 13, em fevereiro de 1970. A capa do play já era extremamente assustadora para a época (na época, muitos juravam ser uma foto real de uma bruxa). Ao colocar o vinil para rolar, então, muitos já sentiam todos os calafrios possíveis: a introdução da faixa “Black Sabbath”, que dava início a tudo, com aquele barulho de sino ao fundo de uma chuva torrencial, precedia um riff magistral de guitarra (tocando o que no mundo medieval era chamado de “a escala proibida”, pois se acreditava que aquela sequência de acordes o demônio era invocado). Era de arrepiar até os mais céticos. E quando Ozzy começa a cantar “O que é isso que se depara diante de mim?”... Mas o álbum não se resume apenas a isso, afinal ele tinha ainda outros grandes momentos, como a clássica “N.I.B.” (alguém se arrisca sobre o que significa a sigla?), “The Wizard”, “Wicked World”... A produção crua ajudava ainda mais no clima. A crítica especializada, entretanto, caiu matando. O famoso Lester Bangs (o mesmo que foi retratado no filme “Quase Famosos”) citava em sua resenha: “parece com o Cream, só que muito piorado”. De qualquer forma, conseguiu boa repercussão.
Após alguns shows, o Sabbath voltaria a estúdio ainda naquele mesmo ano. Com várias canções prontas, compostas durante a turnê (como era praxe na época), reúnem-se com o produtor Rodger Bain e, em poucos dias novamente, gravam seu segundo álbum e aquele que, para muitos, é sua melhor obra até hoje. Inicialmente o vinil levaria o nome de “War Pigs”, a clássica faixa que abre o trabalho, num protesto claro contra a guerra do Vietnã – tanto que a capa trazia um soldado estilizado, de capacete, espada e escudo nas mãos. Com medo de alguma represália ou censura, atendem aos pedidos da gravadora e mudam o nome, batizando-o com o título de uma nova canção que, segundo o baterista Bill Ward, foi totalmente composta em pouco mais de vinte minutos no próprio estúdio: “Paranoid”. Compõem o registro, ainda, a psicodélica “Planet Caravan”, a antológica “Iron Man” (e um dos riffs de guitarra mais tocados até hoje na história), a instrumental “Rat Salad”, “Electric Funeral”, “Fairies Wear Boots”... Que discaço, não? Não é à toa que Billy Corgan, do Smashing Pumpkins, declarou: “ouvir os primeiros discos do Black Sabbath foram os momentos mais sublimes da minha vida”. Como não poderia deixar de ser, a carreira do Sabbath daí pra frente engrenou de vez, tendo criado ainda outras grandes obras, seja com Ozzy ou sem ele, até os dias atuais – mesmo usando outro nome, para evitar conflitos judiciais.

