segunda-feira, 27 de junho de 2011

Friedrich Wilhelm Nietzsche






Friedrich Wilhelm Nietzsche
Alemanha: 1844 // 1900
Filósofo


Pensamentos não Acabados

Tal como não só a idade viril, mas também a juventude e a infância têm um valor em si e não devem de modo algum ser consideradas somentes como passagens e pontes, assim também os pensamentos não acabados têm o seu valor. Não se deve por isso, atormentar um poeta com uma subtil interpretação e divertir-se com a incerteza do seu horizonte, como se o caminho para vários pensamentos ainda estivesse aberto. Está-se no limiar; espera-se como no desenterramento de um tesouro: é como se devesse estar iminente um feliz achado de pensamento profundo. O poeta antecipa qualquer coisa do prazer que o pensador tem, ao encontrar uma ideia fundamental, e, com isso, torna-nos cobiçosos, de modo que nós tentamos apanhá-la; esta, porém, passa, esvoaçando, sobre a nossa cabeça e mostra as mais belas asas de borboleta... e, contudo, escapa-nos.


Os Poetas Tornam a Vida mais Leve

Os poetas, na medida em que também querem tornar mais leve a vida das pessoas, ou desviam o olhar do trabalhoso presente ou ajudam o presente a adquirir novas cores, graças a uma luz vinda do passado que fazem irradiar sobre ele. Para poderem fazê-lo, têm eles próprios de ser, em muitos aspectos, seres voltados para trás: de maneira que se os pode utilizar como pontes para chegar a tempos e concepções muito distantes, a religiões e civilizações em vias de extinção ou já extintas. (...) É certo que há algumas coisas desfavoráveis a dizer quanto aos meios de que eles se servem para aligeirar a vida: apenas sossegam e curam provisoriamente, só de momento; até impedem as pessoas de trabalhar na realidade por uma melhoria da sua situação, precisamente enquanto suprimem e descarregam, por meio de paliativos, a paixão dos insatisfeitos, que incitam à acção.


Friedrich Nietzsche, in 'Humano, Demasiado Humano'


Amanhecer Distante





Amanhecer distante

É uma sensação dolorosa,
Quando min'alma está sangrando,
Eu me sinto tão pequeno, tão sozinho,
Temendo que isto nunca vá acabar,
E que nunca mais irá amanhecer;
Não posso entender a dor nos meus ossos,
O que faz meu corpo tremer,
Estes tormentos em noites frias,
Em sonhos cinzentos, em dias sem flores,
Tudo isso que me dilacera por dentro;
Eu durmo através de outra inconsciência...
Agora escalo o arco-íris, piso em nuvens escuras,
Daqui posso ver o bastante,
Sentir com mais força, quase posso entender;
Essas curvas constantes em nossos caminhos,
Esse subir em muros de decisões medonhas,
Precisamos de alguém para nos descer...
Mas em quem podemos confiar?
Tenho tantas coisas a dizer,
Tudo isso que me sufoca, que explode em meu peito,
Que rasga minha carne, e atormenta min'alma...
Como um anjo caído eu corro, tento voar e não posso,
Grito o mais alto em direção ao firmamento
Tento alcançar as dádivas do céu e não consigo,
Não vou ao menos ver o sol, sentir seu calor novamente,
Estas nuvens cinéreas não se dissipam,
Estão diante de meus olhos;
Veja, o círculo está completo agora,
A aureola brilhante se formou,
No entanto a colheita permanece incompleta,
Os frutos ainda não estão maduros...
Onde os venenos surgem e os predadores rastejam,
A terra perde seu brilho,
Quando buscamos o amanhecer e não o encontramos,
Continuamos o caminho por entres árvores opacas,
Nesta floresta de ideias e sentimentos sem fim;
Todos os sonhos descem com o medo,
E se enterram com as dúvidas,
E as palavras somem no tempo,
Perdidas entre o ontem e o hoje,
Esmagadas pela escuridão que reside dentro,
Que se forma envolta em pensamentos,
Em sentimentos incompletos, incompreendidos,
Em manhãs frias, repletas de lastimas,
E tudo que me grita a saudade
Ou essa vontade de nem sei o que mais,
O que desenha nossos sonhos
E rabisca em nossos corações
Sensações ressurgidas
Memórias adormecidas, visões embaçadas...
Quanto irá amanhecer novamente?

