sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Quero



Quero


Enxergar com clareza tudo ao meu redor,
Livre de cada tormento, de cada culpa,
Vislumbrar cada linha, cada página,
Dessa vida que se escreve, que se transforma...
Essa névoa que surge do horizonte ofuscando meus olhos,
Trazendo vultos disformes que se contorcem devagar,
É a mesma que leva embora cada rosto, cada voz,
Sussurros que inundam meus ouvidos,
Vontades das quais me afogo,
Um querer que me atormenta,
Esses dias que não me ajudam,
Essas horas que me condenam,
Sonho em preto e branco...

Hoje o sorriso se escondeu de mim,
As lágrimas venceram esta batalha,
Inimigos que surgem de todos o lados,
Soldados empunhando laminas afiadas
Guerreiros invisíveis que atacam os sentidos
Dilacerando as lembranças, desmembrando a paz;
Escute esse som, são as doze badaladas,
Único ruído em meio à esse silêncio medonho.
Sinta o cheiro das flores que pairam no ar,
E o tempo se enfeitando novamente,
São como as prostitutas do por do sol
Anunciando mais um banquete,
Em tons de vontades, solidão e saudade.
Fumaça que sobe aos céus...
Pensamentos entrelaçados...
Ideologias... Culturas... Conceitos...
Mais um gole de vinho...
Mais uma noite que vem...

O céu que muda de cor levando seu asttro dourado,
Marcando mais um entardecer em cor de cobre,
E cada gota de sentido que inundam os sentimentos;
Pássaros solitários, cantos melancólicos,
Vento que faz estremecer a alma...
Sinto o peso de minhas pálpebras cansadas,
Escuto os batimentos de um outro coração,
Distante, e eu querendo que estivesse aqui;
Sinto a dor que bombardeia meus sentimentos.
Quero o silêncio e a escuridão,
Sombras que habitam minha mente,
Maremoto de ideais... Dormência... Paixão...
Quero um instante a sós comigo mesmo,
Fuga do labirinto... Embriagues... Amor...
Quero...

W. R. C.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Luzes Apagadas



Luzes Apagadas

Apague a luz, e se pergunte:
O que são regras sem leis?
Regras sem exceções duram eternamente,
Vem e vão no decorrer dos dias,
Todo movimento que você faz cria seu destino,
Toda porta que se abre um novo cenário?
Eu vim encharcar minha aflição no halo negro
De meus sentimentos que me torturam,
Afunda-la na lama escura e densa
De minh' alma que escurece
Tão turva quanto o selo em meu coração.
Pois quando as luzes estão apagadas,
E o silêncio ecoa pelos cantos sobrios,
Os olhos veem coisas que o coração sente,
A mente cria realidades que já estão póstumas;
Não há mais nada a dizer, fazer, pedir,
O amor é a dor de verdade, espada afiada,
Que corta o presente, pois sangrou no passado,
Uma revolução interna em nossas mentes,
Um redemoinho feroz em nosso peito,
Um bombardeio externo em nossos corpos;
E quando as luzes estão apagadas,
E o frio toma conta do lugar,
Um vazio tremendo consome nossos sonhos...
Você está tão longe, parece que esteve aqui ontem...
No silêncio das trevas, nós nos unimos,
Mais uma vez em pensamentos profundos,
Entre beijos de lembranças e abraços sem calor,
Cada fagulha pingada que ainda sobrou,
Entre vontades inacabadas e portas fechadas.
O que poderá me proteger do passado
E de todas as coisas que eu fiz?
Ela me disse e depois partiu,
Em outo sonho de cores opacas...
Mas quando as luzes estão apagadas,
Não há mais nada a dizer;
Pois o que foi dito vai se distanciando
Profundamente nas sombras,
Eternamente em pensamentos,
Onde a última das minhas ilusões
Tomou uma posição.
Pois quando as luzes estão apagadas,
Ela me levará embora,
Para distante da realidade que me atormenta,
As sombras, as trevas, a névoa,
Também irão me levar
Para longe do homens e suas guerras,
Do amor e suas armadilhas,
Dos sonhos e seus labirintos.
Diga-me o nome verdadeiro dela,
Essa tal felicidade, tão sorrateira,
Diga-me porque não posso desvendar seus mistérios,
E na morte de cada hora que se foi
Viveremos o amor que nunca tivemos,
Que o tempo nunca nos permitiu,
Só precisamos de uma porta
Para darmos esse pulo...

