quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Honoré de Balzac


Honoré de Balzac
França: (1799-1850). Romancista

“A missão da arte não consiste em copiar a natureza, mas sim de exprimi-la! Tu não és um vil copista, mas sim um poeta! exclamou o ancião, interrompendo Porbus, com um gesto despótico. De outra forma, um escultor reduziria todos os seus trabalhos a moldar uma mulher! Pois bem! Tenta vazar num molde a mão de tua amada e colocá-la diante de ti; verás um cadáver horrível, sem semelhança alguma e serás obrigado a ir à procura do cinzel do homem que, sem ta copiar exatamente, nela figurará o movimento e a vida. Temos que apanhar o espírito, a alma, a fisionomia das coisas e do seres. Os efeitos! Os efeitos! Mas, eles são os acidentes da vida, não a própria vida. A mão, visto que tomei este exemplo, a mão não se ajusta unicamente ao corpo, ela exprime e continua um pensamento que é preciso agarrar e traduzir. Nenhum pintor, nenhum poeta, nenhum escultor, deve separar o efeito da causa, os quais se incluem invencivelmente um no outro. Nisso, está à verdadeira luta. Muitos pintores triunfam instintivamente, sem conhecer esse tema da arte. Desenham uma mulher, mas ninguém vê. Não é dessa maneira que se consegue forçar o arcano da natureza. A mão que desenhais reproduz, sem que nisso vocês pensem, o modelo que copiaste em casa de teu mestre. Não deceis bastante na intimidade da forma e não tendes bastante amor, nem perseverança nos seus rodeios e nas suas fugas. A beleza é uma coisa severa e difícil que não se deixa atingir assim; é preciso esperar as suas horas, espiá-la, apertá-la, enlaçá-la estreitamente para obrigá-la a entregar-se."

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

As portas estão abertas


As portas estão abertas


Quem saiu em batalha
Há certo tempo,
Com seu coração nas mãos
E um brilho no olhar
Diante dos sonhos que se esconderam,
Há um passo, entre algum tempo,
Querendo encontrar?
Com uma mente cheia de idéias
E um coração a palpitar,
O corpo pulsa novidades,
Aromas e paladares,
E o coração bombardeando sentimentos.
Fazer nossa própria realidade,
Do fogo ardente que queima feroz
Em uma só sensibilidade,
Criar novos cenários, novas cores,
Lapidar todas as pedras preciosas
E deixar vir os novos sabores...

Você sabe a verdade que se esconde
Entre os dentes do destino
E as portas do amanhã?
Você sabe quantos dias faltam para amanhecer
Antes que a noite conte seus segredos?
Apenas imagine, tente...
As fronteiras estão se rompendo,
Mundos podem se unir,
Os sonhos podem se colorir novamente,
Pois nós não podemos controlar isso...
Sempre que fechamos os olhos
Quando buscamos entender
A origem desse fruto proibido;
Alguns são mais difíceis de pegar,
Ficam mais distantes
Quando tentamos agarrá-los
Escorrem pelos dedos...
Minha realidade difere da sua,
Cores diferentes,
Eu preciso fazer aquilo que sinto,
Que grita em meu coração,
O poder da imaginação é forte,
As portas estão diante de nossos olhos,
Pode nos levar bem longe,
Continue tentando,
De novo e de novo, nunca desista.

Irá à força de uma vontade ser tão forte
A controlar a mente de alguém?
Irá esta força iludir temporariamente
Ou aumentar a loucura que a cega?
Então as fronteiras de nossa imaginação
Elas se tornarão indistintas
E irão perdendo a consistência
Para desaparecer no ar rarefeito,
Pouco a pouco?
Podemos também ser assim tão fortes
De asas abertas, de mentes abertas
Para resistir às tempestades?

Pois alguns sonhos às vezes
Interferem em nossa realidade,
Se não acreditarmos,
Se não permitimos,
Pode se por tudo a perder...

Então a fé tem raízes na imaginação
Ou se solidifica em momentos?
Quem está certo agora
Na rígida e infinita luta pela revelação?
Eu não consigo dizer o que é certo ou errado,
Eu sei que podemos lutar dia após dia,
Cada batalha que for surgindo,
Pois todos nós vivemos numa guerra imaginária
Sendo as mesmas vitimas
E os mesmos algozes;
Um mundo repleto de rostos,
Um mundo em cada um,
As portas estão abertas,
É só dar o primeiro passo...

W. R. C.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Sonho Em Preto e Branco



Sonho em preto e branco



São tantos rostos, em meio à multidão,
São tantos olhares, perdidos no horizonte;
Sombras que se movem sob a luz dourada,
Se movimentando de um lado para o outro,
Em danças envolventes
Girando ao meu redor;
Sussurrando lembranças distorcidas,
E verdades silenciosas neste instante;
A cidade segue o curso de suas veias de concreto,
Pulsando, cheia de vida,
Cheia de morte,
Até o ultimo corte da navalha
E o derradeiro choro dos amantes distraidos.
Sorrisos e lágrimas, vontades e desejos,
Outro gole que não mata a sede de beijo roubados,
E nem aquece como abraços perdidos,
Vapores etílicos sobem aos céus,
Desejos ardentes correm pela terra
Nas asas dos sentimentos que voam distantes...