DEEP PURPLE
Embora só tenha conhecido de fato o sucesso em 1970, o Deep Purple já tinha uma boa história pra contar. Formado em 1966, o quinteto trazia em sua formação nos primeiros trabalhos de estúdio os fundadores Ian Paice na bateria, Jon Lord nos teclados e Ritchie Blackmore nas seis cordas, tendo o time completado pelo vocalista Rod Evans e pelo baixista Nick Simper. O nome do grupo, como se sabe, foi retirado de uma antiga canção romântica que a avó de Blackmore gostava bastante. Contratados pela Harvest, gravadora subsidiária da gigante EMI, lançaram três álbuns de estúdio, “Shades Of Deep Purple”, “The Book Of Talesyn” e “Deep Purple”. Tiveram um único e modesto hit, a regravação de “Hush”, de Joe South, que fazia parte de seu primeiro trabalho – que continha ainda covers de “Help!”, dos Beatles, e “Hey Joe”, popularizada por Jimi Hendrix.
Em 1969 ocorre uma mudança crucial no histórico da banda: a entrada dos ex-membros do Episode Six, o vocalista Ian Gillan e o baixista Roger Glover, substituindo Evans e Simper. Lançam o ousado álbum ao vivo “Concert For Group And Orchestra”, gravado no Royal Albert Hall, já com a nova formação, mas não conseguem muito êxito comercial. Porém nos palcos que sua reputação era cada vez mais elogiada, com comentadas performances elétricas e contagiantes – em especial Blackmore, cada vez mais alucinado e influenciado por Jimi Hendrix, trocando de vez sua velha Gibson Semi-Acústica pela Fender Stratocaster e desenvolvendo gradativamente sua “atuação” nos extensos improvisos instrumentais, onde girava, pisava e jogava para o alto o instrumento. Como estavam prestes a lançar um novo trabalho, com a nova formação, que tal então tentar levar toda essa energia para o estúdio?
Trabalhando junto a jovens engenheiros de som, como Andy Knight, Phil McDonald e Martin Birch (que se tornaria colaborador fixo da banda naquela década, bem como do Rainbow, Whitesnake e Iron Maiden anos depois), o Purple passa a tocar e gravar “ao vivo em estúdio” e aposta suas fichas numa sonoridade mais agressiva e pesada (onde, inclusive, o órgão Hammond de Lord passou a ser ligado simultaneamente em uma caixa Leslie e em um amplificador de guitarras Marshall – ganhando seu som característico e o carinhoso apelido de “A Besta”). Destaque também para as notas altíssimas que podiam ser atingidas por Gillan, além de seu timbre espetacular, e para a ótima cozinha formada por Glover e Paice, fazendo um ótimo pano de fundo para os solos intrincados da dupla Blackmore/Lord. O resultado foi “Deep Purple In Rock”, que veio ao mundo em junho de 1970 e foi uma verdadeira porrada na cara dos mais conformistas.
A abertura ensurdecedora com “Speed King” já era garantia absoluta para incomodar qualquer vizinhança. A épica “Child In Time” até hoje é considerada uma de suas melhores músicas. Isso tudo sem falar em “Bloodsucker”, “Into The Fire”, a empolgante “Flight Of The Rat”, “Living Wreck” e a pesadíssima “Hard Lovin’ Man” (“dedicada” a Birch). Complementando tudo, uma capa inesquecível, com os rostos dos integrantes da banda substituindo os presidentes americanos no monte Rushmore. Ah sim, faltou ainda falar de “Black Night”, que havia sido lançada paralelamente como single e foi um hit absoluto, mas ficou de fora do álbum por causa da limitação de espaço enfrentada em tempos de vinil. “In Rock” merece o status de obra-prima, sem dúvida. Bruce Dickinson, por exemplo, já afirmou diversas vezes que este é seu disco favorito de todos os tempos. Jon Lord sempre cita-o como o melhor trabalho do Purple.
Mas o álbum não é uma unanimidade como o melhor disco da banda entre os fãs do quinteto: para a maioria o título fica com “Machine Head”, lançado dois anos depois (entre eles houve ainda o ótimo “Fireball”). O famigerado álbum gravado no saguão de um hotel abandonado em Montreux, na Suíça, com um estúdio móvel dos Rolling Stones, traz uma relação de sete músicas que falam por si próprias: “Highway Star”, “Pictures Of Home”, “Maybe I’m a Leo”, “Never Before”, “Smoke On The Water”, “Space Truckin’” e “Lazy”. Clássico absoluto e incontestável do rock and roll. Existe alguém no mundo que já teve uma guitarra nas mãos e nunca tentou tocar o riff de “Smoke On The Water”? O curioso é que a canção, uma espécie de diário de bordo resumido das gravações, inicialmente não foi a grande aposta do disco. Tanto que o primeiro single foi “Never Before”, que trazia em seu lado B a bela “When a Blind Man Cries”, executada até hoje nos shows da banda. Produção da própria banda, mais uma vez, sob a tutela de Martin Birch. Foi nesta turnê que o Purple gravou o antológico álbum ao vivo “Made In Japan”, outro álbum obrigatório de sua extensa discografia.
40 ANOS DE METAL
40 anos. Mesmo não sendo mais criança e já tendo cabelos grisalhos, o heavy metal continua aí, incomodando muita gente e sendo fonte de alegrias e inspiração para os seus milhões de fãs e seguidores ao redor do mundo. E mesmo com sua data de aniversário correta ainda gerando divergências e debates, é um fato a ser celebrado, com o volume bem alto, e com as mãos para o alto, fazendo os indefectíveis “chifres” do “mallochio”, tão difundido por Ronnie James Dio (essa já é mais uma outra história...).
Para encerrar, fica uma sugestão ao leitor: caso ainda não tenha assistido, vale a pena ver o excelente documentário “Metal – Uma Jornada Pelo Mundo do Heavy Metal”, de Sam Dunn e Scot McFadyen, que traça e explora uma verdadeira árvore genealógica do gênero. E aos leitores mais jovens: se por um acaso você ainda não tem nenhum dos citados registros em sua humilde coleção, ou nunca sequer ouviu nenhum deles, trate de recuperar este tempo perdido... Compre, empreste, grave, faça um download, mas não fique jamais sem conhecer estas verdadeiras enciclopédias do rock.
P.S.: Pra matar de vez a dúvida, a sigla “N.I.B.” não significa “Nativity In Black”, como a maioria acha que seja, principalmente depois do lançamento de dois tributos ao Black Sabbath levando este nome. De acordo com Tony Iommi, o título foi simplesmente uma referência à barbicha que Bill Ward tinha, e que se parecia com a ponta de um pincel fino, daqueles usados pelos artistas plásticos para assinar seus quadros, cujo nome em inglês é “pen-nib”. Como o “tinhoso” popularmente é conhecido por ostentar um cavanhaque parecido, e a canção é escrita do ponto de vista dele, criou-se a misteriosa sigla para atiçar as mentes dos ouvintes.
Fontes de pesquisa para a matéria: Wikipedia, Whiplash, Rolling Stone, LedZeppelin.com, BlackSabbath.com, Deep-Purple.com