W. R. C

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Dias Cinzentos



Dias Cinzentos

Nós temos visto a vida por olhos embaçados
Por lágrimas constantes que caem diariamente,
Imagens distorcidas até mesmo diante do espelho,
Quando recordações nos fazem estremecer;
Nós sabemos que precisamos aprender,
Jogar novas sementes, que um dia também foram jogadas,
Cuidar do que já germinou, e que hoje secou,
Mas ainda vive em nossa mente.

A corrida é iniciada e o livro é lido,
Página por página se constrói,
Muito vem a tona, nas asas do tempo,
O fim começa a mostrar que
A verdade está lá fora, gritando,
Os nomes e os rostos que não se veem mais,
As mentiras são velhas, mas ainda ferem,
Anciões perversos e impiedosos,
Carrascos saguinolentos do presente tortuoso,
Com armas mortíferas de milênios,
Cravadas no peito que ainda sente;
Mas nós não queremos saber,
Não conseguimos mais, não percebemos.

Ninguém jamais vai nos deixar saber,
Quando perguntamos as razões, o por quê?
Cada vontade que ainda grita alto?
Eles apenas dizem que tudo ficará bem,
Que amanhã a chuva irá irrigar a terra,
Enchem nossa cabeça de mentiras,
Nossos corações de ilusões
Se dissolvendo em culpa, em arrependimento,
Sonhando com o amanhecer que nunca chega...

Os portões da vida fecharam para nós,
Os jardins floridos secaram,
E agora não há nenhum retorno,
Pelo menos ainda não sabemos o caminho;
Você me vê por trás do espelho da dúvida,
E eu te vejo em meus sonhos nebulosos,
Nós desejamos que as mãos da destruição
Possam levar nossa mente embora,
Ou apagar os erros, para poder tentar novamente,
Ver o que talvez ainda possa florescer..

Agora não ligo se não ver novamente a luz do dia,
Se minha noite for eterna, e meus sonhos dolorosos,
Pois cada passo nosso leva a um lugar distinto;
Você conhece bem o seu caminho,
Sabe onde poderia se esconder da tempestade?
Pra onde podemos correr, o que mais podemos fazer?

Não há mais amanhã, a vida está nos matando,
Devorando os sentimentos dos homens,
Nós estamos matando a vida a cada dia,
Os sonhos viram pesadelos, o paraíso vira inferno,
Desiludido, confusão, dias cinzentos,
Tudo ao seu redor, o que virá,
Cães famintos devoradores de amor?

Nada mais a fazer, nada mais a dizer,
Apenas o que ainda bate aqui dentro
Vivendo apenas para morrer,
Matando o que insiste em viver,
Distante de minhas mãos,
Atrás do véu negro da saudade,
E os muros sólidos da distância,
Morrendo a cada gota de paixão pingada,
Morrendo apenas por você.

W. R. C.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Floresta do Silêncio



Floresta do silêncio


Hoje irei a floresta do silêncio,
E ouvirei os gritos mudos de minh'alma,
Gritos de agonia, de saudade,
Caminharei sozinho sobre a folhagem amarelada,
Procurando seu nome em pétalas de flores,
Procurando respostas em páginas
De folhas que estão no chão.

Minha cabeça nunca para,
Meu coração sempre a bombear sentimentos,
Meus olhos sempre te procuram no horizonte,
E eu não vejo, e eu me calo,
Sigo meus passos, meus arrependimentos...
O que sinto as vezes é mais forte do que eu,
Quando estou em silêncio,
Em meio a relva sinto o vento a banhar minha face,
Logo você surge majestosa em minha mente,
Vestida de cetim, um olhar sedutor,
Mas ainda distante de mim.

É tão bom este lugar que estou agora,
O som da natureza, embalando minhas lembranças,
Borboletas ao redor, só falta você;
Não poso me afundar em pensamentos agônicos,
Não agora, não aqui,
Se não irei muito longe,
E não lhe encontrarei,
Não terei você diante de mim,
E em meus braços...
Pois quando tive, ocultei fatos, camuflei atos,
Mais senti o que senti verdadeiramente...

O sol me faz compania,
Que venha mais um sentimento,
Mais uma vez você em meus pensamentos,
Em meu coração...
Tenho vontades que dilaceram meus sentidos,
Sinto saudade que grita em minha carne,
Só o silêncio me compreende, me conforta,
Quando em meio à devaneios me afogo,
E afundo em pesar e lastimas.

Busco no céu, em poeira de estrelas,
O segredo que me traga você,
Que me faça entender,
Que me deixe mais próximo,
A verdade está muda, distante,
Meus olhos não podem ver os seus,
Meu corpo não tem o seu,
Min'alma caminha sozinha,
Pois os que estão do meu lado são invisíveis.