W. R. C.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

São Linhas






São linhas



Sozinho me perco em pensamentos
E vou sem perceber do céu ao inferno
De toda minha consciência;
Já não posso conter os traços,
Já não posso mais conter as letras...

O entardecer arrasta sentimentos diversos,
Pássaros que voam em silêncio,
Pedaços de mim espalhados pelo papel,
Gritos de lamentos levados pelo vento,
Horas tortuosas, cheiro de curva, paixão...

A noite cai devagar, olhar perdido,
Soluços que ecoam, linhas que se escrevem!
Os frutos da árvore cinzenta são amargos,
As flores desbotadas não possuem mais perfume;
E eu só quero encontrar o caminho de casa...

Deixe a melodia se propagar
Nas esquinas escurecidas,
Por entre becos e ruas vazias,
Entre a fumaça e o cheiro da noite,
O fim de um ciclo e o inicio de outro...

Suba no picadeiro, declame sua vida,
Grite aos quatro cantos,
Uns quatro versos, e nada mais:
Pois a platéia está distraída e nem se importa,
Escreva sua vida, construa suas pontes...

Seque toda e qualquer lágrima,
Suba a árvore do conhecimento: e sente-se;
Pense no ontem, no hoje e no amanhã,
Feche uma porta e abra outra,
Tire do rascunho cada sonho seu...

Lance suas sementes, por todos os lugares,
Deixe brotar novidades, surgir verdades,
Cada linha, cada letra, toda uma história,
Cada verbo, cada fruto, tudo novamente,
Em direção ao amanhã, página por página...

São passos sorrateiros,
São peças pequeninas,
São páginas rabiscadas,

São vozes que se perdem,
São sonhos que se vivem
E linhas que escrevem...



W. R. C.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Solstício de Inverno






O inverno de 2011 terá início durante o "solstício" no dia 21 de junho, terça feira, às 14 horas e 16 minutos.
No hemisfério sul, ocorre sempre por volta de 21 de junho, e no hemisfério norte por volta de 21 de dezembro. Esta será a noite mais longa do ano e o dia em que o Sol atinge o seu grau mínimo de luminosidade na Terra.
A partir desta data, o Sol renasce e retorna a seu ciclo em torno do planeta, cada vez mais forte, para chegar ao seu ápice no solstício de verão. Assim, o Solstício de Inverno é também uma comemoração do renascimento.
Esta data marca o fim do outono, que representa a morte do que não nos serve mais e ao mesmo tempo o início do inverno, trazendo com ele seus ensinamentos e Simbolismo.

Este é um período de recolhimento, avaliação, purificação renovação e celebração.
É o momento do ano que marca o retorno da luz no sentido real e simbólico, pois a partir desta noite o sol fica mais forte no céu, e os dias se tornam gradualmente mais longos.
É a época em que a natureza está adormecida, e em que muitas plantas morrem , o fim do que foi plantado, mas também é o momento de fertilizar o solo para o plantio na primavera.

Recolhimento – Momento de quietude, introspecção e propício a observação dos sonhos. O inverno favorece o recolhimento, o entrarmos para dentro de nós buscando a nossa sabedoria interior e o auto desenvolvimento. Na quietude podemos alcançar a compreensão de nossas vidas e do nosso “caminhar” no mundo, o que estamos construindo e o necessita de maior dedicação.

Avaliação – Tempo favorável para revermos os nossos valores e os nossos propósitos, além das coisas que realmente são importantes na nossa vida, olhando para frente os dias maravilhosos que estão por vir. Também é um momento oportuno para avaliarmos o que aprendemos até agora, o que conquistamos e quais as mudanças que são necessárias em nossos caminhos.

Purificação – Momento para nos desfazermos daquilo que já não nos serve mais, seja fisicamente, emocionalmente ou espiritualmente; nos libertarmos de velhos padrões emocionais, acontecimentos passados que influenciam negativamente o momento presente e de tudo o que não é saudável em nossas vidas. Propício para queimarmos simbolicamente tudo o que não serve mais e, dessa forma, abrirmos espaço para o novo, trazendo mais equilíbrio e objetividade para as nossas vidas.