sábado, 23 de julho de 2011

Noite




Noite


Denso enxame sombrio,
Bombardeando os loucos pensamentos distraídos
Com ideologias e conceitos mundanos,
Sentindo o sopro frio da noite banhar a face pálida e triste.

E pelos corredores e becos escuros,
Segue o mesmo caminho rotineiro vago e impuro,
Cruzando-se com rostos fantasmas
Por estradas distorcidas,
Estranhas e espinhosas dessa jornada.

Em noites silenciosas,
Só se ouve um canto solitário de ave noturna,
Louvando a quêda noite
A qual sempre sai para se alimentar.

Em meio aos seres da noite, e sob a pálida luz do luar,
Em algum lugar se encontra mais um amante das sombras,
Remoendo pensamentos...
Tristezas e alegrias se mesclam e difundem,
Loucuras sóbrias se expandem e se confundem.

Oh, noites sombrias,
Que sorrateiramente nos convida a vislumbra-la,
A todo os amantes do trevoso mundo noturno
gerações e gerações a contempla-la...

Envolvido pela magia e graça do luar,
Inebriado pelos vapores noturnos e o vinho,
Louvamos a lua em noites frias e solitárias,
Em bosques verdejantes, colinas ou estradas,
Companheira eterna sempre nos presenteando com sua presença.

Assim somente,
Envolvido no silêncio e calma da noite,
Os vapores elevam-se, entorpecendo,
Esfriando e confortando a alma!...