Neste instante é forte o que sinto,
Os gritos de minh'alma ecoam
E vão em direção ao firmamento,
Girando de formas estranhas,
Trazendo coisas de dias que se foram,
E o que quero é sempre o mesmo,
Tudo que não pude conter em meus braços,
Tudo que deixei evaporar diante de mim,
Tudo que um dia foi e hoje não é mais;
Pois não tive o domínio
Nem as sementes desses sonhos;
E agora me encontro aqui,
Na floresta do silêncio...


W. R. C.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

H. P. Lovecraft



O Jardim


Existe um jardim antigo com o qual às vezes sonho,
sobre o qual o sol de maio despeja um brilho tristonho;
onde as flores mais vistosas perderam a cor, secaram;
e as paredes e as colunas são idéias que passaram.

Crescem heras de entre as fendas, e o matagal desgrenhado
sufoca a pérgula, e o tanque foi pelo musgo tomado.
Pelas áleas silenciosas vê-se a erva esparsa brotar,
e o odor mofado de coisas mortas se derrama no ar.

Não há nenhuma criatura viva no espaço ao redor,
e entre a quietude das cercas não se ouve qualquer rumor.
E, enquanto ando, observo, escuto, uma ânsia às vezes me invade
de saber quando é que vi tal jardim numa outra idade.

A visão de dias idos em mim ressurge e demora,
quando olho as cenas cinzentas que sinto ter visto outrora.
E, de tristeza, estremeço ao ver que essas flores são
minhas esperanças murchas – e o jardim, meu coração.

H. P. Lovecraft

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Deserto



Deserto

No deserto silencioso me encontro agora ,
O horizonte vazio leva meus pensamentos,
Em sombras constantes e sussurros perdidos,
Realidade distorcida... vontade do amanhã...
No deserto silencioso agora espero,
Como árvore retorcida a murmurar
Palavras que ainda não disse,
Compreenção... Paciência...
Essa sede que sinto não é comum,
Rasga minhas entranhas quando afogo em desejos,
Meus pensamentos em desordem,
Travam uma batalha em meu peito,
Dilacerando minha carne convulsiva;
Meu coração em desespero só chama por um nome,
E minha alma treme de frio sob o sol.
Vou dizer baixinho tudo que você quiser saber,
Com voz aveludada cada sonho meu,
Que um dia tentou se encaixar ao seu;
Mergulhar no fundo de seus olhos,
Nas profundezas de sua alma,
Vou dizer o que existe por traz do manto negro que nos separa,
Dos sonhos cinzentos que ainda me guiam,
Cada vulto que vejo passar diante de mim,
Quando meus olhos turvos buscam te ver...
O que podemos fazer com o tempo que temos na mão?
Vamos voar sem medo no imenso céu,
Vamos juntos ver os tesouros que tem a estrela mais brilhante,
Desvendar cada segredo por trás da nebulosa reluzente,
Que escreve páginas que não podem mais ser apagadas,
Acredite o que sinto não são sentimentos de plástico,
É rocha sólida, diamante bruto,
Pedaços que se desprendem de meu ser,
E que flutuam entre o tempo e o espaço,
E tudo o que está por vir.
O que você vê em meus olhos quando tento lhe dizer,
Quando eles brilham como fogo em sonhos escuros?
O mundo não é mais o mesmo para mim,
Como não é mais o mesmo aqui,
Neste deserto de pensamentos e sentidos...
O que você vê? quando ainda habito seus sonhos,
Quando você habita os meus? Você quer ver algo?

W. R. C.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Ilusão


Ilusão


Eu te vi em um sonho em meio névoa e flores,
Segurando o tempo em suas mãos;
O mesmo sorriso, o mesmo perfume,
E me atingiu feito uma luz brilhante,
Sensações ressurgidas, desejosos recriados,
Seu olhar e seu sorriso brilhando em uma tela,
Diante de mim e de minhas vontades,
Fazendo malabarismo com meu coração;
Visões de minha noite inteira,
Névoa de meus sonhos cinzentos,
De nossos momentos juntos.

Eu costumava perseguir o instante do desejo,
Cada fagulha que borbulhava em mim,
Cada sensação, cada toque, tudo,
Correndo por minhas veias a todo instante
Que minhas noites inquietas me traziam,
Nas asas de meus devaneios,
Girando em espiral, movendo-se lentamente,
De volta quando meu coração queimava em fogo,
E minh'alma ardia como brasa.

Foi apenas ilusão, nada mais que uma grande ilusão,
Momento passageiro de uma noite onírica,
Em meus lençóis vermelhos e solitários,
O coração foi mais rápido que o olho,
A mão não pode conter seu corpo,
A vontade não se saciou,
Nada mais que uma grande ilusão,
Diante de mim... Diante de mim...
Mais uma vez enganando minha mente.

