quarta-feira, 28 de novembro de 2012



Luar dos Famintos
 
Dos amantes amigos,
Dos profetas poetas,
Luar de tantos nomes;
Entre risos e gemidos
Dardos mortíferos e setas,
O ser faminto e sua fome...
 
Entre falas de escritas tortas,
Vestes ao acaso escolhidas
E o caminho desvendado;
Na noite e suas sombras
Antes da despedida
O poeta ficou calado...
 
O relógio gira depressa,
O tempo se faz concreto
Quando suave sopra verdades,
A luz se torna escassa
Quando chego mais perto
E exponho minhas vontades...
 
E pulsam e fervem,
Borbulham inúmeras sensações,
O ir e vir de todas as vozes,
Os passos que se escrevem
Pelas diversas estações
Repletas de trevas, de luzes...
 
Luar dos famintos
Encanta o mais tímido mortal
Conduz a morada petrificada,
No caminho da vida, labirinto,
Pelas veredas do bem e do mal,
Traçando mais uma vez a minha jornada...
W. R. C.

terça-feira, 27 de novembro de 2012



Veja
 
 
Veja...
Apenas o que o tempo transformou,
Seus sombrios olhos
Em diamantes preciosos
Cujo brilho
E o valor é inestimável.
 
Veja...
No entardecer
Em cor de cobre,
O sol vermelho
Se escondendo no horizonte,
A despedida do dia
E o convite para a noite.
 
Veja...
Na noite fascinante,
Seus prazeres
E a forma de nos envolver,
Com sua magia
E seus banquetes,
Perceba o quanto a lua é bela
E como foi bem desenhada no céu.
 
Veja...
 O valor que tem
Uma lágrima sincera,
Derramada em um dia cinzento
Em forma de chuva
Quando lava e purifica
As feridas dolorosas da alma.
 
Veja...
O bailar desengonçado
Das nuvens no céu,
Se aglomerando
De forma medonha
Dançando em espiral
Diante de nossos olhos.
 
Veja...
 Qual o sentido de tudo isso,
O que realmente
Procuramos nesta Terra,
O que tanto esperamos
Durante a madrugada fria?
 
Vejo...     
Agora as portas dos sonhos
E desejos se abrirem,
Um estranho convite
Para aquele que ousar,
Vamos, me dê sua mão,
Vamos juntos
Ver o que tem do outro lado!...
 W. R. C. 

domingo, 25 de novembro de 2012



Um gole de vida
 
Beba outro gole de vida
E sinta pulsar por seu corpo,
Saiba que só vivemos uma vez
Enquanto sorvemos possibilidades,
Encaixamos algumas existências;
Deixe correr por suas veias
Cada partícula do amanhã,
Cada fragmento do hoje,
Que batem a sua porta
E pedem para entrar,
Deixe fluir
No decorrer
De cada sonho seu
Entre os jardins
De muitas vozes
Sem corretes e prisões,
Desejos, sentidos
E muito mais...
Absorva sem se engasgar
Com o absurdo...
Pois os sonhos
Enchem-se de cores
Quando as formas se formam
Com os feitos e os fatos
Que são registrados
E ganham vida,
Na arte do ser,
Do seu jeito,
Que se faz
De acordo com o tamanho
De suas telas
A serem pintadas...
W. R. C.


sexta-feira, 23 de novembro de 2012



Pensei em você...
 
Sempre penso, é inevitável,
E neste dia em especial mais ainda,
Quando os pensamentos desenham
Suas mais belas imagens.
 
O ciclo se formou, cumpriu o seu papel,
As estações fizeram suas curvas
E deixaram suas dádivas e suas linhas
Neste dia que é somente seu
Quando habita meu consciente.
 
Pensei em você...
Logo cedo, durante o café,
Entre um gole de lembranças e saudade,
Quando a fumaça formou o seu rosto
E trouxe você
Bem aqui novamente.
 
Pude ver seus olhos brilhantes,
Aquele sorriso inconfundível
Que só você possui
E que encanta a todos.
 
Lembrei de você...
Nesta manhã bipolar,
De nuvens e sol;
Quando um pássaro veio a minha janela,
E seu canto falava desse dia
E das luzes que escreviam seu nome.
 
Os passos seguem os seus caminhos,
Portas se abrem e se fecham,
Os dias seguem seu curso
E viram suas paginas;
Que tragam novidades
Em suas diversas cores.
 
Lembrei de você...
W. R. C.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012



A Sua Verdadeira Realidade
 
Entre o que vejo de um campo e o que vejo de outro campo
Passa um momento uma figura de homem.
Os seus passos vão com "ele" na mesma realidade,
Mas eu reparo para ele e para eles, e são duas cousas:
O "homem" vai andando com as suas idéias, falso e estrangeiro,
E os passos vão com o sistema antigo que faz pernas andar.
Olho-o de longe sem opinião nenhuma.
Que perfeito que é nele o que ele é — o seu corpo,
A sua verdadeira realidade que não tem desejos nem esperanças,
Mas músculos e a maneira certa e impessoal de os usar.
 
... // ...
 
Ser Real é a Única Coisa Verdadeira do Mundo
 
Todas as teorias, todos os poemas
Duram mais que esta flor.
Mas isso é como o nevoeiro, que é desagradável e húmido,
E maior que esta flor...
O tamanho, a duração não têm importância nenhuma...
São apenas tamanho e duração...
O que importa é a flor a durar e ter tamanho...
(Se verdadeira dimensão é a realidade)
Ser real é a única coisa verdadeira do mundo.
 
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
 Heterônimo de Fernando Pessoa


domingo, 18 de novembro de 2012


Flores e Formas
 
Acontece agora,
As flores, as formas
Que se fazem tão belas
No jardim do pensamento,
As cores, as normas,
O rosto dela
Que não cairá no esquecimento
Pois ainda não foi embora.
 
É sempre assim,
A arte pinta de forma precisa,
Formando detalhes perfeitos
Que no palco faz sua pose;
O poeta ainda indeciso
Sente arder em seu peito
O clamor de suas vozes
Que ecoam sem fim.
 
Faz-se tão viva,
Pintura dum querer ainda calado
Arquivado na galeria do tempo
Entre um pensamento e uma vontade;
Linhas escritas, sussurro falado
Soprado com o vento
Que um dia virará saudade
Quando vier a despedida.
 
São vozes, é tinta,
Uma pintura, um devaneio
Que sobe desprendido
Do pensamento reformulado;
Outros versos, que eu releio,
Que sai do peito esmorecido
E se vê no rosto transfigurado
Em uma tela que se pinta...
W. R. C.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012



Ocasiões
 
São tantas coisas,
Coisa antiga,
Coisa nova,
Engarrafadas e escondidas,
Juntada e remoida
Entre uma e outra prosa
Que vai e vem
Durante as horas
E o que se tem.
 
São os versos
Que se escrevem,
Em fogo, em brasa,
Os verbos que se conjugam,
Sentimentos e sentido
Que se juntam e se perdem,
Que o tempo sempre conduz
Em dizeres dispersos
Em trevas, em luz...
 
No mar da vida
Em labirinto de vidro
Sopramos nossas velas
Para outros portos
E outras eras
Enquanto o mundo
Despeja suas ocasiões
E mostra aulgumas saidas
Pelas quatro estações.
 
 O mar pode ser grande,
Mais sempre se pode voltar
Segundo a mare da vida
A um antigo lugar
E o ultimo ato de despedida
Que não será como antes
De ver o luar outra vez
Como os vê magnifico
Todos os amantes...
W. R. C.