W. R. C

sábado, 16 de julho de 2011

Devaneios






Devaneios


Essas noites de lua cheia, quando em meio à vapores etílicos
nos deixamos levar por sentimentos nostálgicos, e percebemos toda
nossa fragilidade e desespero, tudo que queríamos fazer de forma certa
e que deixamos passar sem perceber, e perdemos uma oportunidade única,aquela daquele momento, que se evaporou e sumiu diante de nossos olhos... Muitas lágrimas são derramadas e lamentos perdidos no céu, não podemos voltar, nem mais viver novamente; queremos construir tudo de novo, mas é impossível, páginas já se viraram, águas já correram, flores já secaram; e só fica uma lembrança frustrada, um carrossel de devaneios flutuantes em nossas mentes, do qual gostaríamos de embarcar novamente.
O luar brilhante nos conforta, e trás para tona sensações perdidas, sentimentos esquecidos,uma paz momentânea, uma vontade de se perder em sonhos, e o que resta é frustrante, longe daquilo que realmente gostaríamos de viver.
Estamos perdidos em um presente severo, cheio de regras e dogmas, dos quais muitas vezes fugimos, somos escravos da evolução acelerada e seus preconceitos ultrapassados, fadados a ver nossos sonhos de amores e vida, que hoje deteriorados se perderem além, em meio a seres mecanicos e artificiais;correndo atrás de uma fatia dessa sociedade sintética, sem sentimentos e amores verdadeiros, que só pensa em construir sua estrada de tijolos amarelos que a leve a seu jardim de plástico cheio conforto e bem estar, nesta sua bolha podre de cegueira e ilusão,distante da total realidade mundana...
Somos filhos da evolução e seus defeitos, da fome e seu tormento,
a vontade patética de ser alguém, e sem nem mesmo sabermos quem somos, condenados a amar sem conhecer esse sentimento, a ter uma piedade de brinquedo que não vale muita coisa; sem termos pena de nós mesmos, mesmo quando erramos constantemente...
Uma folha seca no jardim as vezes tem mais conteúdo que alguns, pois seguiu seu ciclo despencou até a terra e para ela voltou em silêncio,
um ser inanimado por natureza; enquanto alguns se tornam inanimados
por falta de oportunudades, ou por não saber lidar com a agonia dos demais...
A lua cheia vem com sua graça e nos faz assim, um ser que revive conceitos, sentidos, sensações, partículas de vida, sofrimento e emoções,
em um turbilhão de loucuras sóbrias e entorpecimento de razões loucas, nesse tabuleiro da vida em devaneios, sombras e poesias...


W. R. C.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Enegrecido Luar




Enegrecido Luar


Os sentimentos estão subindo com o luar,
Que explode em toda sua magnitude,
E meus pensamentos se acumulam lentamente
Em um redemoinho de paixões escondidas;
É lua cheia, os corações ficam a esperar,
Cheios de vontades que não se cumpriram;
Não há um dia se quer em que a saudade nos visita
E escreve uma linha numa página amarga de lembrnças...
É lua negra, passos que seguem adiante,
Pelos corredores solitários da vida,
Um turbilhão de imagens, de sentidos,
Eles gritam e meu sangue corre frio,
Sem o calor de seu corpo, sem você,
Sem saber quando, sem saber...
Meu coração bate lentamente,
Quase para, e eu paro no tempo,
Sempre a recordar, querendo reviver,
Meus olhos não veem além do horizonte,
Meu corpo não sente mais aquelas noites,
Quando você tocava doces melodias para mim,
Apenas com sua presença e eu entoava poemas de amor
Com boca de papéis amarelados...
Oh não, nunca houve trevas tão escuras,
Como o agora e seu arrastar tortuoso,
Nunca se ouviu um silêncio tão medonho
Que ecoa em minhas entranhas,
E um vento tão gélido e cortante,
Que banha minha face pálida em noite de lua cheia.
Nenhuma luz, e sem ter para onde correr,
Não consigo encontrar o caminho que me leve até você,
Nenhuma chama para iluminar a estrada,
Me perdi e distanciei sem querer.
Meu espírito está chorando por um amor,
Min'alma vaga por entre sombras e espinhos,
Em um jardim cinzento e sem vida,
Tão cansado de estar sozinho,
Só com a companhia do luar.
Eu vejo este luar enegrecido subindo,
Em direção ao imenso céu,
Eu grito o mais alto que posso em sua direção,
E ela está chamando meu nome,
Este luar que tanto me trás recordações...
Fui cegado, perdido e confundido,
Despenquei em meus erros e perdi tudo;
Fui banido para fora do círculo dos amantes,
Pois o que tanto amei escorreu por meus dedos
E ainda não sei como encontra-la novamente...
O vento nunca levou o meu chamado,
Nunca me levou até os seus sonhos,
O céu não é meu amigo,
O luar sempre foi testemunha de meu amor,
Nenhum anjo jamais bateu em minha porta.
Estou parado no lado negro do tempo,
Onde vejo o ontem se distanciar do hoje,
Tentando alcançar o poder de sua mão,
E segurar por mais um instante aquele sentimento,
Aquele momento precioso, aquele fogo que queimara...
O luar brilha forte no céu,
Ela está tecendo uma luz de nostalgia,
Que rasga minh'alma e dilacera meu peito,
Repleto de saudade e pesar...
Eu vejo o enegrecido luar subindo,
E ele me causa muita dor,
Quando nele ainda vejo seus olhos;
Ele é testemunha de várias lágrimas,
Por muitos séculos também foi guia
De tempos memoráveis e também de amor.
Esta noite olhe para o céu
E veja no brilho da lua cheia
Que estou a te observar...