O entardecer dourado escreve sua página,
Onde silhuetas sensuais desfilam diante de meus olhos,
O barco das lembranças flutua no mar da saudade,
Uma onda de nostalgia arrasta a realidade do presente
E os ventos sopram minhas lastimas adiante.
Escorre por minhas entranhas,
Desliza por meu ser lentamente,
Essa tristeza, essa melancolia esse tormento,
Mim'alma grita em silêncio essa dor,
Meu corpo sente o peso de minhas vontades,
E minhas linhas escrevem sobre saudade.
Agora o pensamento quer ir distante,
Onde as lágrimas não podem alcança-lo,
O sol brilha todo tempo,
Onde nunca estive...
Labirinto de paredes transparentes,
Rostos que se cruzam entre os corredores de vidro,
páginas que se viram e não escrevem nada,
Vozes que gritam e não se fazem ouvir.
Mais um gole...
Mais um pensamento...
Outra vontade no tambor da arma,
Um tiro no escuro diante do espelho,
O sangue que escorre tem o mesmo cheiro,
O do presente com fagulhas de pólvora do passado...
Olhares desconhecidos,
Mundo em seu galope veloz,
Vozes, sussurros e nossos sentidos,
Mais um grito no deserto,
Mais um sonho em preto e brando.



W. R. C.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Noite II



Noite II


As horas passam rapidamente,
E com ela segue a luz do sol,
A noite cai com seu ar gélido e suave
Seu véu melancólico
E solitário encobre os vales e colinas,
Onde gritos abafados
Ecoam se perdem com os ventos.

Venha confortante anoitecer
E suavize minhas feridas,
Permita-me por um instante
Conhecer os seus segredos.
O que a faz tão bela,
Tão atraente e sedutora?

Como olhar de linda mulher,
Fascinante perdição
A noite chama,
Leve-me como música
Serena suave pelos ares,
Sobre o brilho da lua,
Andarilho flutuante
Das copas das arvores,
Tocando doces melodias
Aos que agora descansam.

Em noites obscuras,
Quando amontoadas nuvens se juntam
Tornando o céu
Cinzento e tristonho,
Distante um som se ouve,
E com a chuva trovões
E relâmpagos rasgam os céus.

Quando choras,
Oh noite,
Ficas ainda mais bela!
Tenebroso céu
Que lacrimoso pranto derrama
Em musical estrondo tempestuoso.

E nebuloso
O pensamento se eleva,
Um grito mudo,
Um grito d'alma
A chuvosa noite clama,
Banhar em suas puras águas
E renascer de novo.


W. R. C.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Cidade Cinzenta



Cidade cinzenta

Hoje a cidade acordou cinzenta
Com lágrimas caindo dos céus,
Um pranto diferente
De águas novas, puras,
De novidades que a caixa opaca da vida
Às vezes coloca diante de nós;
Outro capitulo aberto entre a vontade de viver
E todos os deveres existentes.

Hoje a cidade acordou cinzenta
Tentou ofuscar as luzes que surgiram,
Mas as tornaram ainda mais brilhantes,
Agora os passos serão recontados
E os barcos ainda irão navegar,
Nada mudou, não aqui,
Só adquiriu novas cores;
Mas as vontades ainda permanecem...

Hoje a cidade acordou cinzenta
Verdades caladas agora falam
Em vozes suaves, do jeito que tem que ser,
Desejos ardentes ainda queimam
Entre a palha seca de tantos dias
Que se foram, que se formam,
Que se fará em novos tons.

Hoje a cidade acordou cinzenta
Escreve suas linhas sem pressa
Com todos seus pontos e suas vírgulas,
Traçando nas páginas das ruas
Cada história que irá se formar
Em seus cantos de águas variadas,
Em suas curvas de tantas possibilidades...

Hoje a cidade acordou cinzenta
Cheia de sonhos e certezas,
Onde os caminhantes seguem suas buscas
Entre as ruas extensas e suas paisagens,
Com passos de ideais a se construir
E paixões que batem à suas portas;
Hoje a cidade acordou cinzenta e bela...

W. R. C.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Águas Tranqüilas


Águas tranqüilas


Em casa no escuro,
Esperando a chuva cair
Com sua voz a abafar a minha,
Temporariamente deixando apenas
Minhas poucas linhas;
Penso no dia que ficou para traz,
E nos que apontam no horizonte,
Horas que escorreram,
Sentimentos que evaporaram,
Vontades que borbulham
Ocultas pela bola de cristal
E todas suas melodias;
Eu e você, entre tempo e espaço
E as estações com seus segredos...
Surge diante de meus olhos
Anjo a confortar minha dor,
Com sua musica fascinante
E palavras de reflexão...
Lembranças dos breves momentos
Em noites que passaram,
Uma noite que se foi;
Em olhos que mergulhei,
E palavras que voaram
Arrastadas pelo tempo,
Deixando suas sementes
Que ainda não brotaram...


As horas se tornam gotas no céu
Chuva fina de recordações,
Quando os pensamentos derramam
Seus quereres, seus sorrisos,
E quando se arrastam lentamente
Trazendo consigo
O fogo daquele olhar;
Ainda posso sentir o que ficou
A arder em minhas entranhas
A incendiar meu ser
Querendo sair...
Quero você diante de mim...
Quero você aqui...
Sinto em meu peito
O peso dessa ilusão
Tão real, tão gritante,
Que grita suas vozes
Aos quatro cantos,
Em quatro ventos,
Em cinco elementos,
Fogo que queima voraz,
Alma em chamas,
Confusa, sedenta...
Em meio à escuridão
O silêncio fere meus ouvidos
Com seu toque de lembranças,
Procuro em vão
A luz dos seus olhos
Que ficaram entre o ultimo dia
E as vontades do amanhã...

