sexta-feira, 29 de abril de 2011

Outro tempo, Outro cenário





Outro tempo, Outro cenário


Então, aqui estamos, no tempo que passou,
Borboletas que voaram, que migraram para casa,
Entre pensamentos e lembranças,
Entre novidades e pessoas novas,
Rostos diversos nos corredores da vida;
Todo o passado é um sonho,
Fumaça cinzenta que paira no ar,
Saudades transparentes que se perdem além...
Não consigo acreditar que eu estou aqui agora,
Entre o ontem e o hoje, o agora e o amanhã,
Coberto de sonhos, de sentimentos;
Parece tão difícil recordar, respirar,
Fiz isto acontecer desse jeito,
Fiz acontecer de modo algum,
Fiz apenas o que as possibilidades me permitiram,
Fiz minha caminhada no labirinto de vidro.
Aqui estamos nós, ganhar ou perder,
Reunindo recordações, planejando inovações,
Emoldurando os sentimentos de ontem
O bem e o mal, rápido e lento,
Tudo que sentimos, tudo que ainda pode se sentir;
Virando nossas páginas...
Escrevendo novas linhas...
Aqui estamos nós, o ouro negro,
A água viva, repleta de lágrimas,
De alegrias, de tristezas,
Em outro tempo, outras pessoas,
Outro cenário...
Lembranças e saudade,
Vontade de fazer novamente,
De fazer de forma diferente, ao avesso,
Poeira, num espelho enegrecido...
Estranho como o vidro parece cantar,
Mas as palavras são como armas,
São como tinta em um quadro em branco,
Elas poderiam ser qualquer coisa.
Aqui estamos nós, ganhar ou empatar,
Mais uma dança no salão vazio,
Mais um beijo que não tem destinatário,
Mal utilizado, mal marcado,
Bem me quer, mal me quer...
Aqui estamos nós, já éramos,
Em outro tempo, com outro alguém ou sozinho,
Sempre a procurar uma resposta,
Fazer novas perguntas,
Virar outra esquina.
Olhe pelos olhos da máscara, diga-me o que você vê,
Você consegue entender os fatos?
Poderia estar nos braços dos mortos,
Ou nos jardins floridos da primavera,
Eu ainda ouço falar, contando piadas em minha mente,
Mostrando saidas, seguindo estradas.
Aqui estamos nós antes do amanhecer,
Onde tudo começa e termina,
Frio e escuro, morte e desprezo...
Aqui estão eles:
Luxúria e angústia,
Saudade e realidade,
Para vigiar o crime e sua pena,
A vítima e o algoz,
Nos dias anteriores á peste;
Nunca disseram, olhos como lâminas,
Que cortam a alma, a carne,
Pensamentos e sentimentos,
Aqui e agora:
Medo e pesar,
Vontade e realidade,
Para o ontem, o hoje, e o amanhã,
Em outro tempo, em outro cenário...


W. R. C.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Pensamento/Reflexão






Da Poesia e da Tragédia

Parece que a poesia tem inteiramente a sua origem em duas causas, ambas naturais. Porque a imitação é natural ao homem desde a infância, e nisto difere dos outros animais, pois que ele é o mais imitador de todos, aprende as primeiras coisas por meio da imitação, e todos se deleitam com as imitações. É prova disto o que acontece a respeito dos artífices, porque nós contemplamos com prazer as imagens mais exactas daqueles mesmos objectos para que olhamos com repugnância; por exemplo, a representação de animais ferocíssimos e de cadáveres. E a razão disto é porque o aprender é coisa que muito apraz não só aos filósofos, mas também igualmente aos demais homens, posto que estes sejam menos instruídos. Por isso se alegram de ver as imagens, pois que, olhando para elas, podem aprender e discorrer o que uma delas é e dizer, por exemplo: isto é tal; porque, se suceder que alguém não tenha visto o original, não recebe então prazer da imitação, mas ou da beleza da obra, ou das cores, ou de outro algum motivo semelhante.