Eu a segurei em meus braços,
Senti por mais uma vez seu calor,
E o doce de seus lábios,
Até o outro lado da meia-noite,
Te mantive em minha mente,
Nesses campos floridos destas horas,
Onde o tempo não faz sentido,
Você passou comigo algumas longas noites,
Parada no limiar do desejo,
Perfeita semelhança do ontem
Presa entre a loucura e o fogo que nos incendiava.

Foi tudo uma grande ilusão,
Sentimentos e sentidos que habitam meu ser,
Correm por meu corpo, residem em meu peito,
Misturam-se em minhas noites e morrem em mimnh'alma...
Fragmento de momentos, o que não teve fim,
Pedaços quebrados de sentimentos que ainda vivem em mim;
Páginas que tentamos escrever,
Das quais nem sempre tem um final feliz...
Foi apenas uma grande ilusão,
Transitando em minha própria mente.

W. R. C.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Sombra...


Sombra...


A vida corre,segue seu curso,
Assim como o sangue corre em nossas veias,
E no labirinto de nossas decisões e escolhas,
Lutamos para decidir...
Para construir, modificar...
Sendo sincero!... Sendo paciente....
Um pouco agitados, incoerentes...
Tentando ser o que nós custamos ser...
Um pouco de nós mesmos...
Perdido em nós mesmos...
Querendo se encontrar...
Um pequeno grão nessa imensidão...
Sentindo... Sonhando...
Fluindo... Vivendo...
Apenas aquilo que na verdade nem percebemos,
Mas... Se torna real...
Toda forma de vida tem o seu brilho...
Tem sua luz... Tem sua treva...
E nossas almas famintas e sedentas,
Esbravejam a verdade que não se quer ouvir,
Mas se quer sentir a todo momento!...
Desnorteando a realidade,
Disfarçando a dor,
Ocultando a saudade,
Correndo ataras do tempo,
Vivendo sem ter noção,
Sem saber as vezes o que é certo ou não...
O que é o agora, o que foi o ontem,
E o amanhã, vamos conseguir?...
Vejo a noite que cai,
Que se vai, e o dia que vem;
Vejo um homem que cai,
Diante de seus sonhos, seus desejos
E tudo o que tenta construir...
A esperança...
Germe da caixa...
Pandora...
Onde você está ?
Cada um de nós está sozinho,
Ouvindo a música de nossas vidas,
Sentindo o som de nossos corações
Ressoar na imensidão distante,
Mas sem perceber,
O quanto isso pode ser constante...
Passos vacilantes em meio à cruel realidade,
Fragmentos de vida...
Busca de um cenário...
Conforto...
Inevitável destino...
Loucura sóbria...
Presente gritante...
Vontade interminável...
O que é o agora,
O que é que tanto procuramos?
A sede de liberdade...
A loucura da paz...
Saborear os frutos do conhecimento...
O amor inatingível...
Seres insaciáveis...
Seres cruéis...
Partículas de algumas verdades...
E nada mais...
Nada mais...


W. R. C.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

José Saramago


José de Sousa Saramago
Portugal: Escritor

Que Humanidade é Esta?

Se o homem não for capaz de organizar a economia mundial de forma a satisfazer as necessidades de uma humanidade que está a morrer de fome e de tudo, que humanidade é esta? Nós, que enchemos a boca com a palavra humanidade, acho que ainda não chegámos a isso, não somos seres humanos. Talvez cheguemos um dia a sê-lo, mas não somos, falta-nos mesmo muito. Temos aí o espectáculo do mundo e é uma coisa arrepiante. Vivemos ao lado de tudo o que é negativo como se não tivesse qualquer importância, a banalização do horror, a banalização da violência, da morte, sobretudo se for a morte dos outros, claro. Tanto nos faz que esteja a morrer gente em Sarajevo, e também não devemos falar desta cidade, porque o mundo é um imenso Sarajevo. E enquanto a consciência das pessoas não despertar isto continuará igual. Porque muito do que se faz, faz-se para nos manter a todos na abulia, na carência de vontade, para diminuir a nossa capacidade de intervenção cívica.

José Saramago, in 'Canarias7 (1994)'

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Sentimentos a luz de velas


Sentimentos a Luz de Velas


Só mais uma instante, mais um motivo,
Um lapso de uma sensação que se foi,
Visões que vem e vão, o ontem aqui agora,
Cravado em meu peito,
Borbulhando em minh'alma;
Outra dúvida em minha mente
E nada em minhas mãos,
Sentimentos a luz de velas...