Giram os pensamentos
Em minha cabeça
Como pássaros a bailar no ar;
Desejos que fervem em meu sangue
Como serpentes
A correr por minhas veias;
Não quero o tempo como inimigo
Com garras afiadas a nos dilacerar,
Não quero o presente como martírio
Em suas pedras as nos cobrirem,
Nem as horas como tormento;
Quero apenas,
Compreender o agora
Em suas estações variadas,
Deixar que as águas puras
Possam percorrer o seu curso
Em direção ao imenso mar,
Para que as embarcações
Sigam seu destino
E assim somente navegar
Em águas tranqüilas
Onde nossos olhos
Encontrar-se-ão novamente.


W. R. C.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011


Jean-Nicolas Arthur Rimbaud
França:1854/ 1891
Poeta, Escritor

CIDADES

Que cidades! É um povo para o qual foram montados Apalaches e Líbanos de
sonho! Chalés de cristal e madeira deslizam sobre trilhos e polias invisíveis.
Crateras ancestrais circundadas de colossos e palmeiras de cobre rugem
melodiosamente dentro dos fogos. As festas do amor badalam nos canais suspensos atrás dos chalés. Matilhas de sinos gritam nas gargantas.
Associações de cantores gigantes chegam em trajes e adereços cintilantes como a luz nos cimos. Sobre as plataformas, em meio a precipícios, os
Rolands buzinam sua bravura. Sobre as passarelas do abismo e os tetos dos
albergues, o arder do céu hasteia os mastros. O colapso das apoteoses
concentra os campos das alturas onde centaurinas seráficas evoluem entre as
avalanches. Acima do nível das mais altas cristas, um mar atormentado pelo
eterno nascimento de Vênus, repleto de frotas orfeônicas e do murmúrio de
pérolas e conchas preciosas, — às vezes o mar se escurece com brilhos
mortais. Nas encostas, safras de flores imensas bramem como nossas armas e
taças. Cortejo de Mabs em robes russos, opalinas, trepam nas ravinas. E lá em cima, as patas nas sarças e cascatas, cervos sugam os seios de Diana. bacantes de subúrbio soluçam e a lua queima e uiva. Vênus penetra nas cavernas de ferreiros e eremitas. Torres de sinos cantam as idéias das pessoas. A música desconhecida escapa dos castelos de osso. Todas as lendas evoluem e élans invadem os burgos. O paraíso de tempestades despedaça. Selvagens dançam sem cessar a festa da noite. E, uma hora, desci na agitação de um bulevar em Bagdá onde companhias cantaram a alegria do trabalho novo, sob uma brisa espessa, circulando sem poder iludir os fantasmas fabulosos dos montes, onde se devia reencontrar.
Que braços bons, que hora adorável vão me devolver essa religião de onde
vêm meus sonos e meus movimentos mais sutis?

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Anjo Caido III



Anjo caído III


Tentando me manter ainda
Sobre este curso de águas que caem,
Sob o céu cinzento de um dia qualquer
Onde navego em meus pensamentos,
Onde um dia planei sorrateiro
Em todos os seus desníveis,
Esperando a chuva cair
Enquanto minha mente
Apresenta suas cartas;
Mas uma delas está me abatendo
Quando feroz vem me agarrar
Me puxando durante o caminho para baixo
Em direção ao submundo sombrio
De idéias que giram e vozes que ecoam.
Vagando em direção a um vazio infinito
Onde se encontra perdido o ultimo grito,
A derradeira porção de sentidos,
A aniquilação irá agora ser a única maneira
De afogar essas mágoas,
De diminuir esses pecados
Este espaço não pode ser preenchido novamente,
Um buraco aberto e no tempo
Onde se escondem temporariamente
Os sentimentos em suas vestes escuras,
A saudade em seu manto vermelho;
Onde meus olhos em chamas brilham
Enquanto empurro minha ultima vontade,
As penas do anjo caído
Estão espalhadas pelo chão.

Poderei clamar aos céus
Quando as dores começam,
Ao seres superiores
E seus inúmeros aliados
Após a queda
Quando ainda estou confinado aqui?
Você nem mesmo imagina
Quanto já fora escrito antes de nós
Tudo que foi arquivado de cada ato,
Cada feito e todos os seus vultos
Que ecoaram no tempo e no espaço;
Eles deixarão para trás
Tantas sombras em minha mente,
Tantos rostos em meu coração
E sangue em minha espada;
E agora, cicatrizes em minha alma...

Alto no céu, bem distante,
Todas as nuvens estão passando
Levando os pecados
E marcando os pecadores,
E os que caíram ainda choram
Esperando por esta tempestade
Que ainda não pode lavar suas manchas
E nem limpar o sangue que ainda escorre;
Esperando pela tormenta,
A fúria que vem do céu,
O estrondo do trovão;
E esperando pelas lágrimas
Que despencam do firmamento
Caírem em mim, caírem em você...