Renovação – O fogo transmutador trás a simbologia da luz como indicadores de renovação. Após a purificação, auto-avaliação e recolhimento, vem a renovação. Renovação de nossa força interior, de nossos objetivos e das nossas esperanças. A partir deste momento, estaremos renovados e abertos para o novo.

Celebração - tempo que homenageia o amor e o novo nascimento, bem como a unidade coletiva do homem; contemplação da importância do Sol para vida.
Celebremos o renascimento de todos nós!

domingo, 19 de junho de 2011

Palavras sussurradas





Palavras sussurradas


O céu claro escondeu meus sonhos esta manhã
Por trás de luzes cintilantes,
Que brotam de minhas ideias;
E meus pensamentos, e meus sentimentos,
Sobem como fumaça de incenso
Em direção ao amanhã,
Arrastando correntes do ontem,
Procurando respostas
Que como gotas cristalinas
Inundam a taça das vontades,
Transbordam os vasos da saudade,
E enchem o jarro da procura...
Um manancial de lágrima se formou;
Onde se afogam todos os amantes,
E navegam todos os que ainda se atrevem a sonhar,
Com amores de cores variadas,
Sem as dores constantes que ainda são gritadas,
Levada pelo tempo e seus comparsas
E que ecoam no imenso e azulado céu.
Agora só a triste música se ouve,
Lamento dos que se perderam em auto mar,
E cantam seus amores aos oceanos
Como sereias sedentas por amor e a carne dos homens;
Agora navegando em direção ao por do sol,
Em suas embarcações conduzem seus medos,
Suas vontades e seus desejos:
São tantos invernos que passam,
E tantas lembranças que ficam,
Guardadas no fundo do peito,
Escritas no intimo d'alma,
Vividas novamente em cada sonho...
Cavaleiro dos vales sombrios,
Guerreiro dos bosques cinzentos,
Com sua espada de verbos na mão,
Olhos brilhantes e coração a palpitar;
Segue em galope veloz
Buscando o que deixou para trás,
Tudo que tentou cultivar
Que não brotam mais em seus jardins,
Flores que secaram, sentimentos que sumiram,
Corpos que não se unem mais,
Vozes que se calaram, paixão que se extinguiu,
Palavras que perdem seu valor...
Parado em frente ao precipício,
Observando o horizonte enegrecido,
Pássaros que alçam voo
E lamentos que ecoam distantes;
Perdido entre as eras, entre o que foi
E o que não voltara a ser,
Acorrentado a um sentimento que só ficou na recordação,
Poeira cósmica de devaneios sem fim,
Pedaços brilhantes de vontades perdidas,
Fagulha de vida... Desejos pingados...
Palavras sussurradas para o amanhecer...


W. R. C.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Alma Faminta




Alma faminta


Nada sacia esta fome insana e voraz,
Que devora os sentidos
E assassina a razão;
Esta loucura sóbria
É quem indica a perdição e o caminho...
Anseio por um instante apenas
Em que não agonize,
Ou me afogue em minhas memórias,
Quando sem nem mesmo perceber
Vago entre pensamentos e emoções...
Passeio silenciosamente pelas sombras deste momento,
Como morto-vivo em busca de sua gélida sepultura
Para que possa adentra-la e cair em sono profundo,
Ver onde os sonhos se conduzem
Livres de tempo e espaço
Em uma realidade de múltiplos sentidos.
Quero sonhar, sentir novamente,
Ver aquele doce semblante sob a pálida luz do luar;
Mas o que vejo agora,
São rostos desconhecidos e medonhos vultos,
Fantasmas famintos e desesperados,
Que vagam diante de meus turvos olhos
Atormentando o presente, silenciando o passado.
Como saciar esta fome
Se o que a sacia está do outro lado da janela?
Os dias se tornam cinzentos e escuros
Quando a mente se perde em recordações;
As horas, gotas de vontade,
Quando o coração sente o gosto da saudade...
Afundo-me lentamente em um sentimento profundo,
A alma sente esta dor,
São insetos carnívoros a nos devorar,
É o fogo de uma paixão que perdeu seu ritmo.
Quero mais uma vez gritar...
Uma ultima vez e me calar...
Correr em direção às portas flamejantes,
Nada mais é certo,
Tudo agora é novo,
Não sei como voltar ao inicio:
Este rosto que lembrei nesta manhã fria,
É o mesmo que agora me despeço.