Beijando as lágrimas que se formam em meu rosto,
Enquanto elas caem ao chão em silêncio,
No crepúsculo e no tempo que evaporou,
Cada fagulha sentida, cada partícula vivida,
Espíritos frios, sem amor, pensando, sentindo,
Saudade, corrói, se espalha, destrói,
Os sinos repicam um carrilhão solitário,
O relógio desliza suas horas impiedosas,
A vela queima, derrete e escorre meu amor,
Com a cera quente de meus dias,
Sentimentos a luz de velas...

Estes sonhos iluminados não podem queimar sozinhos,
Estes sentidos embaralhados não sabem mais jogar;
Ventos de mudanças trazem canções a minha memória,
Um coração e uma alma vazia me intoxicam,
Esta página escurecida orquestra meu destino final;
Meus sonhos não me levam a lugar nenhum,
Meus pensamentos, minhas vontades,
Minhas buscas, meus desejos;
Não sabendo o que o amanhã trará
De dentro dos olhos espelhados,
Sentimentos a luz de velas...

Eu não sei mais o que pensar,
Eu me arrasto às profundezas de mim mesmo
E deixo minha cegueira através de passagens no tempo,
Onde estive, onde não estarei mais;
Um prisioneiro trancado atrás da porta,
Rosas solitárias murcham lentamente e morrem,
Canções silenciosas cantam minhas dores,
Sentimentos a luz de velas...

Não consigo fugir desta miséria cativa,
Que me dilacera o peito quando arde em amor,
Não posso respirar quando as velas palpitam
Ressoando o som de meu coração;
E quando percebo que sozinho estou, não entendo,
Coração frio como uma pedra jogado em um canto,
Paredes desprezíveis da vida me entrelaçaram,
Preso eternamente em minhas linhas futuras,
Onde tento encontrar as notas perfeitas,
Transcendendo a ausência desta melancolia,
Sentimentos a luz de velas...

Apenas outra visão, levada pela maré,
Em direção ao desconhecido e medonho amanhã,
Portas diante de mim, vozes que ecoam;
Não sei onde estaremos, nem se estaremos,
Nenhum lugar para os esquecidos,
Nenhum por do sol para os desolados,
Eu não quero esquecer, e não vou,
Sentimentos a luz de velas...

W. R. C.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Outro Luar


Outro luar


Deixo meus pensamentos subirem aos céus
Com o vento que sopra para o sul,
Cada pedaço meu, cada sussurro,
Em direção ao astro lunar,
Quando no esplendor de seu brilho dourado
Vier me chamar, vier me ouvir;
Então direi aos vultos da meia noite:
_Não turvem mais meus olhos,
Não perturbem mais meus sonhos,
Não silencie minha voz!
E o brilho da lua cheia
Levará meu pedido...

Quando o luar cumprir seu papel,
Horas que giram, música que ecoa...
São as doze badaladas, o corte que cicatriza,
Pedras no final da estrada
Que logo serão jogadas para trás...
São os pé tão apressados,
Caminho a seguir, uma porta que se abre,
Lágrimas que secam, soluços abafados...
Quando o luar cumprir sua promeça
Voltarei ao meu caminho...

A magia do luar, o calor das paixões,
Pensamentos que se formam no livro sagrado,
Vontades que se mesclam à saudade,
Sentidos que se perdem no passado,
Linhas que se escrevem no persente,
Rostos que desaparecem em sonhos cinzentos.
Outro luar, outra oportunidade,
O começo de uma nova visão,
A visão de um novo começo...

Se espalham e chegam ao firmamento,
Com o sopro dos anjos escondidos,
Cada procura, cada vontade,
E todas as paginas perdidas no tempo,
Sopradas pelo vento da nostalgia,
Com brilho da lua cheia
E melodias que ecoam distantes...

É outro luar, um novo querer,
Um novo sonhar, caminho em sua direção
Sem medo, despido de mim mesmo,
Faminto, sedento, silencioso;
Sem olhar para trás,
Sempre em direção a outro luar...


W. R. C.

domingo, 11 de setembro de 2011

Mario Quintana




OS POEMAS

Os poemas são pássaros que chegam
Não se sabe de onde e pousam
No livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
Como de um alçapão.
Eles não têm pouso
Nem porto;
Alimentam-se um instante em cada
Par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
No maravilhado espanto de saberes
Que o alimento deles já estava em ti...

Mario Quintana - Esconderijos do Tempo

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Linhas Férreas



Linhas Férreas


Venha comigo, vamos seguir as linhas férreas,
Em direção à ultima estação que deixamos passar,
Vamos, não precisa de bagagem, é só nós,
Em busca de sonhos semeados
E desejos que rapidamente florescem,
Com nossos sentidos ressurgidos,
Nossa paixão renascida e o tempo sem fim,
Ergueremos nossos muros caidos,
Daremos cores ao nosso jardim desbotado
E um novo capitulo a nossa história...