W. R. C


quarta-feira, 13 de julho de 2011

Dia Internacional do Rock




O Dia Mundial do Rock foi instituído em 1985, quando foi realizado o festival “Live Aid”, que arrecadou fundos para as vítimas da fome na Etiópia. Organizado pelo músico Bob Geldof, o festival aconteceu na Inglaterra e nos Estados Unidos.Entre as atrações do festival estavam: BB King, Phil Collins, Dire Straits, Queen, David Bowie, Black Sabbath e U2.
Além dos fundos arrecadados, o concerto também produziu a música “Do They Know It’s Christmas Time at All”, que reunia cantores do pop inglês dos anos 80, como Sting, Boy George e Simon LeBon (do Duran Duran).
Em 2005,o festival recebeu o nome de “Live 8” e aconteceu nos países integrantes do G-8 e na África do Sul. O festival pedia para que os países credores perdoassem a dívida dos países africanos afetados pela fome.
Entre os artistas que participaram do festival em 2005 estavam: REM, Paul McCartney, Pink Floyd, Coldplay, Elton John e Bon Jovi.


Em um canto escuro





Em um canto escuro


Manhã: aqui estou eu sozinho,
Entre os livros que dizem tanto,
E uma alma que tem tanto a dizer:
Perdido entre as eras, o ontem e o hoje,
O anoitecer de vários sentimentos,
O escurecer de uma única paixão;
Meus olhos turvos veem saudade,
Minha mente virou pedra,
E despenca ladeira abaixo;
Minha voz ecoa distante,
Lamentando o que nunca disse;
Meus pensamentos agonizam em dor
Dilacerados por escolhas frustradas
E meu coração se encheu de gelo,
Uma pedra branca e fria presa em desejos e vontades,
Para escapar, ele está se partindo em dois
Consumindo sentimentos, espalhando sonhos perdidos.
Pássaro de olhos vermelhos parado na janela,
Obrigado meu querido e velho amigo,
Mas você não pode ajudar,
Este é o fim de uma história mal contada,
Que já começou póstuma, se enterrando devagar,
Entre os dias que passam sem se despedir,
E as memórias que vão adormecendo...
Eu não terei sono esta noite,
Eu não terei fome este dia,
Não me afundarei mais uma vez em meus pesadelos...
Em meu coração, em minha alma,
Enclausurado se encontra aquele sentimento,
Com portas fechadas, em um canto escuro,
Eu realmente odeio pagar este preço,
Essas moedas de lados vazios,
Esses sonhos de cores opacas,
Essas procuras sem fundamento,
E portas trancadas por correntes;
Eu deveria ser forte e corajoso
Travar cada batalha, secar o sangue e as lágrimas,
Mas a única coisa que sinto é dor...
Está tudo bem, ficaremos bem,
Assim como tem que ser,
Assim como a fina chuva cai,
Trazendo segredos do outro lado da página,
Confiando em minha confiança,
Alimentado por distorcida esperança
E o pão amargo de cada manhã solitária.
E digamos está tudo bem;
Vamos seguir nossos caminhos,
Eu não passarei a noite sozinho
E nem você também...
Agora me encontro aqui
Com meu coração, com minha alma,
Pedaços arrancados de minha carne,
Alguns ainda choram... Nós... Comprados e vendidos...
Em uma esquina exposto aos sentimentos,
A mercê dos desejos e vontades,
E corações a serem lapidados;
Aqui estou eu, desesperado em meio a tantos erros,
Distante dos acertos e suas portas,
Afogando em lamentos mudos e soluços
Em um canto escuro em total silêncio.