Por que essas lágrimas
Nunca irão secar,
É o preço que se tem que pagar
Depois que asas são arrancadas?
Elas deixarão pra trás tantas sombras,
Vivendo em mim, dia a dia,
Diante de meus olhos fechados,
Vivendo em todas as memórias
Em minha vida.
Você imagina o porquê
Dessas lágrimas nunca secarem
Escorrendo em meu peito nu?
O tempo se forçou sobre a vida
Enquanto a chuva cai lá fora,
Vivendo em minha mente
Cada um daquelas horas perdidas.
Podemos mesmo encontrar um caminho
Neste labirinto sem fim?
Deveria eu ficar?
Deveria eu ser o único
Perdido dentro do vazio infinito?
Depois da queda nada mais é como fora antes...

W. R. C.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Perguntas Inquietantes II


Perguntas Inquietantes II

O que podemos plantar entre
As linhas de nossos corridos dias
E os reflexos embaçados de nossa consciência?
Esta água viva que vive dentro de nós
Poderia irrigar os campos
Secos de nossos sonhos cinzentos?
Porque algumas vontades
Derramam em terrenos inférteis
E escorrem rapidamente
Ao ralo da indiferença?
No deserto de nossas buscas
O céu sempre será cinzento?
O livro sagrado de nossa existência se escreve
De formas confusas
E se colore de cores opacas?
É eu ou é você que vê um mundo distorcido
Quando se tenta trazer os sonhos para a realidade?

Você pintaria quadros de suas memórias
Nas galerias escurecidas do tempo presente?
Esse fruto proibido em sua mão
Pode ser doce quando o amargo fel
Que divide as possibilidades o engasga?
Os ponteiros do relógio poderiam parar quando sentado
Ainda espera a tempestade passar?
O tabuleiro da existência poderia ser divido
Em partes melhores se você soubesse como jogar?
As sementes que plantamos podem gerar frutos distintos
No decorrer de nossos dias?
E minhas perguntas podem bater em portas trancadas
E adentrar o salão silencioso do acaso
Onde paramos para refletir?

Esse olhar que me observa de longe
Seria o mesmo que quer me devorar?
Por que escondes seu rosto pálido de mim
Quando eu gostaria de ver a face de meu algoz?
E essa música sombria que me oferece
Ela escreve meu nome em listas escurecidas
Em nefastas paginas para depois?
Deveríamos nascer de novo com todas as respostas
De todas nossas perguntas?
Quanta vontade precisou juntar
Até tornar algo real?
Esse gramado seco,
Essa melodia que faz estremecer
Seria o presságio do que colheremos amanhã?

Esses gritos que ecoam distantes
Voando no imenso céu
São os mesmos que fizeram seus ninhos
No topo de nossas lembranças?
Quando tentamos reviver sentimentos perdidos
Jogamos sementes verdes em uma terra árida?
Por que nossa voz não tem mais o poder de antes,
São os ouvidos distraídos que não a querem mais escutar?
Algumas palavras que dizemos são árvores secas
No deserto solitário de universos alheios?
E o silêncio seria a resposta de tantas inquietações?

Você consegue sentir a energia fluir
Das profundezas de seus sentidos
Brotando do alto de suas procuras
Clareando alguns pensamentos?
E estas visões brilhantes em sua mente,
Pode ser isto um sonho ou um pesadelo?
Pode ser isto somente um estado da consciência?
Pode você mostrar respostas
Que naveguem em mares iluminados
Para todas as suas dúvidas?
Pode você sentir o significado da vida
A percorrer os caminhos mais diversos
E repousar em casas onde tem
O que é para se encontrar?
W. R. C.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Para onde iremos?



Para onde iremos?


Em uma longa estrada chamada vida
Milhares de lugares a percorrer,
Inumeros rostos a se cruzarem;
Ela é sinuosa e fria e está coberta de cinzas:
Estrada distorcida do agora
Onde suas curvas perigosas podem nos levar?
O que todos nós queremos saber,
Para onde iremos?
As linhas em meu rosto,
As linhas em minha mão
Conduzem a um futuro que eu não entendo,
Um vai e vem de sentidos diversos,
Algumas coisas não saem conforme planejado...
Para onde iremos então
Depois que a ultima porção de amor se acabar,
Essa poderia reviver novamnte?
Seguindo a trilha através dos espelhos do tempo
Entre suas ruas escuras do passado
E todas essas em brando do presente;
Girando em círculos com enigmas em poesias,
Perdemos nosso caminho tentando encontrar
A porta mais próxima do amanhã,
Buscando encontrar nosso caminho para casa…

Enquanto o dia segue
Com lágrimas em nossos olhos
O palhaço grita no picadeiro,
E quanto mais alto é seu grito
Mais a platéia fica distraida e distante...
Há poucos beijos hoje,
E muito adeus para nunca mais;
O silêncio responde nossas lágrimas
Quando estamos no escuro.
Para onde iremos agora
Depois que abraço de despedida se findou?
Estamos todos nesta estrada distorcida do agora,
Querendo curvas de ontem, existindo amanhã,
Com milhas a percorrer;
Desbravando novas trilhas no desconhecido
Entre os dias e suas penas.
A quem você pode recorrer
Quando uma música pode lhe trazer recordações,
Quando ninguém realmente sabe
Para onde estamos indo?