Aqui no alto da colina, contemplando o silêncio
E tudo que minha visão pode ver,
Ainda esperando o céu se abrir
E o vento soprar novidades,
Assim como as janelas de minh'alma
Abertas esperam contemplar
Os frutos e as flores,
O substrato de todos os sentidos,
A razão para todos os amores;
Para que possa ver com clareza
Toda estrada nova que irá se iniciar,
E fugir de seus espinhos e pedras,
Planar sorrateiro em meus pensamentos,
E construir uma ponte que me leve além,
Do outro lado, onde o solo realmente é fértil
E novidades brotam dos atos construidos.

Não espere mais nem um segundo,
Vomos ver onde estas linhas irão nos levar,
Em sua serpente de madeira e aço
Pelas quatro estações da vida,
Pelos quatro cantos do globo,
Entre flores e folhagem,
Na relva dos sentidos,
Onde ecoa cada vontade
Que brotam dos sonhos e desejos escondidos;
A luz brilhante de cada manhã,
Depois da estação dos sonhos e memórias,
Onde só estávamos eu e você...

Venha comigo, não tenha pressa,
Vamos no último vagão
Observando a paisagem
E um ao outro mais uma vez...
E enquanto seguimos adiante
Sem olhar para trás,
Em direção ao amanhecer dourado
E suas novidades diversas,
Devaneios que brotam das sementes das lembranças
Semeadas no solo cinzento das vontades
E colhidas nas árvores do presente...
A velha estação nos espera,
Vamos seguir as linhas férreas...


W. R. C.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Encerramento


Encerramento


Andando pelos bosques desconhecidos,
Pisando em folhas mortas e flores secas,
Onde os anjos caíam adormecidos,
Cansados dos homens e suas causas;
Onde o sol do meio dia arde em chamas,
E os passaros permaneciam em silêncio;
Mas meus passos foram firmes e fortes,
Foram direto ao meu destino,
Visões de um amanhã
Como elas eram na luz do dia...

E como serão, Como serão,
Também durante as noites chuvosas,
Noites sem lua e de sonhos escurecidos?
Eu mantive meus olhos fixos na escuridão,
Entre sombras no escuro e vultos na madrugada,
Para assustar as feras que cruzavam meu caminho
E demônios que voam diante de meus olhos.
Entre os corredores entrelaçados deste labirinto,
Cada curva, cada beco sem saida,
Lá nunca haverá uma estrada sinuosa,
Cheia de rostos fantasmas
Que impeça minha busca e encerre minhas preces,
Mesmo quando pedras ainda caem.

Eu sei até o dia do julgamento,
Julgamento de minhas ideias,
Quando não mais teremos que esperar,
Quando todos os mares secarem,
Quando o amor derramar sua última gota de sangue
Em memória aos dias que se findam;
Nunca existirá outro alguém
Que seja igual, com olhos assim;
Uma folha levada pelo vento,
Um lamento soprado no tempo,
Um grito que ecoa pelo ar...

Eu vi o inferno e o paraíso,
Anjos e demônios em uma batalha feroz,
Eu vi a besta e ouvi suas mentiras,
Seu pomar de maçãs sedutoras,
Eu vi o amor e suas armadilhas sangrentas,
Eu ouvi as sereias cantarem suas canções,
Eu me perdi em sonhos e desejos,
Paixões, e o medo do fim;
Eu ainda não conheço meu caminho,
Nem as curvas que fazem o rio;
Eu ainda não sei qual corredor é o certo.

Eu perambulei como eu sempre fiz,
De um lado ao outro, sobre o sol e a chuva,
Uma esfera de escuridão me seguiu,
Uma sombra fria me acompanhou
E vultos ao entardecer...
Conforme eu vi uma luz clareante,
Que marcou o fim de toda minha jornada,
Um ultimo gole de vida;
E conforme eu entrei naquele lugar de luz,
Lentamente ia me acostumando,
Um pássaro apareceu diante de mim,
Com cores brilhantes e únicas;
Ele gorjeou claramente em meu ouvido,
Algo sombrio que só eu pude entender:
_"Seu objetivo é o silêncio,
Seu túmulo permanece aqui,
Onde suas palavras irão adormecer!"

Então eu me deito na grama,
Me cubro de flores e espinhos,
O vento banha meu corpo
Relaxo meus braços, meus pés, meu coração,
E minh'alma não mais irá chorar,
Os fardos de minha busca se foram,
As paixões de meus dias também...