W. R. C.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Victor Hugo





Victor Marie Hugo
França: 1802 // 1885
Poeta, Escritor, Dramaturgo, Político


Devaneios Reveladores

Na verdade, se nos fosse dado penetrar com os olhos da carne na consciência dos outros, julgaríamos com mais segurança um homem pelo que devaneia do que pelo que pensa. O pensamento é dominado pela vontade, o devaneio não. O devaneio, que é absolutamente espontâneo, toma e conserva, mesmo no gigantesco e no ideal, a figura do nosso espírito. Não há coisa que mais directa e profundamente saia da nossa alma do que as nossas aspirações irreflectidas e desmesuradas para os esplendores do destino. Nestas aspirações é que se pode descobrir o verdadeiro carácter de cada homem, melhor do que nas ideias compostas, coordenadas e discutidas. As nossas quimeras são o que melhor nos parece. Cada qual devaneia o incógnito e o impossível, conforme a sua natureza.


Victor Hugo, in 'Os Miseráveis'

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Lágrimas





Lágrimas



Quando suas lágrimas se juntam com as minhas
Escorrendo por meus lençóis, banhando meu peito nu,
Sinto uma dor aguda e profunda,
Não é fácil ter o coração dividido ao meio,
Não é fácil ocultar tristezas.

Quando as lágrimas inundam e transbordam em meu leito,
Afogando sentimentos, massacrando a paixão,
Sinto que o tempo nunca é suficiente
E as escolhas se tornam um fardo pesado.

Quando lágrimas são o alimento d'alma,
Que faminta e confusa se perde no meio do labirinto,
Procurando saidas ou apenas respostas,
Tudo ao redor se escurece
O sol perde seu brilho em pleno meio dia...

Quando lágrimas formam um rio profundo
Dividido em uma bifurcação sombria,
O ar me falta aos pulmões, o coração quase para,
E eu não sei qual caminho seguir.

Quando as lágrimas chegam ao topo dos telhados,
Saindo pelas janelas e portas, gritando por nomes diversos,
Meus olhos perdem a visão por alguns instantes,
Meu chão perde a firmeza e eu afundo.

Quando as lágrimas não tem mais fim,
E a mente atormentada perde o controle,
Fico entre duas portas vermelhas,
Sem saber qual devo abrir e qual devo fechar.

Quando as lágrimas chegarem ao fim,
E formam um oceano de incertezas,
Não saberei mais onde estou,
Não saberei mais o que devo fazer,
Não saberei quais palavras devo dizer.




W. R. C.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Não sei





Não sei



Pedras caem e uma por uma me enterram,
O passado é tão presente, tão latente,
Grita em meus ouvidos, corre por meu corpo,
Feridas abertas, dor em carne viva,
O sangue ainda está quente e escorre devagar...
A estrela mais brilhante do céu é o agora,
Sua luz me conforta e me aquece,
Quando em silencio me encontro
E permito que meus pensamentos fluam;
Mais o ontem a constelação perdida ainda existe,
Sua luz levará séculos para se extinguir,
Seus ecos perpetuos e sentimentos flutuantes.
Em meu jardim uma folha seca caiu,
De um lado palavras escritas,
Do outro um vazio desconhecido
Que corrói minh'alma pouco a pouco;
Tudo que tento dizer perdem o som,
Perde as cores, pois já perdi a conta
De quantos sonhos cinzentos convivi,
Sem nada palpável em minhas mãos,
Em meus braços, e meus lábios ainda sozinhos;
Sentimentos borbulham em minha mente,
Meu corpo tem a febre que causa o amor,
E ainda existem portas fechadas.
Quando o sol nasce viramos outra página,
No decorrer das linhas distorcidas
Tudo pode acontecer,
O escurecimento do dia por nuvens cinzentas,
Tempestades frias de suor e lágrimas.
É quando paramos...
Quando pensamos...
Quando vamos nos mover...
Os fatos ferem com força a alma
Que se encontra perdida,
Que quer ser, e fazer feliz,
Sem que destrua velhos altares,
E novos pilares.
Do alto de meus sonhos escuros,
Planando sob o abismo bifurcado,
Não vejo cores lá embaixo,
Não tenho tempo suficiente,
Não consigo lhe mostrar tudo que quero,
Não sei se o chão é sólido,
Não sei onde pousar.



