quarta-feira, 23 de maio de 2012



Carlos Drummond de Andrade
 Brasil:1902 // 1987
 Escritor/Poeta/Prosador  


O Constante Diálogo


 Há tantos diálogos

Diálogo com o ser amado
                   O semelhante
                   O diferente
                   O indiferente
                   O oposto
                   O adversário
                   O surdo-mudo
                   O possesso
                   O irracional
                   O vegetal
                   O mineral
                   O inominado


Diálogo consigo mesmo
                   Com a noite
                   Os astros
                   Os mortos
                   As ideias
                   O sonho
                   O passado
                   O mais que futuro

Escolhe teu diálogo
                           E
Tua melhor palavra
                         Ou
Teu melhor silêncio.
Mesmo no silêncio e com o silêncio
Dialogamos.  

Carlos Drummond de Andrade,
in 'Discurso da Primavera'


terça-feira, 22 de maio de 2012


Verdades sejam ditas

Esses olhares observadores
Ocultos por máscaras de vidro,
Camuflagens múltiplas
De rostos variados,
Vidas artificiais
Disfarçadas por de trás
De vontades gritantes;
Escondem quereres,
Escorrem sensações...

Pensamentos enclausurados
Debatem-se na jaula
De inúmeros ideais;
Máscaras se colorem
E vestes variadas;
Os homens,
Os seres,
Marionetes perdidas
No tempo e sua evolução,
Que mata sentidos
E sentimentos,
Que afoga
Reflexões profundas,
Que destila venenos mortais.

A roda do destino gira,
E nunca para,
Velas são acesas,
A vida pulsa,
Segue seu curso
Por entre as veias de concreto
Atropelando os distraídos
E dando carona
Aos que ainda se interessam...
W. R. C.

quarta-feira, 16 de maio de 2012



Chamas

Existe um fogo
Que queima feroz em nós,
Paixões que lutam
Para se libertarem
De seus medos
E suas ânsias,
Algozes que surgem de repente,
Do passado
E suas feridas,
No presente
E suas vontades,
Feridas abertas
Que não cicatrizam;
Chama flamejante
Que se diz amor,
Vontades sussurrantes,
Peças de um quebra cabeça
A serem encaixadas.
Abra as janelas
E deixe a luz entrar,
Jogue as pedras
Que pesam seus sentidos fora,
Semeie a terra
Que espera por você,
Sinta-se leve novamente,
Tape a lacuna
Do fundo de sua taça,
E deixe-a se encher
Até transbordar...
Existe uma nova estrada,
Comece a andar,
Perceba suas curvas,
E seus jardins,
Cada porta a se abrir,
Um universo a conquistar;
Um passo de cada vez,
Em direção ao amanhã,
Eu e você,
Linhas que vão se escrevendo,
No traço preciso
De todos os sentimentos,
No decorrer
De cada segundo,
Todo o tempo
Em seus segredos.
As correntes se romperam,
Os cadeados se quebraram,
O caminhar pode ser suave
Em cada passo a ser dado,
O vento irá trazer novidades
Sopradas em suas estações
E sussurros aos ouvidos
Quando falar aos sentidos;
Aves ao redor
Cantando novidades,
Os olhos irão enxergar
Por traz do véu transcendente
A intensidade das chamas
Que queimam vorazes
E incendeiam o coração.