W. R. C.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Sophia de Mello Breyner




Bebido o luar


Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.

Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.

Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.


Sophia de Mello Breyner


segunda-feira, 13 de junho de 2011

A Despedida




A despedida



Vejo os primeiros raios de sol,
Cruzam minha janela como facas afiadas,
Passaros falantes estão em silêncio,
Flores vermelhas agora se foram,
Paredes me contam seus segredos
Lágrimas desenham um sentimento.

Os papéis se espalham ao vento,
Palavras se formam em brasa e fogo,
Lembraças que rasgam o peito,
Dados que correm a mesa,
Dúvida amarga, palida certeza,
O leito profundo... O jogo...

Essa voz ecoa distante, bem distante,
Nuvens que formam saudade,
Música em sons brilhantes,
Sombras e sorrisos,
Sentimento constante... Vontade...

A hora se vai, uma outra já vem,
Corredores se tornam estreitos,
Um passo de cada vez e outra porta,
Os sinos tocam alto, o uivo do tempo,
É triste quando a fechadura recusa a chave.

Escuto meu nome lá fora,
Vejo seus olhos no céu à noite,
Um luar e um convite, o vinho seco,
Somente um palpite e nuvens cinzentas,
As copas das árvores, o leito escondido,
O livro sagrado, suspiros profundos,
A água da fonte e um pão mordido.

Não podemos nos esconder,
Este manto negro se rasgou
E todos os sons de sentimentos sairam,
Sobem aos céus, busca o que pensei que era meu
E se perde além do horizonte...

As linhas se findam, os olhos se fecham,
A boca seca não bebe mais das fontes de amor,
Anjos que vagam por bosques silenciosos,
Luz que se perde lentamente, frio,
Sigo meus passos adiante,
E vou embora, é só me despedir.



W. R. C.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Manhã Nublada








Manhã Nublada


Esta manhã nublada,
Onde o pensamento é um grito mudo,
Lamento silencioso que paira no ar,
Gemido profundo que se propaga além do horizonte,
Perdido na selva de pedras,
Pedaço d'alma que ecoa na imensidão do firmamento
Nebuloso, frio, cinzento!
A noite que se seguiu, foi um vento que soprou,
Linhas que foram escritas,
Sonho em lembrança que surgiu,
Momento agradável que se foi,
Rosto que sem dizer adeus simplesmente se vão....
Fragmentos de memórias que causam dor,
Que atormenta a alma faminta,
Sussurros de amor, que se perdem distantes,
Páginas escurecidas, anoitecer de sentimentos;
A dor do ser, é a dor do que nem sabe o que querer
De como fazer, pois suas mãos estão vazias!...
O pensamento se torna concreto por um instante,
Rocha sólida que despenca a ladeira dos sentimentos
Evaporando rápido como os desejos do momento,
Subindo aos céus como nuvens cinzentas
De sentimentos que ainda pulsam
E suas paixões borbulhantes e sem sentido,
As mesmas do presente...
Do passado...
De qualquer outra época...
O tédio se alimenta de minhas lembranças, de meu amor,
De toda sede que não se sacia;
As areias do tempo me sufocam, nada mais tem valor,
Não sem as cores que perdi,
Um cenário preto e branco é tudo que restou,
Silêncio que sangra meus ouvidos,
Vontade gritante que dilacera meu peito.
Nesta manhã nublada
Caminho sem sabem para onde ir,
Vou as esquinas enegrecidas da saudade,
Aos bosques cinzentos da procura,
Em quartos vazios, em bibliotecas escurecidas,
Quero fechar os olhos e não mais abri-los,
Despencar em sonhos escuros onde não tem amanhecer;
Semear saudade e o tempo que não posso mais viver,
Pois me perdi em minhas procuras
E deixei meu tesouro partir,
Não sei como tê-lo de volta,
Não tenho meios para busca-lo,
O labirinto agora está cheio de corredores novos,
E meu jardim permanece em silêncio profundo.