Sendo, pois, própria da nossa natureza a imitação, também o é a harmonia e o ritmo (porque é claro que os metros são parte do ritmo). Os que ao princípio se sentiram com maior inclinação natural para estas coisas, adiantando-se pouco a pouco, deram origem à poesia com obras feitas de improviso. Ora a poesia tomou diversas formas, segundo o diferente natural de cada um; porque os homens que tinham mais gravidade e elevação imitavam as acções boas e a fortuna dos bons; e os que eram de génio humilde imitavam as acções dos maus, escrevendo ao principio vitupérios, assim como os outros compunham hinos e louvores. [...]
Falemos agora da tragédia, deduzindo a sua verdadeira definição do que temos dito. É, pois, a tragédia a imitação de uma acção grave e inteira de justa grandeza em estilo suave, mas de várias espécies, de que se serve separadamente nos seus lugares, a qual, não por meio da narração, mas sim pela compaixão e terror, consegue o expurgar-nos de semelhantes paixões. Chamo estilo suave ao que tem ritmo, harmonia e melodia. Chamo servir-se separadamente de cada uma das espécies ao executar algumas coisas somente pelo metro e outras pela melodia. [...]
O belo (ou seja animal, ou outra qualquer coisa), sendo composto de algumas partes, não só deve ter estas por boa ordem, mas também deve ter uma certa grandeza não arbitrária; porquanto o belo consiste na grandeza e na ordem e, por isso, nem seria belo um animal muito pequeno, porque a vista, quando se olha para alguma coisa por tempo imperceptível, quase se confunde, nem também muito grande, porque então não se vê ao mesmo tempo aquele todo, e a unidade do ponto de vista escapa aos espectadores, como se houvesse um animal do comprimento de dez mil estádios. Pelo que, assim como tanto nos corpos como nos animais deve haver grandeza e esta deve ser capaz de se compreender bem com a vista, assim também as fábulas devem ter extensão e esta há-de ser fácil de compreender com a memória.

Aristóteles, in ' Poética '

domingo, 24 de abril de 2011

O que tento plantar





O que tento plantar


Atormentado pelo presente,
Arrastado aos pesadelos sombrios,
Faminto e desesperado, criatura nefasta.
A verdadeira face revelada do submundo das trevas,
Dos séculos que se passaram, a dor diante do espelho,
Preso em uma realidade distorcida,
Onde as sombras nunca se dissipam e o sol não brilha mais...
O despertar é preciso a luz colocara tudo no lugar,
Após uma noite de tormentos e gemidos na madrugada,
O sol surge no horizonte desenhando com traços precisos
Um novo cenário, mesmo em um jardim cinzento;
Abro meus olhos e retorno a minha realidade...

Venha comigo, adentre este mundo,
Esta existência; aqui onde tudo é possível...
Venha me dê sua mão, olhe em meus olhos e perceba,
Isso é tudo o que possuo...
Cada linha, cada página, um pedaço de mim,
Cada folha amarelada caida no jardim cinzento
Uma fagulha falada de sentimento,
O pensamento que flui...
Gotejar das horas que se arrastam;
Ultima linha de um parágrafo...

Evaporando devagar com os pensamentos e lembranças,
Com sussurros e promessas,
Subindo ao céu com o vento da procura,
Planando sorrateiro nas copas das arvores,
Sempre a observar;
Alimentado por desejos cativos e saudades gritantes,
Espectro da meia noite...
Realidades que se mesclam,
Amores que se evaporam,
E a procura que nunca tem fim;
Um nevoeiro de sentimentos,
Um passeio à nostalgia,
Um pensamento que vira fumaça e se perde além...

Vejo tanta coisa ao meu redor,
Tento construir castelos,
Reviver dias que se foram,
Preencher lacunas que surgiram,
Mas cada dia é um novo capitulo,
Uma página em branco pronta para se escrever...
Cada linha, cada sonho, cada paixão que foi,
O que é sempre será,
E o que não foi talvez torne a ser...
Vejo tanto ao meu redor,
Tantas possibilidades;
Quero poder segurar em minhas mãos
Sem que se escorra por meus dedos o que tento plantar .