W. R. C.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Em algum lugar do tempo

 Despertar é quase sempre assim, outro dia se abre com o aglomerado de brumas de nuvens lacrimosas no céu, que foram se formando, fumaça dos sentidos de todas as distrações no conjunto disforme de emoções diversas; algumas serão enclausuradas em tumbas gélidas para adormecerem, guardadas distante do presente e suas faces.
Horas e horas e o silêncio venceu a guerra, eu espero aqui parado de costas para a porta que atravessei, o castelo que construi de muitos de meus ideais; o tique e taque do relógio marca as palpitações, coração acelerado ainda espera embora as coisas mudassem em meio aos dias que passam; mudam muito, mudam em mim, em você, é inevitável, tudo em seu tempo se escrevendo e o tempo não irá esperar por ninguém, vira suas páginas e traça suas linhas...
Eu fico quieto observando, em manhãs que falam pouco, absorvendo tudo o que sinto, sentindo aquilo que quero, meus pensamentos se perdem no céu entre nuvens cinzentas e o sol que se esconde às vezes; é sempre assim, as mudanças são lentas, mais são continuas, vem em pequenos passos e seguem sem olhar para trás...
Talvez uma cartomante para ler o futuro ou as linhas disformes de minha mão que querem palpar o amanhã e suas sementes; talvez o destino nos conforte então sobre suas asas e devaneios escrevendo suas palavras, transformando nossos caminhos, moldando sonhos em rochas palpáveis.
Lanço uma moeda no poço profundo de meus sonhos, buscando palavras que ainda não ouvi que falem um pouco mais, talvez o firmamento me dê uma resposta, soprando verdades em meus ouvidos em trovoadas gritantes; talvez a verdade já esteja diante de mim para me mostrar o caminho certo, sussurra vontades em brisa de vento, enterra tristezas em tumbas de pedra, constroem suas pontes sobre abismos de saudades.
As cores da minha vida se transformam e tornaram-se variações de sentidos, no fogo de minhas paixões complexas, tantos caminhos de promessas, indecisões envenenam a mente dos que se perderam no labirinto, uma vontade fala ao coração, saudade tira todo o meu ar, esperança perdida se encontra novamente entre os dias e suas vestes, ela sai para ver o jardim de novidades e suas flores.
No entanto minha jornada deve continuar até o fim, até o fim de meus dias cinzentos quando o sol se mostrar e iluminar os campos verdejantes, essa jornada irá até o fim de minhas ilusões e o começo da realidade, e quando caminho sozinho nos dias enfim, uma voz me alerta, mostra saídas e novos lugares, eu vejo um homem no espelho olhando para mim com chaves e papeis nas mãos, com fogo e brilho nos olhos...
Aqui estou eu, na travessia da vida eu permaneço em suas pontes e portas diversas, olhando de um lado para o outro, guardando o que não posso mais sentir, e distante vejo tudo, vejo alguém, sozinho olhando a estrada, escutando o som de cada vento que sopra em direção às janelas azuis, embora a verdade seja desconhecida e os cavalos correm selvagens pelos bosques verdes da despedida, a vontade se torne muda, o mundo nos mostra várias saídas em tantas portas variadas, nunca se sabe qual é a certa, nem qual levará ao destino querido, mas pode-se saber o que se quer quando começa a caminhada.
Embora os dias sejam frios e as noites agitadas, meu coração queima em chamas, meus pensamentos sobem aos céus, eu caminho sozinho pela estrada e sigo meus ideais em direção ao amanhecer desconhecido e seus jardins que se transformam.
W. R. C.

sexta-feira, 11 de maio de 2012


 
Sempre o Caminho

O pensamento flui
Em direção
As portas flamejantes,
Os versos são feitos de fatos,
A vida se escreve constante,
Vozes que seguem seu curso,
Verdades sopradas então,
Fazem suas curvas
Cantando vontades,
Alimentando sentidos
Em chamas famintas,
Sentindo sem medo
O que pulsa no peito.
Agora se escrevem essas linhas
Com traços de memórias
Desprendidas dos sonhos do eu,
Voam algumas de suas cores
Que gritam em silêncio
Sentimentos e poesias.
Vão se juntando sensações
Que sabem que sobem sozinhas
Mesclada aos vultos do presente
E cada ilusão nebulosa
Falada de forma sombria. 
Perdida sem rumo
Em meio ao barulho
De tantos ideais misturados
E olhares sedentos diversos
Que vêem anseios gritantes
Vestidos em trajes escuros
Cantando canções com o tempo
Deixando seus verbos no ar;
Um passo preciso pela porta
Com falas ferozes que fazem
Suas sinceras sentenças.
E eu a dizer tudo isso
Correndo meu risco,
Meu sangue,
A veia poética cantante,
Canta como antes cantava,
Escreve suas gritantes linhas
E livre abre suas asas;
Voando sozinho agora
Cavalgando em galope veloz,
Cavaleiro do tempo sem culpa
Que traça suas linhas
Escrevendo a história e o caminho
Como sempre fizera e se faz.
W. R. C.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Aristóteles
Grécia Antiga: -384 // -322
Filósofo/Cientista 