O tempo cumpre seu papel
E rompe para o outro lado,
Seus venenos restantes ainda correm
Tão doce, tão suave
Por veias agitadas, por ruas,
Por lugares variados,
Explode em esquinas esquecidas,
Entre bosques cinzentos,
Em corações dilacerados.
Agora cada passo será o primeiro
Em direção ao virar de outras vozes
Que ecoarão também em conjunto,
Que escreverão outros verbos
Com pontos e virgulas
Do substrato extraido de cada procura,
Mesmo sem saber o que tem após a curva
E para onde poderemos ir...

W. R. C.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

William Blake



William Blake
Inglaterra: 1757 // 1827
Poeta/Pintor

A Humana Súmula

A Piedade deixaria de existir
Se não fizéssemos nós os Pobres de pedir;
E a Compaixão também acabaria
Se a todos, como nós, feliz chegasse o dia.

E a paz se alcança com mútuo terror,
Até crescer o egoísmo do amor:
A Crueldade tece então a sua rede,
E lança seu isco, cuidadosa, adrede.

Senta-se depois com temores sagrados,
E de lágrimas os chãos ficam regados;
A raiz da Humildade ali então se gera
Debaixo do seu pé, atenta, espera.

Em breve sobre a cabeça se lhe estende
A sombra daquele Mistério que ofende;
É aí que Verme e Mosca se sustentam
Do Mistério que ambos acalentam.

E o fruto que gera é o do Engano
Doce ao comer e tão malsano;
E o Corvo o seu ninho ali o faz
No mais espesso da sombra que lhe apraz.

Todos os Deuses, quer da terra quer do mar,
P'la Natureza esta Árvore foram procurar;
Mas foi em vão esta procura insana,
Esta Árvore cresce só na Mente Humana.

William Blake, in "Canções da Experiência"

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Nuvens no Céu



Nuvens no céu


O céu cinzento não trás novidades,
Nuvens que passam gritantes
Como anjos escurecidos;
Procura incansável de tantos amantes
Nesse labirinto de sentidos perdidos
A mercê do tempo e suas verdades,

Buscas discretas em meio a tantas vozes,
Vontades dispersas em um instante
Caídas em gotas discretas,
Nada mais é como fora antes
Destes dardos envenenados e suas setas,
De este dia perder suas luzes.

Voltando a ser chuva passageira,
Voltando a ser água do presente,
Perdendo diversas cores,
Falando ao coração tudo o que sente
De cada uma dessas dores
Em linhas saudosas e traiçoeiras.

Nuvens no céu da saudade,
Realidade escura no firmamento,
Anjo caído, amante alado,
Sussurros perdidos soprados pelo vento,
Rosto pálido e calado,
Desejo ardente, vontade.

Partículas úmidas a cair no chão,
Pedaços soltos no ar
Maestro sem muita maestria
Buscando um caminho encontrar,
Cantando lamentos e poesia,
Do peito em chamas, do coração.

Nuvens no céu de tanto pesar,
Sua água mais pura despeja
Seu corpo se forma assim,
Daquela boca que minha boca não mais beija,
São seus olhos enfim,
Palavras de adeus a me atormentar.

Escuto agora um estrondo no céu,
Vejo nuvens escuras diante de mim
Esperando a tormenta cair
Em um bailar desconexo sem fim,
Com tudo o que tiver que vir
Cobrindo meu sol como negro véu...

W. R. C.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

As Emoções


As emoções


Vivendo um passo de cada vez,
Vivendo misturando dias
Nas asas das horas e seus minutos crueis;
Cada partícula de sentido
Uma vontade guardada,
O fruto doce e proibido, é tão almejado,
Em outro mundo bem distante e esquecido
Repleto de rostos e cores,
Onde cruzam olhares brilhantes;
Uma existência diferente,
Um cenário de tons cinzentos
Ou cores variadas,
Uma página escrita a muito tempo
Ainda praticamente a mesma.

Lembranças são tristezas e o riso é dor,
Dilacerando a carne com o passar do tempo,
Em meio à fome de nossos corpos em chamas,
Desejos que causam arrepios,
Perfume de rosas distantes,
Uma marcha orgulhosa que segue em frente,
Luzes brilhantes das velas...
Olhe fundo, em meus olhos,
Preste atenção, perceba,
O que eles têm a dizer:
_As emoções tomam conta da vida
Todos os dias, cada instante,
Com o gotejar de cada hora, minuto e segundo...

Variações imprevisíveis de comportamento,
Consequências de todas as incosequências,
Sensações em comum, saudade;
Olhos que sangram ao olhar para traz,
Memórias bombardeando os sentidos...
Segure a chave para a porta mental,
Ascenda a luz e saiba que aqui
Onde nada é tudo, e tudo é nada,
O ontem deixa pedaços no hoje;
Olhando além da parede
Milhões e milhões de vezes,
Sussurrando desejos sem fim,
Parasitas devoradores de consciência,
Consequência inconsequênte do presente;
Dois lados de uma moeda
Vendo partes deles que são reais
E outras que foram banidas com o tempo...

Atrás de sombras mentais elas devem viver,
Recordações resurgidas recentemente,
Vontades sussurrantes sem sentido,
Sementes adormecidas por acaso;
Olhe fundo nos olhos deles,
De cada um desses sentimentos
Para o que eles têm a dizer,
Ele ainda não se perdeu no escuro do mundo,
São flores diversas nos jardins de nossos seres,
Emoções tomam conta da vida
Todos os dias constantemente...