Agora eu sei onde eu pertenço!
Agora eu sei meu caminho,
Onde pisar, onde ficar, qual é o meu lugar!
Você consegue ouvir a voz da verdade,
Ecoando dentro de seu peito,
O que realmente vale a pena acreditar,
E que irá subitamente se perder,
Consegue sentir o abismo da sua alma totalmente?
O encerramento de um ciclo,
E o inicio de outro!...

W. R. C.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

“ Poesia de Álvaro de Campos”


Na Fronteira Fausto-Campos



Se nada houvesse para além da morte,
Nada, e o que o espírito é pronto a querer
O que a imaginação em vão procura
Não fosse nada, nem o azulado das ondas
Nem a antecâmara da realidade
Não outra coisa que o oco dele próprio,
E vazio do ser implodindo
Éter da ininteligibilidade
Onde o erro da razão sobre montes e vagas
Sem nexo em existir sem leis flutua...

Quem sabe se o supremo e ermo mistério
Do universo não é ele existir
Com inteireza tal em existir
Que não tenha sentido nem razão
Nem mesmo uma existência, de tão única,
Concebível... Meu espírito, corrompe-se
Ao místico furor do pensamento ...
De horror sem dor...

Se o mundo inteiro, _ abismo em começo
Poço sem paredes, negro absurdo
Aberto noutro absurdo ainda mais negro _
Não tem possível interpretação
Nem intertemporalidade num futuro
Da razão, ou da alma, ou do universo
Ele-próprio.

Ah o acaso sobre os montes
Com que réstea de luz nos faz de longe
O gesto lento de nos abençoar...
E nem sombra, nem mesmo definida
Tristeza dói...

Ó sempre mesma dor do pensamento.



“ Poesia de Álvaro de Campos”


Fernando Pessoa

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Afogando em Pensamentos


Afogando em Pensamentos



Afogo-me em meus pensamentos diversos,
Que inundam os recantos de minh'alma.
O oceano escuro e agitado de minhas ideias
Me transporta à um lugar obscuro e vazio,
Lugar onde tento conhecer,
Lugar onde fico cada vez mais perdido,
Entre sombras e amanhecer,
O outro lado dos pensamentos pesarosos...
Escuto meus lamentos e gritos do passado,
Ecoando distorcidos no confuso presente,
Batendo em portas trancadas do distante futuro,
Sabendo que a única certeza da vida é a morte;
Sigo sem medo o decorrer de meus dias.
Observo aquele olhar sedutor e discreto,
Abismo sem fundo que me convida a cair,
São agitadas ondas do mar a navegar,
O mesmo mar do qual nunca estive,
Apenas em sonhos cinzentos,
Em nebulosos devaneios sem fim...
Quero sentir o doce destes lábios,
O calor da pele macia,
Olhar sem medo,
Nas profundezas destes olhos que me observam,
E acreditar que não é apenas um sonho,
Realidade opaca, jardim enegrecido...
Quantas máscaras possuímos
No decorrer de nossos dias?
Quantos rostos vemos
No decorrer de nossas noites,
Quantos amamos, quantos partiram,
Quantos ficaram, quantos ainda vão ter?
Papeis escritos de nossas vidas,
Cenários diversos de nossos sonhos,
Algum lugar para ir
E muitos que queremos voltar...
Adormeço sem fechar os olhos,
Sinto uma sede que se mata aos beijos,
Neste deserto de sentimentos confusos;
Estremeço sem sentir frio,
Tento correr, e não posso
Percebo que não saio do lugar,
Horas que passam e não levam minhas dores...
E os pensamentos continuam girando em espiral,
Um carrossel de feras selvagens
Alternando entre realidade, sonhos e ilusão,
Vozes que ecoam no peito e n'alma,
Do inferno ao céu, do céu ao inferno,
Luz e trevas no alto dos pensamentos
Acompanhando passo a passo cada dia de minha vida.