W. R. C.


quinta-feira, 9 de junho de 2011

Pedro Kilkerry



É o Silêncio...



É o silêncio, é o cigarro e a vela acesa.

Olha-me a estante em cada livro que olha.

E a luz nalgum volume sobre a mesa...

Mas o sangue da luz em cada folha.





Não sei se é mesmo a minha mão que molha

A pena, ou mesmo o instinto que a tem presa.

Penso um presente, num passado. E enfolha

A natureza tua natureza.

Mas é um bulir das cousas... Comovido

Pego da pena, iludo-me que traço

A ilusão de um sentido e outro sentido.

Tão longe vai!

Tão longe se aveluda esse teu passo,

Asa que o ouvido anima...

E a câmara muda. E a sala muda, muda...

Àfonamente rufa. A asa da rima

Paira-me no ar. Quedo-me como um Buda

Novo, um fantasma ao som que se aproxima.

Cresce-me a estante como quem sacuda

Um pesadelo de papéis acima...



E abro a janela. Ainda a lua esfia

últimas notas trêmulas... O dia

Tarde florescerá pela montanha.





E ó minha amada, o sentimento é cego...

Vês? Colaboram na saudade a aranha,

Patas de um gato e as asas de um morcego.



Pedro Kilkerry

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Cicatrizes





Cicatrizes


Sozinho entre quatro paredes
Onde o som de melodias diversas
Me conduz a lugares distantes,
Pensamentos e saudade se misturam,
Um redemoinho enfumaçado de aromas variados
Desenham rostos diante de meus olhos;
São os fantasmas de minha consciência,
Devoradores insaciáveis de minhas paixões,
Cães sanguinolentos de meus pesadelos,
Pedaços arrancados de meu coração...

Mais um gole de vida, suspirar profundo,
Olhos que veem as sombras dos dias que se foram,
Lágrimas regam os jardins ressecados
Onde os pássaros em silêncio observam;
Onde a mão trêmula revira a terra,
Onde se enterra o último gemido de amor,
A última gota de gozo,
A paz que aquelas noites me deram,
Memórias guardadas em gavetas empoeiradas,
A derradeira página virada.

São portas diante de nós,
São portas que ficaram para trás,
O labirinto chama nossos nomes,
Corredores que se dividem e se multiplicam,
Inúmeras possibilidades surgem,
Novos quadros, novos rostos, novas páginas...
Sentimentos gritantes, pulsar de menbros e órgão,
Velhos habitos, velhos desejos, velha paixão...

Cicatrizes profundas no intimo d'alma,
Fagulhas que se eternizou nos pensamentos,
Momentos ocultos parados no tempo;
Cicatrizes sangrentas no peito agora,
Palpitar do coração solitário,
Ritmo desconexo que falta mais um;
Cicatrizes transcritas em folhas amareladas,
Cicatrizes... Cicatrizes... Cicatrizes...

W. R. C.


segunda-feira, 6 de junho de 2011

Tateando Sombras




Tateando Sombras


Tateando sombras
Como cego que tateia sensações,
Procurando sentidos isolados,
Partículas de mundos pingados lentamente,
Lembranças arrastadas às profundezas
Do oceano nebuloso de ideias;
Palavras que constroem castelos de areias,
Fogo feroz que incendeia as paixões,
Vultos que dizem o que não queremos ouvir,
Verdades sopradas em direção ao horizonte.

Reflexos distorcidos em espelhos empoeirados,
Soluços que ecoam por corredores vazios:
São os rostos e as vozes dos sentimentos que seguem;
Pássaro silencioso que cruza os céus,
Flores escurecidas que se despedaçam no asfalto,
Lágrima vermelha que brota da saudade,
Portas de chumbo que se fecham de repente...

Somos feitos de cinzas de estrelas,
Somos parte de um todo,
Gritos que não levam a nada, que se perdem;
Música feita na encruzilhada,
Ecoando em quatro direções,
Em quatro estações,
Em diversas emoções que se misturam,
Que vem e vão, que se encontram e que se perdem...

Pedras lançadas para cima,
Porcos jogados às pérolas,
E pérolas aos porcos;
Estrada na contra mão,
Um telefone na espera, sussurro adormecido,
Beijos úmidos em lábios vazios,
Flor e espinho, inicio de uma nova era...