A Indagação das Causas e dos Princípios

 Visto que esta ciência (a filosofia) é o objeto das nossas indagações, examinemos de que causas e de que princípios se ocupam a filosofia como ciência; questão que se tomará muito mais clara se examinarmos as diversas ideias que formamos do filósofo. Em primeiro lugar, concebemos o filósofo principalmente como conhecedor do conjunto das coisas, enquanto é possível, sem, contudo possuir a ciência de cada uma delas em particular. Em seguida, àquele que pode alcançar o conhecimento de coisas difíceis, aquelas a que só se chega vencendo graves dificuldades, não lhe chamaremos filósofo? De fato, conhecer pelos sentidos é uma faculdade comum a todos, e um conhecimento que se adquire sem esforço em nada tem de filosófico. Finalmente, o que tem as mais rigorosas noções das causas, e que melhor ensina estas noções, é mais filósofo do que todos os outros em todas as ciências. E, entre as ciências, aquela que se procura por si mesma, só pelo anseio do saber, é mais filosófica do que a que se estuda pelos seus resultados; assim como a que domina as mais é mais filosófica do que a que se encontra subordinada a qualquer outra. Não, o filósofo não deve receber leis, mas sim dá-las; nem é necessário que obedeça a outrem, mas deve obedecer-lhe o que seja menos filósofico.
(...) Pois bem: o filósofo que possuir perfeitamente a ciência do geral tem necessariamente a ciência de todas as coisas, porque um homem em tais circunstâncias sabe, de certo modo, tudo quanto está compreendido sob o geral. Todavia, pode dizer-se também que se toma muito difícil ao homem alçar-se aos conhecimentos mais gerais; as coisas que são seus objetos como que estão mais distantes do alcance dos sentidos.
(...) De tudo quanto dissemos sobre a própria ciência resulta a definição da filosofia que procuramos. É imprescindível que seja a ciência teórica dos primeiros princípios e das primeiras causas, porque uma das causas é o bem, a razão final. E que não é uma ciência prática, prova-o o exemplo dos que primeiramente filosofaram. O que, a princípio, levou os homens a fazerem as primeiras indagações filosóficas foi, como é hoje, a admiração. Entre os objetos que admiravam e que não podiam explicar, aplicaram-se primeiro aos que se encontravam ao seu alcance; depois, passo a passo, quiseram explicar os fenômenos mais importantes; por exemplo, as diversas fases da Lua, o trajeto do Sol e dos astros e, finalmente, a formação do universo. Ir à procura duma explicação e admirar-se é reconhecer que se ignora. (...) Portanto, se os primeiros filósofos filosofaram para se libertarem da ignorância, é evidente que se consagraram à ciência para saber, e não com vista à utilidade.

Aristóteles, in 'Metafísica'

terça-feira, 8 de maio de 2012




Páginas

Escrevem-se tão constantes
Entre os ventos do agora,
Cada partícula que se sente
Desenham suas imagens.

São vozes, são versos,
Tudo que vem se juntado;
São sentidos e pensamentos
Que com o tempo ganham cores;

Pedaços de muitos sonhos...
Fragmento de várias realidades...
Anjo que baila sorridente...
Goles de vida... Verdades rabiscadas...

A fumaça de nossos sentidos,
O sussurro do pensamento,
Sobem pensando no amanhã
Que começa a se formar agora;

Peregrino no caminho escolhido,
Construtor de pontes invisíveis;
Escreve suas linhas imprecisas,
Sopra os seus versos assim.

Palavras sinceras rasgam conceitos,
Ideais medrosos irão esconder quereres;
Retirem as máscaras que ocultam segredos
E deixem sair o que explode em seu peito.

Enquanto verdades são sentidas,
Gritadas do intimo,
Palavras se escrevem
E formam suas linhas,

O amanhã aponta
E no virar de cada página
O novo se escreve
E tudo se renova...

W. R. C.

domingo, 6 de maio de 2012




Em meio aos lobos

Mais uma noite
Remoendo pensamentos
Em meio aos lobos
E os seres noturnos.

O luar outra vez
Grita por meu nome,
Transpondo suas luzes
Por entre folhas amareladas;

Distantes ecoam
Choros e risadas,
Vozes, verso e poesia
Em um embaralhar de sentimentos.

Entre alegrias e mágoas,
Sensações e desejos,
Sinto uma dormência
E perco meus sentidos,

Um som profundo
O uivo dos lobos
Que vai tão distante
Se misturando às memórias vagas.

O luar faz seu chamado
E o perigeu a torna mais bela,
O vento sopra meus versos.

Um frio, o arrepiar,
Sempre pontual
Há zero hora,

Outro uivo e o chamado,
Música sombria
Que paira no ar.

O tempo se escreve
De forma suave vem convidar
Sobre a luz da lua cheia

Chama-me agora:
E em meio a esta alcatéia
Giro, pulo e começo a dançar.

W. R. C.