W. R. C.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Fragmentos de amores






Fragmentos de amores

Já passa das nove horas, o capítulo está aberto,
E as páginas estão viradas,
Do avesso, ao contrário,
Folha por folha vão se escrevendo,
Sentimentos, sentidos, sensações,
Vontades, desejos, procura,
As escrituras dizem muitas coisas,
Suas linhas são fragmentos de vida,
Suspiro de amor, pedaço de saudade;
O tempo guarda toda as respostas,
Em caixas de amanhãs escondidas,
E faz todas as perguntas
Com boca de minutos e segundos.
Mas quem for inquieto, impaciente,
Quem não souber esperar o seu tempo,
Para onde podemos correr agora,
Quando iremos aprender?
Quando está perdido, se foi pra sempre,
Se perde entre a poeira dos dias que se vão,
Ou ainda pode ter um novo recomeço?
Por anos nos dizem o que devemos fazer,
As sementes de sonhos que devemos plantar,
Tentam moldar mentes, destruir ideais,
A que lugares ir e com quem devemos falar.
Mas isso não importa mais,
Quando aprendemos a caminhar,
Em meio a flores e espinhos, pedras e agulhas,
Mesmo quando ainda se cai muito,
E rola pela lama de decisões precipitadas
Ou oportunidades que evaporam,
Amores que somem com o vento de um novo dia.
Já que descobrimos a verdade,
Já que mergulhamos profundamente,
Poderiamos entender cada por do sol,
Cada manhã de frio intenso
Quando depois de certos sonhos choramos,
E isso seria bom para nós...
O mundo está mudando, mudando para sempre,
Se tornando opaco e frio,
Sofrendo para sempre, sentindo a cada instante,
Pelo amor da vida, pelo amor simplesmente,
O quanto o amor vai morrendo dia após dia;
E você está errado se pensa,
Que eu tenho medo do amor,
Medo de amar; apenas não conheço seus segredos,
O cheiro de seus mistérios, e como compartilha-lo
Sem que ele escorra por meus dedos.
Eu imagino se não parece estranho para você;
Como os feitiços viraram contra mim e contra você,
Como podemos ver as horas evaporarem
Levando sentimentos embora?
Quanto tempo podemos continuar vivendo
Entre fragmentos de amores e sonhos eternos?
Fagulhas faladas, partículas de sentidos,
Desejos e sensações derramadas,
O veneno dos sentimentos engarrafados,
Espera sem fim e o nada?...


W. R. C.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Epicteto





Epicteto
Roma Antiga: 55 // 135
Filósofo


As Nossas Dependências

Coisas há que dependem de nós - e outras há que de nós não dependem. O que depende de nós são os nossos juízos, as nossas tendências, os nossos desejos, as nossas aversões: numa palavra, todos os actos e obras do nosso foro íntimo. O que de nós não depende é o nosso corpo, a riqueza, a celebridade, o poder; enfim, todas as obras e actos que de maneira nenhuma nos constituem.
As coisas que dependem de nós são por natureza livres, sem impedimento, isentas de obstáculos; e as que de nós não dependem são inconsistentes, servis, susceptíveis de impedimento, estranhas.
Tem em mente, portanto, o seguinte: se avalias livre o que por natureza é servil, e julgas decente para ti o que te é estranho, sentir-te-ás embaraçado, aflito, inquieto - e em breve culparás os Deuses e os homens. Mas se crês teu o que unicamente é teu, e por estranho o que efectivamente estranho te é, então niguém te poderá constranger, nem tão pouco causar embaraços; não atacarás ninguém, a ninguém acusarás, nada farás contra a tua vontade; prejudicar-te, ninguém te prejudicará; e não terás um só inimigo - e prova disso é sobre ti a ausência de qualquer dano.