W. R. C.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Seria Tarde Demais?




Seria tarde de mais?


Não posso entender o que se passa, quando as cores do dia vão desaparecendo devagar,quando a saudade grita tão alto que meus ouvidos ficam a zunir, quando a alma se cansa e os olhos secam toda e qualquer lágrima; tudo que tentamos plantar, cultivar, com todo amor que há em nós; a luz não é suficiente, o tempo também não, não podemos alimenta-lo, não sem uma crença, sem um jardim repleto de frutos e de flores, com a música suave dos pássaros e a certeza de ver o ser amado por mais uma vez; sem se tornar cego com todas as dores do mundo ...
Como se sente, quando a fechadura recusa a chave? E alguém está chamando o seu nome, a sorte do encanto realmente te protege de se machucar, de machucar alguém? O talismã te protege da dor, da perda, da derrota? Seus olhos se fecham diante dos fatos, dos feitos, das fotos?
Essa dor vive em seu passado, em nosso passado, foi se escrevendo dia após dia! Quem a teria provocado? Sabemos perfeitamente a resposta, fomos nós! Venho com a intenção de lhes fazer esquecer, de lhes mostrar que pode ser diferente, que esse precipício pode ser pulado, sem cair, sem se afundar novamente, novas linhas a se escreverem.
Pelo deserto da escuridão ardente há uma luz que nos ilumina, há um lugar que nós sempre gostaríamos de estar, mas cujos prazeres sempre nos escaparam, sempre estiveram fora de alcance, nada muito próximo, sempre tão distante, um pequeno passo que nunca temos certeza em dar pois o medo nos paralisa e impede que seguimos adiante; não precisa ser assim. Agora está aqui em suas mãos, uma chama infinita diz tudo,diz o que os sentimentos não tem coragem de dizer, por temer o sofrimento, quando acha que tudo é igual, quando acha que a vida sempre se repete, em feitos em fatos, em fotos; amor, ódio, luz e treva, do inferno ao céu, do céu ao inferno.
Enquanto você se dirige às trevas sem se preoculpar com o amanhã: na frente o futuro; atrás de você a história se constrói, se solidifica, se transforma, pego sozinho na escuridão da noite, onde molda rostos familiares e paixãos nostálgicas que nunca mais voltarão: _Você acha que é assim que deveria ser? Você não acredita em seus olhos pois tudo que eles vêem são mentiras? São ilusões embaçadas, transformações distorciodas, um mundo em decadência e mais nada?
Só o tempo poderia lhe dizer no que se deve acreditar, se um sonho pode florescer, se as palavras ditas irão se perpetuar, criar asas e subir aos céus, se cada pedra lançada não irá voltar com outras mais pesadas, se o sonho pode realmente se tornar realidade...
Aonde você vai quando sua consciência te domina, te leva para longe? Você se arrasta para um canto escuro e chora, com olhos tão vermelhos que não consegue mais enxergar ? Você imaginou que ninguém notaria, que ninguém escutaria seus soluços ou secariam suas lágrimas? Abra os olhos, abras as asas e voe livre...
Se ficar em silêncio em um canto, suas lágrimas irão te afogar, seus gritos se abafarão em meio aos fantasmas do passado, em meio o medo de se perder no presente, e nunca mais encontrar o futuro.
Algo de estranho da maneira como observamos; observamos cada movimento cada palavra, cada fantasia, não temos tempo para o amor, para sentir novamente, aguns perdem a força e a vontade de lutar, há algo em nossa mente, tem o rosto de um anjo diante do espelho, e o de um demônio refletido no reflexo da colher que nós nos alimentamos; mas o olhar sombrio de um ser assustado, perdido entre a vontade e a procura, o desejo e o medo, essa fome voraz que nos devora lentamente, que consome nossos ossos dia após dia, não pode vencer a esperança de um amanhã cheio de vida.
Eu me afasto, mas ainda vejo aquele olhar aprisionado dentro de meus sonhos, eu sei que ainda está lá, um olhar mais puro cheio de pensamentos de felicidade, você construiu todos em mim, primeiro dentro da minha cabeça, depois dentro de min'alma; você em quem penso, quem sonho quase todas as noites, que não me deixa desistir pois penso que somente assim poderei contemplar aques olhos por mais uma vez diante dos meus... Mas seria tarde demais?
E a chuva caiu, as lágrimas também, e as estrelas caíram do céu, que noite escura, que pensamentos pesarosos, que linhas soturnas, que portas brilhantes ...
Isso sempre parece aqueles castelos e sonhos esmaecendo com a luz da manhã, com aquela névoa de sentimentos agônicos que incendeiam o coração e abalam a alma...
Como uma triste história que o tempo adora contar, página por página, vão se escrevendo os dias de nossas vidas,em um arrastar melindroso; moedas de cobre brilham para o sol do chão de um poço dos desejos, onde nem todos os desejos se realizam, a espera nunca tem fim, a sede nunca acaba, assim como a fome também não,vontade de progresso, etc... A realidade nunca supre o desejo de se amar, de ser amado, de conquistar um espaço só seu em meio à multidão, onde se possa colorir e plantar de acordo com nossos ideais: _Assim como as coisas ruins que fazemos pode voltar para nós, as boas também voltam...