W. R. C.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Por traz do espelho




Por traz do espelho

Parado aqui entre sombras e espinhos,
Silêncio, tédio e nostalgia,
Secando minha última lágrima,
Juntando os cacos de um sonho,
Ouvindo meus pensamentos
E o derradeiro batimento cardíaco,
O espelho chama meu nome,
Imagens embaçadas, lembranças obscuras,
Ele está me mostrando o caminho
No meio da escuridão e devaneios,
Entre dias que se foram, e outros que virão.
Já posso ver o precipício,
Eu pulo para dentro do lado escuro,
Eu sinto o vento banhar minha pálida face,
Eu caio lentamente, eu vejo toda minha vida,
Diante de meus olhos, diante da saudade,
Eu vejo a luz opaca do anoitecer,
E ouço a voz, fria como gelo,
Sussurrando ao vento:
Bem-vindo a realidade...
Onde eu estou agora, como cheguei aqui tão rápido?
A escuridão me cerca,densa fumaça me cobre,
Não posso ir adiante, não vejo nada ao meu redor,
Não posso voltar, tenho que continuar minha jornada.
Onde está a chave, qual porta devemos abrir?
Quando chegaremos no portão
Que inicia uma nova vida?
Procuramos salvação, redenção, misericórdia,
Dias coloridos, sentimentos ardentes, outra prova;
Mas não conseguimos encontrar,
As velas se apagam e voltamos a ficar no escuro.
Eu olho atrás do espelho,
Mergulho em uma gota de lágrima,
Estou perdido no corredor do crepúsculo,
Entre o tempo e as eras,
Passado, lembranças, procuras e silêncio,
Algum dia eu irei voltar por um instante no tempo,
Será quando o espelho estiver caindo
Fragmentado e seus pedaços espalhados no chão,
Cacos de vida, partículas de existência.
Me leve embora do lugar que eu estive,
Abra essa porta pesada para outra vida,
Em outro mundo, novas linhas em branco,
Um sinal de vida me cerca agora,
A ponte aparece na escuridão,
Eu estou livre, eu voo sozinho,
Planando no ar frio da noite,
Adentrando a escuridão agora, sem medo,
Como fizera outrora...
As recordações de infância,
Beijos roubados, abraços apertados,
As paixões incendiárias,
Volúpia sem culpa,desejo,canções,
Recordações, vontades
E a sabedoria de muitas vidas
Queimam dentro de mim...
Aonde a luz irá? Esta é a salvação?Este é o fim?
Estou de volta,
Há uma nova chance para mim,
As correntes foram rompidas,
Os cadeados foram quebrados,
E todas as minhas memórias se foram,
Se enclausuraram no fundo de meu peito,
Empoeirando com o tempo,
Com cada sentimento que se esvai;
Eu posso sentir o que está acontecendo comigo,
Quando vejo meu reflexo escuro
Evaporando lentamente,
Vejo meu semblante
E a profundeza de meu olhar,
O espelho vai estourar...

W. R. C.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Mundo Distorcido



Mundo distorcido


Sempre tem uma música no ambiente,
Onde quer que você esteja,
Milhões de mulheres,
Milhões de amigos,
Os bens não valem nada...
A última palavra,
O último pedido,
Um desejo pendente,
Antes da noite realmente começar,
Antes dos coringas cumprirem seu papel,
Antes da derradeira folha se virar...
Sempre se passa uma página, e não percebe,
Sempre se dá um gole e não absorve,
Um respirar profundo que estremece;
O que passa na vida não é por acaso,
É algo que veio para ficar,
Para mudar o antigo,
Para distorcer o presente,
Assassinando o passado,
Convertendo o que se sente,
Modelando as vontades,
Se acostumando com as saudades.
Vejo entre meus passos errantes,
Entre sombras constantes,
Uma procura intensa e solitária,
Que cada ser busca em outros,
Busca em si mesmo, busca sempre,
De formas diversas por vários lugares,
Busca com tanta vontade que nem sempre sente,
Escorre pelos dedos, evapora no ar,
Derrama pelos cantos se perde além.
O mistério que existe em cada olhar,
Em cada palavra não dita,
Gestos não feitos, em cada toque,
Cada aroma e pensamento profundo,
Isso nos faz viver, gerar vida,
Abrir as portas de nossos sonhos,sentir a luz.
Não existem dois dias iguais,
Nem com a mesma sombra;
Existe dias que se constroem, com dores e amores,
Com desejos profundos e coragem,
Pontes e castelos, jardins e bosques.
Como agir em meio a guerra dos dias,
Das horas corridas,
Tragédia da existência, medo de tudo,
Vontade de sucesso, desejo profundo?...
Agora é seguir sem se saber de mais nada,
Sabendo que nada mais é alguma coisa,
E que coisa alguma foi algo,
E que tudo se transforma diariamente;
Que tudo é o presente,
Mesclado ao passado,
Vislumbrando o futuro...
Tentamos construir vidas,
Destruir fatos,
Formular passos, e reviver outro lado...
O que fazer agora quando ouvir a música que toca?
Tocar seu próprio coração e ver se ainda bate,
Bater nas portas de si mesmo e ver se alguém atende,
Abrir as janelas da consciência e deixar a luz fluir
E entrar mais uma vez nesse mundo distorcido!...


W. R. C.