W. R. C.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Chuva



Chuva


Escuto a chuva que cai,
Escuto aquela que ainda quer cair,
Agredindo meu telhado,
Meus pensamentos,
Minha consciência inconsciente
De que no momento
Não posso fazer nada;
O seu som são como navalhas afiadas
A dilacerar meu peito nu,
Caindo em direção à carne
Que sem piedade rasgam meus sentimentos;
Trazendo consigo os demônios da saudade
Que a muito estiveram adormecidos,
E junto com a água que se escorre pelos cantos,
Vão-se também minhas lágrimas
Que se cansaram de cair...

Explode o trovão ferozmente,
Rompendo pelo céu,
O grito de Deus
Que ecoa pelo mundo.
Cadeiras vazias, serpente no chão,
Pássaros em toda parte,
Cenário cinéreo;
A chuva continua a cair,
O choro de Gaia
Que lava o solo em vão...

As luzes da cidade parecem opacas,
Os becos e esquinas repletos de vida,
De morte, o andarilho e seus passos,
Observo os olhares amedrontados
Em suas janelas cinzentas,
A água que cai sem parar,
A cidade adormece com medo de suas paredes desabarem...

Lá fora estão os famintos:
Famintos de ideias...
Famintos de amor...
Famintos de compreensão...
Famintos de coragem...
Prontos para devorarem uns aos outros
Em seu banquete feroz de indiferença,
Em sua parcela diária de fome.

Esperando com paciência
O trem do meio dia,
E o ultimo suspiro do carrasco,
Algoz sanguinolento em seu olhar macabro.
Seguindo as linhas férreas,
Seguindo os dias com ferro e fogo
Em direção ao esquecimento e o sono eterno,
A grandiosa morada do silêncio
Como quem espera a chuva cair.

W. R. C.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011



Arthur Schopenhauer
Alemanha: 1788 // 1860
Filósofo

A Universalidade de uma Opinião

A universalidade de uma opinião, tomada seriamente, não constitui nem uma prova, nem um fundamento provável, da sua exactidão. Aqueles que a afirmam devem considerar que: 1) o distanciamento no tempo rouba a força comprobatória dessa universalidade; caso contrário, precisariam de evocar todos os antigos equívocos que alguma vez foram universalmente considerados verdade: por exemplo, estabelecer o sistema ptolemaico ou o catolicismo em todos os países protestantes; 2) o distanciamento no espaço tem o mesmo efeito: caso contrário, a universalidade de opinião entre os que confessam o budismo, o cristianismo e o islamismo os constrangerá.
O que então se chama de opinião geral é, a bem da verdade, a opinião de duas ou três pessoas; e disso nos convenceríamos se pudéssemos testemunhar como se forma tal opinião universalmente válida.

Acharíamos então que foram duas ou três pessoas a supor ou apresentar e a afirmar num primeiro momento, e que alguém teve a bondade de julgar que elas teriam verificado realmente a fundo tais colocações: o preconceito de que estes seriam suficientemente capazes induziu, em princípio, alguns a aceitar a mesma opinião: nestes, por sua vez, acreditaram muitos outros, aos quais a própria indolência aconselhou: melhor acreditar logo do que fazer controles trabalhosos.

Desse modo, dia após dia cresceu o número de tais adeptos indolentes e crédulos: pois, uma vez que a opinião já contava com uma boa quantidade de vozes do seu lado, os que se seguiram o atribuíram ao facto de que ela só podia ter conquistado tais votos graças à consistência dos seus fundamentos. Os que ainda restaram foram constrangidos a concordar com o que já era considerado válido por todos, a fim de não serem considerados cabeças irrequietas que se rebelam contra opiniões universalmente aceitas, nem garotos intrometidos que querem ser mais inteligentes do que o mundo inteiro.

A essa altura, o consenso tornou-se uma obrigação. A partir de então, os poucos que têm capacidade de julgar precisam calar, e os que podem falar são aqueles completamente incapazes de ter opinião e julgamento próprios, são o mero eco da opinião alheia: contudo, são também defensores tanto mais zelosos e intransigentes dela. Pois, naquele que pensa de outro modo, odeiam menos a opinião diferente que ele professa do que o atrevimento de querer julgar por conta própria, experiência que eles mesmos nunca fazem e da qual, no seu íntimo, têm consciência. Em suma, muitos poucos sabem pensar, mas todos querem ter opiniões: o que mais lhes resta a não ser, em vez de criá-las por conta própria, aceitá-las totalmente prontas de outros? Uma vez que assim sucede, quanto poderá valer a voz de cem milhões de pessoas? Tanto quanto um facto histórico que se encontra em cem historiadores, mas que depois se comprova ter sido transcrito por todos, um após outro, motivo pelo qual, no fim de contas, tudo reflui ao depoimento de um único homem.

Arthur Schopenhauer, in 'A Arte de Ter Razão'

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Sonhos Transparentes



Sonhos transparentes


Há poeira no horizonte
Girando veloz em espiral
Tornando pensamentos em prosa
E verdades caladas em poesia;
Há sombras no céu dançando no ar
Girando e levantando suas linhas,
Tocando melodias de ontem,
Chamando meu coração
A bater em um ritmo suave,
Sussurrando saudades
De formas diversas,
Gritando velhas vontades
De varios valores, de tantos sabores
Que n'alma ainda estão cravadas...