W. R. C.

domingo, 17 de abril de 2011

Sombra da Lua Cheia

fotografia: Cristina Gehlen



Sombra da Lua Cheia


Agora aqui, mais uma vez,
Entre delírios e sentimentos
Na sombra da lua cheia,
Nós dançamos na luz das estrelas,
Relembrando, revivendo,
Passeamos por constelações distantes,
Poeira cósmica de sensações que se espalham,
Entre sonhos e realidade, reencontrando nossas horas,
Sussurrando uma melodia para a noite...
Saias de veludo deram voltas e voltas,
Eu e você girando em espiral,
Em um abraço transcendental,
Fogo no olhar e mel em nossos lábios
Em um beijo profundo.
Nos bosques sem fazer barulho,
Sorrateiro, deslisando suavemente,
Sem medo do agora e do amanhã,
Onde o tempo corre devagar,
Quando juntos estamos,
Ninguém se preocupou com as horas ou com o tempo...
Pelos campos silenciosos e encantados,
Por entre a relva e flores coloridas,
Nós caminhamos de mãos dadas,
A poesia fez nossos pobres corações acreditarem,
Nas palavras que venho a dizer,
Em tudo que sinto e que grita em mim,
E que ficou gravado em meu coração,
Esse romance que existe em meus pensamentos,
Um romance perdido nos dias de hoje...
Há muito tempo...
Se propagando na existência...
Sempre em meus sonhos, eu e você...
E quando nos sentimos sós, sentimos tristes,
As vezes choramos no luar,
Irrigando o solo sob nossos pés,
Fazendo brotar uma rosa de saudade,
Nos jardins da consciência,
Movidos por um mundo enlouquecido,
Onde o amor teme existir,
E os homens se arrastam,
Se escondem de seus sentimentos,
Você alçou voo...
E eu nem mesmo pude me despedir,
Dizer o que penso, o que sinto,
Ver mais uma vez seu rosto,
Na sombra da lua cheia;
Mas sei que em meus sonhos
Por traz das montanhas há bosques verdejantes,
Você ainda existe...
Não sinta aflição, não sinta dor,
Não sinta mágoa, não há nada ganho,
As batalhas, as lágrimas, o sangue,
Não podem fazer parte de toda a história,
Cada página, cada luar, cada sonho,
Novos capítulos que se escrevem,
Só o amor permanecerá...
Sombra da Lua Cheia...
Em algum lugar além da névoa,
Onde os sonhos podem virar realidade,
Onde o amor corre pelos campos floridos,
E a brisa do vento banha nossos rostos,
Sem medo, sem culpa, livres;
Espíritos foram vistos voando,
Enquanto o luar guiava nossos caminhos,
Um em direção ao outro,
Até que um dia nos encontremos novamente.
Este é o meu deleite em uma noite brilhante,
Os devaneios que sobem aos céus,
Entre nuvens, estrelas e o luar.
As estações de um ano passam rapidamente,
Folhas que caem, flores que surgem,
Vento e chuva, frio e calor;
E nós lutamos dia após dia
Para manter as lanternas queimando forte,
E o fogo das paixões
Debaixo da sombra da lua cheia.