Somos a ejaculação de um pensamento,
O parágrafo de uma só linha,
A manifestação dos tormentos, dor em carne viva,
Amantes em sua interminável espera,
Construtores de muralhas, destruidores de pontes,
Sentados no alto da colida
Colhendo espinhos na primavera.

Sonhos em cores opacas,
Sedentos em um manancial de emoções;
Caminhando por dias pingados,
Escrevendo desilusões transparentes,
Atuando em cenários rubros reluzentes,
Entre rostos e amores de plástico,
Noite e dia, dia e noite,
Tateando sombras...



W. R. C.



sexta-feira, 3 de junho de 2011

Sócrates






Sócrates e a Imortalidade da Alma


No ano 399 antes da era cristã, o Tribunal dos Heliastas, composto por representantes das dez tribos que compunham a democrata Atenas, reunia-se com seus 501 membros para cumprir uma obrigação bastante difícil. Representantes do povo, escolhidos aleatoriamente, estavam ali para julgar o filósofo Sócrates.

O pensador era acusado de recusar os deuses do Estado, e de corromper a juventude.

Figura muito controversa, Sócrates era admirado por uns, criticado por outros.Tinha costume de andar pelas ruas com grupos de jovens, ensinando-os a pensar, a questionar seus próprios conhecimentos sobre as coisas e sobre si mesmos.

Sócrates desenvolveu a arte do diálogo, a maiêutica, este momento do "parto" intelectual, da procura da verdade no interior do homem. Seus dizeres: "Só sei que nada sei" representam a sapiência maior de um ser, reconhecendo sua ignorância, reconhecendo que precisava aprender, buscar a verdade.Por isso foi sábio, e além de sábio, deu exemplos de conduta moral inigualáveis.

Viveu na simplicidade e sempre refletiu a respeito do mundo materialista, dos valores ilusórios dos seres, e das crenças vigentes em sua sociedade. Frente a seus acusadores foi capaz de lhes deixar lições importantíssimas, como quando afirmou:"Não tenho outra ocupação senão a de vos persuadir a todos, tanto velhos como novos, de que cuideis menos de vossos corpos e de vossos bens do que da perfeição de vossas almas."







O grande filósofo foi condenado à morte por cerca de 60 votos de diferença. A grande maioria torcia para que ele tentasse negociar sua pena, assumindo o crime, e tentasse livrar-se da punição capital, com pagamento de algumas moedas. Com certeza, todos sairiam com as consciências menos culpadas.Todos, menos Sócrates que, de forma alguma, permitiu-se ir contra seus princípios de moralidade íntimos. Assim, aceitou a pena imposta. Preso por cerca de 40 dias, teve chance de escapar, dado que seus amigos conseguiram uma forma ilícita de dar-lhe a liberdade. Não a aceitou. Não permitiu ser desonesto com a lei, por mais que esta o houvesse condenado injustamente. Mais uma vez exemplificou a grandeza de sua alma. E foram extremamente tranqüilos os últimos instantes de Sócrates na Terra.

Uma calma espantosa invadia seu semblante, e causava admiração em todos que iam visitá-lo. Indagado a respeito de tal sentimento, o pensador revelou o que lhe animava o espírito: "Todo homem que chega aonde vou agora, que enorme esperança não terá de que possuirá ali o que buscamos nesta vida com tanto trabalho! Este é o motivo de que esta viagem que ordenam me traz tão doce esperança."

Sim, Sócrates tinha a certeza íntima da imortalidade da alma, e deixou isso bem claro em vários momentos de seus diálogos. A perspicácia de seus pensamentos e reflexões já haviam chegado a tal conclusão lógica. O grande filósofo partia, certo de que continuaria seu trabalho, de que prosseguiria pensando, dialogando, e de que desvendaria um novo mundo, uma nova perspectiva da vida, que é uma só, sem morte, sem destruição...

A Casa





A casa



Um pensamento profundo subiu aos céus,
Borbulhando sentimentos silenciosos,
Espalhando poesia em estações perdidas,
Onde os anjos vão para chorar
E as borboletas fazem seus discursos
Debaixo do círculo dourado flamejante.