O tempo passa sem piedade,
Virando cada esquina com garras pontiagudas,
Nós estamos sempre correndo
Em direção ao desconhecido,
Nós estamos correndo para
Tentar pegar a estrela de um novo dia...
E o tempo e o espaço
Com suas cores brilhantes
Passeiam diante de nossos olhos,
Levam para longe o que tentamos guardar,
Nossa única proteção, nosso único consolo,
Se encontra nas profundezas de um sonho,
Onde podemos ver entre as brumas
Ocultando a face triste, escondendo os segredos
Não revelados, os desejos transparentes;
Mais uma vez aquele belo rosto.

A noite que cai e grita meu nome,
O coração cansado respira na escuridão
Batendo lentamente
Sonhando mais um sonho.
Eu posso voar através de minha mente,
Eu posso ir onde um dia estive
E olhar novamente aqueles olhos
Quando eu os vejo enquanto brilham;
Não quero acordar, me deixem aqui!
Então dentro da caçada,
Os dias que fugiram sem se despedir,
As chaves que sumiram diante de meus olhos,
Sentimento que silenciou mas ainda vive;
Logo encontraremos a luz da lua
Em todo seu explendor prateado
E cada um daqueles sentimentos,
Aqueles que ficaram para trás,
Guardado no fundo do peito.

Agora que o tempo veio e se foi
Entre esses sonhos e a realidade calada,
As páginas vão se escrevendo
Linha por linha, lágrima por lágrima;
O fruto proibido, a docura em nossos lábios,
A ilusão passou e estamos por conta própria
Aguardando o tiro de partida
O romper da aurora.
São tantas portas, hoje, ontem, amanhã,
Saiba que o sonho nunca está distante...

W. R. C.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A chave


A Chave


Tarde eu fecho meus olhos
E tento enxergar novamente,
Uma outra tentativa vazia,
Tentando encontrar inutilmente
A saida desse labirinto sem respostas,
Onde se perdeu meu ultimo suspiro de amor
Entre os braços fortes do tempo
E a curva que nos separou.
A iluminada vela morre
Se queima até o fim, sua cera forma saudade;
Eu sinto a presença da escuridão
Quando a chama se apagou,
Minha consciência tão pálida
Consciênte ainda irá esperar
O jardim se pintar novamente
E todo o amor florescer.
A ultima noite que se foi
Trouxe pesadelos trágicos para mim
Quando me disse o que não queria ouvir,
Que meus passos devem se seguir então
Deixando que a estrada me leve
Onde for que eu tiver que ir
Antes que os sonhos tragam suas cores de volta.
Ela anda em beleza como a noite sem fim
Quando surge nestes sonhos
De climas sem nuvens e céus estrelados
Pedaços fragmentados de tantos sentidos,
Onde o tempo para nós mais uma vez
Goteja suavemente suas obras e
Segue sem pressa escrevendo suas linhas...
E tudo de melhor da escuridão e da luz
Todos o seus aspectos mais distintos
Se encontra em contraste em seus olhos
Quando os busco em sonhos opacos;
Sendo assim entorpecido por aquela branda luz
Que ofusca minha visão e me faz delirar
Me transportando aos recantos mais distante
Que o céu nega para um dia iluminado.
Uma sombra a mais, um raio a menos,
O arrastar da chave em direção a fechadura,
A voz tentando chegar ao seu destino,
Se metade tivesse prejudicado a graça sem nome
Daquelas promessas que evaporaram
Que ondulam em toda mecha negra
Entre o tempo perdido
E as vontades que querem se encontrar
Ou suavemente iluminar em sua face
Cada um daqueles desejos que de nós se esconderam,
Trancados em seus recantos perdidos
Onde pensamentos serenamente
Se expressam docemente,
Se colorem constantemente,
Quão puro, quão querido,
Como os jardins floridos de outrora
O lugar de habitação de todos eles...
Os sorrisos que surgem lentamente,
As memórias que acendem,
Tudo novamente em um instante,
Mas contam sobre dias gastados em pensamentos
E passos despidos de suas buscas,
Cada um contando suas páginas,
Carregando suas chaves;
Uma mente em paz com tudo que restou,
Um coração cujo amor ainda é aprendiz!
O gosto de vinho permeia em minha mente
Quando recordações navegam por ela,
E aves noturnas pousam ao redor
No deserto de minhas vontades;
O vinho que foi derramado de tantas feridas
Abertas pelos fantasmas que me assombram
Em dias de constantes sentimentos...
W. R. C.

sábado, 3 de dezembro de 2011

E o que seria o tempo?



E o que seria o tempo?