W. R. C.


sexta-feira, 15 de abril de 2011

Até onde podemos ir






Até onde podemos ir


Em meu pensamento onírico você existe,
Distorce minha realidade mais concreta,
Seu coração pétreo não permite que eu o lapide;
Vão-se as horas de meu dia,
Cinério é o céu neste instante,
Meu globo cefálico se dissolve em dúvidas e desejos,
Saudade que me devora aos poucos.
Minha carne grita por seu nome,
E você me congela com seu olhar hibernal,
Meu corpo plúmbeo afunda devagar,
No curso potâmico de sentimentos,
Que correm em direção a um mar de novidades;
Onde verei na curva meridional seu rosto,
Sorrindo, olhando para mim em silêncio,
E quando seu olhar cruzar com o meu,
Descobriremos um ao outro,
Gota por gota... Passo por passo...
E no labirinto hialino construiremos um altar argênteo,
Onde escreveremos nossos nomes
Em um pedaço éboreo brilhante.
Agora posso dizer que meu olhar ígneo pode ver
Por traz da parede rupestre,
Um novo e mneumônico caminho,
Repleto de possibilidades,
O outro lado numismático: cara e coroa, tudo juntos,
Eu e você redescobrindo o amor,
Vendo até onde podemos ir,
Nessa torrente pluvial de paixões,
Sem se preocupar com o amanhã.


W R. C.




Este poema foi escrito há um certo tempo,
foi escrito à uma pessoa muito especial para mim,
que foi, é e sempre será...

A você!

quinta-feira, 14 de abril de 2011

As Tormentas



As tormentas

O que me tranquiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.

Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar.


Clarice Lispector


quarta-feira, 13 de abril de 2011

Lamentos Perdidos





Lamentos Perdidos


Sobe a fumaça do incenso e outro parte de mim,
Vozes flutuantes contam a todas as estações
Os sentimentos que passaram por aqui,
Alguns de cores intensas, outros cinzentos;
Os dias percorrem direções diversas,
Por jardins de espinhos venenosos
E rosas de aromas perigosos e afrodisíacos.

Escorrendo pela última ferida aberta
O substrato plúmbeo de meus sonhos,
Todas aquelas noites memoráveis,
Os beijos com gosto de mel,
Aqueles olhos que me fascinavam;
Tudo levado pelo tempo e seus comparsas,
E com o vento se foram levando minha última paixão.

Recolhendo as pedras que sobraram,
E os fragmentos que se esmigalharam de meu peito,
Desenhando lembranças eternas,
Coexistindo com a solidão de todas as eras,
Construindo muralhas transparentes,
Mergulhado em um rio de lágrimas,
Perdido em um sonho que não tem fim.

Entre o ontem, o hoje e o amanhã,
Sem saber se minha voz chegará em seu destino,
Transpondo as barreiras criadas pelo medo,
E os segredos que ficaram guardados,
Páginas que foram se escrevendo;
Grito mudo... Calado... Correndo sem direção.


São pedaços de uma existência qualquer,
Jogados em um mar de consciência,
Em um turbilhão de matéria e sentimentos;
E os lamentos que ecoaram distantes,
Já não os ouve os que ouviram antes,
E nem ouvirão quando os cantar depois.