Ponderar as Dificuldades

Face a qualquer acção, pondera os antecedentes e as consequências, e só depois, mas só depois!, começa a executá-la. Caso não procedas assim, grande será o teu ânimo no começo, dado que não cuidaste das dificuldades que a seguir se apresentam. Tempo depois, quando essas dificuldades, uma a uma, se apresentarem, abandonarás a tua tarefa de maneira vergonhosa.


Epicteto, in 'Manual'

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Diante do Espelho





Diante do espelho



Olhos obscuros, repletos de tristeza e agonia,
Face pálida que mais uma vez grita calada e estremece
Diante de sentimentos que lentamente se escurecem
No decorrer frio e mórbido, na dor profunda de cada dia.

Outrora existiu, uma pequena fagulha de alegria,
Que mesmo a memória, de saudade chora e esquece,
Despencando em queda livre, ao inferno rápido se desce,
Pensamentos se acumulam em uma estranha gritaria.

Reflexos d'alma, gritos que ecoam, pedaços de mim,
Cacos de vida que se formam lentamente,
Fagulhas pingadas, sonhos decadentes
Evaporando-se pelo cosmo, vontades sem fim.

Porque desta imagem distorcida assim?
Disforme rosto, dor que no peito se sente,
Lágrima salgada, lágrima quente,
Fluido vital que escorre de mim...

Diante do espelho, tento enxergar o futuro: é tão vazio,
Me perco como uma criança em um lugar desconhecido
Calada a observar as pessoas ao redor, sentindo a chuva e o frio,

Quero voltar ao ventre materno como antes de ter nascido,
Quero abrir novas portas sem que sinta este medonho arrepio,
E diante do espelho, no silêncio que se faz, este é meu único pedido.



W. R. C.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Anjo Caído II







Anjo caído II


Mais uma vez diante de seus olhos,
Veja meu rosto no sol da manhã,
O fogo em minha face, a dor em meus ossos,
Meu corpo em constante mutação;
Escute minha voz enquanto o vento
Passa por você, implorando perdão,
Silenciosamente, sussurrando piedade,
Querendo voltar ao que era antes,
Pedindo novamente minhas asas.
Tantas coisas que quis dizer,
Para sempre não contadas,
Guardadas no intimo de meu ser,
Escritas de forma profana
Em pergaminhos escurecidos,
Profecias sobre cada um de nós...
Eu ainda me lembro
Das lágrimas que derramei
Sobre outra pessoa,
Em solo firme, em noites de neon;
Depois da queda,
Cantadas aos quatro cantos
Em quatro estações e vários sentimentos;
Nosso amor nunca poderia morrer,
E também nunca viveu o suficiente,
Tudo que posso fazer é chorar,
As lágrimas de um anjo caido,
As dores de um amor não vivido,
Longe da luz do sol onde meus olhos em chamas
Não serão vistos por ninguém.
Guarde uma pequena oração para o caído,
Você a quem tanto amei,
Sussurros e sentimentos novos;
Há uma luz na rua da lembrança
E uma fagulha de paixão no fundo do peito,
Desaparecendo vagarosamente,
Em mim e em você,
Levadas por outros que ainda podem voar,
Enquanto este se encontra caído no chão
Ainda se agarrando aos sonhos destruídos...
Eu seguirei meu coração
E suas buscas incompreendidas
Em direção ao ultimo devaneio,
Ainda sozinho, perseguindo o sol,
Mas agora sem lágrimas nos olhos,
Buscando de um longo tempo atrás,
A sombra em meu coração
E vultos diante de mim;
Destruindo tudo aquilo que me devora,
E tanto grita em meus sonhos,
Reconstruindo o que ainda anseio tanto,
A volta para casa...
Eu vi seu rosto no sol da manhã,
Eu gritei o mais alto que pode,
Implorei piedade, estendi minhas mãos ao alto,
E enquanto o sol queimava meu rosto
Eu achei que você estivesse lá...


W. R. C.