O que eu vejo, o que você vê,são reais essa vontades todas? O que eu encontrarei, o que perdemos diariamente? Sei a resposta interior, da pergunta que não fiz ainda, que se esconde entre nuvens no céu; é nosso último passo, nosso ultimo feito, o que sobrou daquele beijo, antes de tomarmos o ultimo gole de vida e digerirmos o suco amargo da saudade.
Semente negra jogada na terra brotando em desejos sem respostas, flores escurecidas que surgem no ar do alto de lembranças escondidas, caminhos bifurcados que ficam na terra entre as portas que serão abertas a qualquer instante...
Tempo, o que é tempo em seus minutos crueis, quanto temos ainda, antes dessa despedida, antes de tudo se iniciar novamente? Eu queria saber te contar quantos grãos de areia ainda faltam; a culpa é toda nossa: é nossa sede, é nossa fome, somos nós saindo para dar um passeio entre cada estação e o que nos separa por hora, no arrastar de todos os minutos e segundos em que buscamos repostas e fazemos perguntas...
Não somos máquinas, não somos pedras que caem e rolam o desfiladeiro? Tempo, o que é tempo em suas portas trancadas em seus enormes cadeados?
Destranque a porta e veja a verdade, o que parece nunca é suficiente é a pequena parte do que poderia ser um todo; então saia da caverna escura, solte os cães e observe os gatos no telhado, as aves não cantam mais como antes, então o tempo será o tempo novamente com todas suas manhas e seus sustos...
Estes sonhos nunca foram meus, pois sozinho não pude recrialos; esses vultos que voltam para casa, essa realidade se escreve bem devagar, como a pena desgarrada de uma ave veloz; está frio por dentro, isto se foi por enquanto, as coisas que vemos, o choro que escorre, gargalhadas no dia seguinte, tesouros no fim do arco-iris.
Quem pode dizer o que é certo ou errado, construir muros ao invés de pontes? Pelo que estamos pedindo o preço pode ser muito alto? Pelo que vê e sente todos os dias entre espasmos de sentidos e olhares preoculpados?
Eu me lembrarei de minha vida passada ao despertar de um sonho conturbado onde os olhos de meu coração podiam ver por mim; e eu me lembrarei do tempo que se foi entre meu ultimo suspiro e o primeiro adeus, antes da próxima página se iniciar, antes das linhas se rabiscarem novamente.
O que eu vi depois do raiar do sol ofuscante? O que eu fiz durante essa noite de vultos, sonhando o que tanto quis?
Venha trancar a porta, não me deixe entrar, pois quero estar por perto mais uma vez; realidade, ela me machuca as vezes quando grita vontades, distantes escondidas do outro lado de minhas buscas e desejos ainda latentes; como espinho de rosa branca que rasga a carne e se torna vermelha.
Sinta o cheiro por um instante dessa manhã de sussurrantes recordações, banhe-se nas lágrimas do orvalho desse dia;
Eu a vejo claramente, é tarde para um convite? Conhece seu sonhos e seu desejos quano são habitados por quem esteve ausente?
As vezes até coloca os pingos nos jotas e as virgulas em alguns verbos; ele não nos cura, esse desejo constante, mas nos deixa esquecer o presente amargo e trás atona de forma suave as cores que ontem tanto nos alegrou.
Tempo, o que é tempo com esses segredos silenciosos?
Nunca saberemos, nunca o sentiremos novamente até nos permitimos que ele crie uma outra realidade, então não tome cuidado, não tenha medo, se deixe se levar por suas brisas em direção ao ponto final e o inicio do esquecimento, assim o tempo será o tempo novamente....
W. R. C.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O meu caminho



O meu caminho


Manhã nublada,
Pensamento nebuloso,
Vontades caladas,
Sussurros entrelaçados,
Verdades que vagam no ar
Entre as coisas que vão se criando
Diante de olhares turvos e seus receios;
Imagens que se formam
Vultos dançantes a nos seduzir...
Esse vento que parece rasgar lentamente
A face pálida e dormente,
Que ainda sonha sonhos já guardados
E memórias resurgidas,
Cambaleando nestas brumas
Se entorpecendo com estes sentimentos
Arrastados ao sepulcro da dúvida
E os jardins floridos do esquecimento...

Caminho em direção aos meus pensamentos
Que giram em formas estranhas
Criando sensações diversas
Enquanto fico mais uma vez em silêncio:
Observando... Absorvendo,
Alguns raios solares fogem por frestas discretas
Iluminando sentidos dormentes;
Sonhos dourados que tentam se expandir
Em meio ao aglomerado de nuvens no céu,
De tudo que passou, e tudo que virá,
Até o outro lado dessas linhas reluzentes;
Tempo que sussurra perguntas
E aguarda respostas
Nas asas de suas inquietações momentâneas...

Anseio... Silêncio...
Humanidade... Caos...
Imaginação que voa baixo
Sem tocar seus pés no chão...
Aves com danças bizarras
Rodopiando ao redor
Cantando saudades empoeiradas;
Árvores em seu balanço rítmico
Se desmembrando pouco a pouco,
Folhas que caem sem respostas
Das perguntas que se formam
E lentamente forram o chão.
Pensamento... Metamorfose...
Sentimento... Overdose...
O sangue corre pelas veias,
O sangue escorre pelo chão,
Gritos de misericórdia
Em direção ao firmamento,
Sobem e se perdem sem atenção.
O céu esbraveja entristecido,
E lacrimoso desaba em pranto,
Raios que riscam o ar,
Estrondo que estremece a Terra...

As lágrimas se misturam com a chuva,
O soluço se mescla com o trovão,
Partes de um todo,
Tudo que derrama,
Escorre por nosso rosto
Deslisa por nossa alma.
Flores não desabrocharam nesta manhã
Pessoas parecem que sumiram,
Ruas se tornam labirintos,
E eu sigo sozinho o meu caminho.


W. R. C.