W. R. C.



segunda-feira, 11 de abril de 2011

Lições de vida




Lições de vida




Quando o destino nos deixa pra trás,entre flores e a folhagem, e nos arrasta para uma destinação desconhecida,o oposto do que realmente tentamos,a inconsciência consciênte que pensamos, a inversão de sonhos e desejos; o ir e vir de pensamentos pesarosos, logo buscamos um abrigo qualquer.
Deverão nossas lágrimas formar um mar em que outro barco nunca teve que alcançar a área?
Quando a tempestade é mais violenta, e os ventos sopram tudo para longe, o horizonte parece estar
tão distante, do outro lado da selva de pedra, entre os muros de concreto;
Você encontrará força para continuar e vencer a miséria que quer te trazer tudo pra baixo?
Quando o silêncio de longe está cerrado em mãos, e gritos ensurdecedores atormentam a alma,
nossa harmonia se torna tão exclusiva como o tempo, e tão passageira como a água dos rios;
Podemos nós vencer o cansaço e continuar lutando? Quando o amor ainda bate ao peito, e grita
em silêncio aos quatro cantos e não quer partir, e o parte ao meio; devemos permanecer em silêncio?
Se você tivesse acreditado nas minhas brincadeiras de dizer verdades, e percebido o virar de cada página, teria ouvido muitas verdades que insisto em dizer brincando, que brinco em dizer sofrendo, que falo apenas o que sinto, o que penso, o que quero e nem sempre consigo...
Falei, muitas vezes, como um palhaço, mas nunca desacreditei da seriedade da plateia que sorria, e no picadeiro dancei alegremente ao seu lado e chorei quando as cortinas se fecharam e você foi embora.
Mas ainda quero que você sorria sempre, mesmo que seu sorriso seja um sorriso triste,
pois mais triste que um sorriso triste é a tristeza de não poder sorrir, e as lágrimas derramadas por não ter tempo suficiente de dizer tudo aquilo que ficou para trás, de fazer tudo aquilo que a vontade sussurrava, colher todos os frutos, lançar todas as sementes. A alegria de saber que você existe faz-me forte para suportar a tristeza de sua ausência, qualquer parede de distância, pensar na construção de novos altares, e todas as esquinas iluminadas, o cando dos pássaros em uma manhã nublada.
Ontem você me fazia esquecer o mundo; hoje, o mundo não me faz esquecer você,
pois onde quer que eu vá busco o brilho que você deixou em meus dias, em minhas noites,em meus sonhos, todos aqueles aromas, aquelas cores, tudo; mas, a realidade não é mais a mesma, portas que se fecham, portas que se abrem...
No instante em que damos vida a nossos sentimentos construímos um verdadeiro mundo interno,
onde podemos viver tudo novamente,uma verdadeira amizade, um verdadeiro amor; um diálogo apenas, uma correspondência virtual, mesmo que não seja palpável e nem possa sentir o calor de nossos corpos, nem olhar um nos olhos do outro ...
Adeus agora meus pensamentos pesarosos, pois eu uma vez lhe dera poderes transbordantes,
estas chamas ardentes devem retornar, para aquecer meus dias e iluminar minhas horas, para contuir novos caminhos em direção ao amanhã, mas sem nunca se esquecer do ontem.
Eu posso uma vez encontrar você em meu caminho, para celebrar em noites de bebedeira;ou um dialogo acalorado, segurar em suas mãos, e ver como você está!
Mas deverá o ardente retorno do sol separar nossas vidas para sempre?
Os fluídos do amor são emanações invisíveis aos olhos, nem sempre duradouros, se manifesta de varias formas, nem sempre temos certeza; mas são perceptíveis pelos corações; tudo que grita em nossos corpos, em nossas almas, aproximam pessoas de mundos diversos, cingidas num mesmo ideal, pensando o mesmo pensar, querendo o mesmo querer, desejando o mesmo desejo, compartilhando existência, conhecimento, paixão e vida ...
Nós aprenderemos lições, dia após dia, relacionamento após relacionamento,nós estaremos matriculados numa escola informal de período integral chamada vida, o tempo todo apredendo em todas as estações, tão repletas de sonhos e vontades, de curvas e cicatrizes; e a cada dia nesta escola, teremos a oportunidade de aprender lições, somas de valores, histórias de varias vidas, junção de dois corpos, quebra de volores etc...
Nós poderemos gostar dessas lições ou considerá-las irrelevantes ou estúpidas.




