Em
algum lugar do tempo
Despertar é quase sempre assim, outro dia se abre
com o aglomerado de brumas de nuvens lacrimosas no céu, que foram se formando,
fumaça dos sentidos de todas as distrações no conjunto disforme de emoções
diversas; algumas serão enclausuradas em tumbas gélidas para adormecerem,
guardadas distante do presente e suas faces.
Horas e horas e o silêncio venceu a guerra, eu espero aqui
parado de costas para a porta que atravessei, o castelo que construi de muitos de meus ideais; o tique e taque do relógio marca
as palpitações, coração acelerado ainda espera embora as coisas mudassem em
meio aos dias que passam; mudam muito, mudam em mim, em você, é
inevitável, tudo em seu tempo se escrevendo e o tempo não irá esperar por
ninguém, vira suas páginas e traça suas linhas...
Eu fico quieto observando, em manhãs que falam pouco, absorvendo
tudo o que sinto, sentindo aquilo que quero, meus pensamentos se perdem no céu
entre nuvens cinzentas e o sol que se esconde às vezes; é sempre assim, as
mudanças são lentas, mais são continuas, vem em pequenos passos e seguem sem
olhar para trás...
Talvez uma cartomante para ler o futuro ou as linhas disformes
de minha mão que querem palpar o amanhã e suas sementes; talvez o destino nos
conforte então sobre suas asas e devaneios escrevendo suas palavras,
transformando nossos caminhos, moldando sonhos em rochas palpáveis.
Lanço uma moeda no poço profundo de meus sonhos, buscando
palavras que ainda não ouvi que falem um pouco mais, talvez o firmamento me dê
uma resposta, soprando verdades em meus ouvidos em trovoadas gritantes; talvez
a verdade já esteja diante de mim para me mostrar o caminho certo, sussurra vontades
em brisa de vento, enterra tristezas em tumbas de pedra, constroem suas pontes
sobre abismos de saudades.
As cores da minha vida se transformam e tornaram-se
variações de sentidos, no fogo de minhas paixões complexas, tantos caminhos de
promessas, indecisões envenenam a mente dos que se perderam no labirinto, uma
vontade fala ao coração, saudade tira todo o meu ar, esperança perdida se
encontra novamente entre os dias e suas vestes, ela sai para ver o jardim de
novidades e suas flores.
No entanto minha jornada deve continuar até o fim, até o fim de meus dias
cinzentos quando o sol se mostrar e iluminar os campos verdejantes, essa
jornada irá até o fim de minhas ilusões e o começo da realidade, e quando
caminho sozinho nos dias enfim, uma voz me alerta, mostra saídas e novos
lugares, eu vejo um homem no espelho olhando para mim com chaves e papeis nas
mãos, com fogo e brilho nos olhos...
Aqui estou eu, na travessia da vida eu permaneço em suas pontes e portas diversas,
olhando de um lado para o outro, guardando o que não posso mais sentir, e
distante vejo tudo, vejo alguém, sozinho olhando a
estrada, escutando o som de cada vento que sopra em direção às janelas azuis, embora
a verdade seja desconhecida e os cavalos correm selvagens pelos bosques verdes
da despedida, a vontade se torne muda, o mundo nos mostra várias saídas em
tantas portas variadas, nunca se sabe qual é a certa, nem qual levará ao
destino querido, mas pode-se saber o que se quer quando começa a caminhada.
Embora os dias sejam frios e as noites agitadas, meu
coração queima em chamas, meus pensamentos sobem aos céus, eu caminho sozinho
pela estrada e sigo meus ideais em direção ao amanhecer desconhecido e seus
jardins que se transformam.
W. R. C.