W. R. C.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Em algum lugar





Em algum lugar



Até onde vai o pensamento,
O sentimento, a vontade;
Grito silencioso que é levado pelo vento,
Aquela procura, a saudade?

Procuramos fagulhas de vida,
Vivendo partículas de morte,
Em uma realidade perdida...
Em um mundo sem cores, sem sorte.

Somos feitos de sonhos adormecidos,
De amores, de saudades,
Que o tempo vai consumindo,
Em lembranças e vontades.

Famintos insaciáveis,
Sedentos de verdades, e nenhuma se quer,
Caçadores inconstestáveis,
Procurando uma abrigo qualquer...

E vivemos a poeira do tempo...
Semente que plantamos...
Morte e vida que seguimos...
Caminhos que criamos... Sentimento...

E os sussurros que ecoam,
São as roupas que vestimos,
Pensamento que distante voam
Mascaras que usamos?

Parado, me pego recordando
Todo tempo que se foi,
E as gotas que venho despejando,
E o amor que me corrói ...

Devaneios... Sensações... Outro gole...
Página cinzenta e gritos silenciosos...
Vontades embaçadas... Sonho que morre...
Fragmentos de sentidos dolorosos...

Tudo que sei, é que nada sei,
Já foi dito, consumado,
Perdido, arrastado, fora da lei,
Solto no mundo e em algum lugar guardado.



W. R. C.




quarta-feira, 6 de abril de 2011

A Vida Vivida


A Vida Vivida



Quem sou eu senão um grande sonho obscuro em face do Sonho
Senão uma grande angústia obscura em face da Angústia
Quem sou eu senão a imponderável árvore dentro da
noite imóvel
E cujas presas remontam ao mais triste fundo da terra?

De que venho senão da eterna caminhada de uma sombra
Que se destrói à presença das fortes claridades
Mas em cujo rastro indelével repousa a face do mistério
E cuja forma é prodigiosa treva informe?

Que destino é o meu senão o de assistir ao meu Destino
Rio que sou em busca do mar que me apavora
Alma que sou clamando o desfalecimento
Carne que sou no âmago inútil da prece?

O que é a mulher em mim senão o Túmulo
O branco marco da minha rota peregrina
Aquela em cujos abraços vou caminhando para a morte
Mas em cujos braços somente tenho vida?

O que é o meu Amor, ai de mim! senão a luz impossível
Senão a estrela parada num oceano de melancolia
O que me diz ele senão que é vã toda a palavra
Que não repousa no seio trágico do abismo?

O que é o meu Amor? senão o meu desejo iluminado
O meu infinito desejo de ser o que sou acima de mim mesmo
O meu eterno partir da minha vontade enorme de ficar
Peregrino, peregrino de um instante, peregrino de todos os instantes

A quem repondo senão a ecos, a soluços, a lamentos
De vozes que morrem no fundo do meu prazer ou do meu tédio

Qual é o meu ideal senão fazer do céu poderoso a
Língua
Da nuvem a Palavra imortal cheia de segredo
E do fundo do inferno delirantemente proclamá-los
Em Poesia que se derrame como sol ou como chuva?

O que é o meu ideal senão o Supremo Impossível
Aquele que é, só ele, o meu cuidado e o meu anelo
O que é ele em mim senão o meu desejo de encontra-lo
E o encontrando, o meu medo de não o reconhecer?

O que sou eu senão ele, o Deus em sofrimento
o temor imperceptível na voz portentosa do vento
O bater invisível de um coração no descampado ...
que sou eu senão Eu Mesmo em face de mim?



Vinicius de Moraes


terça-feira, 5 de abril de 2011

Cores do meu Mumndo


Cores do Meu Mundo


Subitamente e sem esperar
O tempo foi passando como areia,
Grão por grão se juntando,exposta ao vento noturno,
Lentamente as esperanças davam lugar aos sonhos,
Cores que vão sumindo, jardins que vão secando;
Não sei mais onde foram parar,
Toda a beleza que existia diante de mim,
Quando sempre te via, quando sempre tinha você...

Passado e futuro, tudo de uma só vez,
Agora tudo se foi, tudo se vai,
Não tenha pressa para dizer adeus,
Nem conte as linhas que se escreveram,
Se o dia vai se escurecendo,
Se seus sentimentos vão morrendo...

Para a minha vida, para o meu pensamento,
Em uma única chance eu tento
Jogar os dados no tabuleiro vazio,
Correr as casas em direção ao amanhã;
Para os meus medos,
Pois eu os vejo dia após dia,
Ecoando no espaço negro e frio,
Gritando alto, lamentando erros.

Em algum lugar em meus sonhos eu posso ver,
Deitadas as cores do meu mundo,
Uma a uma se escondendo de mim,
Onde o meu espírito às vezes cai.
E eu me pergunto se há um meio
De pintar estas paredes
Com as cores do meu mundo que
Vivem profundamente em minha alma?

Todo aquele mundo ao meu redor
Sufocou minha força de vontade,
Quando desabou diante de mim,
Naquele cinza eu esfriei lentamente,
Lá, sem nada me arejando,
Às vezes eu me sentia tão velho
Como um homem que viveu por tempo demais.

Cem Anos, cem dias, cem horas...
Eu me rendo aos meus medos,
E confesso meus segredos ao mundo,
Ao papel amarelado, a você.
Mil Anos, mil dias, mil horas...
Eu me entrego sem rodeios,
Queria poder esquecer minhas lágrimas
E minhas noites mal dormidas,
Queria poder ficar sempre ao seu lado.

Agora eu estou aqui sentado,
Num canto de um quarto vazio,
Com olhos perolados, com coração a palpitar,
Em minha mente o silêncio,
A imobilidade de uma penumbra congelada
Em um sorriso roubado, um beijo esperado,
Através dos véus da inconsciência humana
Residem as palavras inomináveis que
Estamos proibidos de saber.

Eu partiria este véu?
Eu romperia para o outro lado?
Em qual direção cairei?
É onde sua mente se foi
E os últimos suspiros ecoam,
Uma viagem sem retorno,
Uma porta que fora aberta,
Outra que fora fechada,
Mistério em cada anoitecer,
Em cada amanhecer,
Através do significado daquilo que chamamos...
Vida...




W. R. C.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O Brilho de seus Olhos



O brilho de seus olhos



Abro a janela, ascendo outro insenço,
Deixo a luz do sol se espalhar pelo quarto
E os pensamentos subirem aos céus;
Música que ecoa com o vento,
Saudade e lamento silencioso,
Manhã solitária, versos sem fim.

Meu jardim espera as primeira gotas cristalinas,
Meus sentidos as lembranças de ontem,
Todas as luzes e aromas,toques e sensações;
O brilho de seus olhos ainda habita meus sonhos
Em noites chuvosas
Quando o céu despeja seu pranto lacrimoso.

Mas o rio segue seu curso
Em direção ao imenso mar,
Não te vi na última curva,
A forte correnteza nos separou,
Páginas que se viram,
Amores que se vão...

O brilho de seus olhos ainda habita meus sonhos,
Meus pensamentos mais profundos,
Desejos cativos, vontades guardadas,
Palavras que não foram ditas,
Beijos que não foram roubados.

Fagulhas faladas, outro pedaço de mim,
Sussurros ao anoitecer;
O amanhecer me traz a saudade;
O entardecer a levou embora,
Deixando apenas uma parte sua comigo.

Tento juntar os pedaços que se fragmentaram,
Moldar aquelas sensações, viver mais uma vez,
Mas você não está aqui;
Tudo se evaporou e foi levado pelo vento,
Pelo tempo que não volta mais.



W. R. C.