A cortina desce rapidamente, tão vermelha,
E os sinos de ninhos flutuantes tocam novamente,
Amores de plástico imploram atenção,
Corações de papéis incendeiam em um instante,
Vozes que ecoam pelos cantos da casa
Trazendo perguntas do alto de seus medos.

Palavras flutuam em xícaras de saudades,
E sobre a mesa o pão fatiado,
Cortado em pedaços sem respostas;
Migalhas de vontades espalhadas pelo chão,
São varridas para baixo dos tapetes
Onde se escondem todas as verdades mundanas...

São dez horas no alto do telhado,
Passeiam por ele sonhos e desejos,
Que se espalham por toda parte
Em direção ao amanhã e seus enigmas;
E minhas janelas a muito estão abertas,
Muros cansados, portões escancarados, jardim mudo.

A casa aparentemente está em ordem,
Suas mobilias escurecidas, seus papéis amarelados,
Portas fechadas, cortinas abertas,
Lençóis amarrotados,
Saudade em gavetas empoeiradas,
Sala de estar cheia de maçãs...

Da porta da entrada ecoam sentidos,
De cores diversas, de vários sabores,
Do ontem e do hoje e para daqui a pouco;
São os devaneios perdidos na noite que se foi,
Que demoram voltar para casa
E que muitas vezes ainda voltam sozinhos...



W. R. C.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Vergílio António Ferreira






Vergílio António Ferreira
Portugal:1916 // 1996
Escritor/Ensaísta/Professor


Todo o Presente Espera pelo Passado para nos Comover

Há vária gente que não gosta de evocar o passado. Uns por energia, disciplina prática e arremesso. Outros por ideologia progressista, visto que todo o passado é reaccionário. Outros por superficialidade ou secura de pau. Outros por falta de tempo, que todo ele é preciso para acudir ao presente e o que sobra, ao futuro. Como eu tenho pena deles todos. Porque o passado é a ternura e a legenda, o absoluto e a música, a irrealidade sem nada a acotovelar-nos. E um aceno doce de melancolia a fazer-nos sinais por sobre tudo. Tanta hora tenho gasto na simples evocação. Todo o presente espera pelo passado para nos comover. Há a filtragem do tempo para purificar esse presente até à fluidez impossível, à sublimação do encantamento, à incorruptível verdade que nele se oculta e é a sua única razão de ser. O presente é cheio de urgências mas ele que espere. Ha tanto que ser feliz na impossibilidade de ser feliz. Sobretudo quando ao futuro já se lhe toca com a mão. Há tanto que ter vida ainda, quando já se a não tem...

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 5'

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Amores que vem, Que vão e que ficam






Amores que vem,
Que vão e que ficam



São tantos pensamentos... Sentidos...
Sensações ressurgidas... Sentimentos...
Vontades que ainda gritam...
Verdades que ficaram caladas...
Passeiam por minhas memórias,
Como sonhos intermináveis;
Aqueles que não se quer acordar,
Que quer seguir adiante
De mãos dadas com este amor,
Sentindo cada beijo novamente,
Cada toque, todo fogo
Que um dia existiu e que ainda é tão constante.
Amor que foi, amor que se vai,
Que todas as noites vem
E desaparece todas as manhãs
Deixando cravado no fundo do peito
Um sentimento que nunca mais quis ir embora...
Amor veneno, amor bandido,
Faminto e insaciável,
Cruel, impiedoso, mas sempre fiel,
A todos aqueles que souberem cultiva-lo,
Alimentar suas manhas,
Apaziguar suas dúvidas,
Colorir suas telas, acalmar seus medos,
Preencher cada lacuna;
Sempre a dois: eu e você...
São tantos dias que se foram,
Páginas que por fim se viraram,
Sonhos que vão perdendo suas cores
Seu calor, mas que ainda existem;
Pedaços pequenos de uma vida,
Fagulhas sentidas de uma perda,
Partículas escritas de uma paixão...
Agora só nos resta o presente,
É tudo que temos;
Este, repleto de lembranças,
Cada um com outras procuras,
Perguntas... Respostas...
Outros cenários, a saudade
E sonhos para o amanhã...
Agora só nos resta seguir em frente,
A extensa estrada da vida,
Lançar novas sementes,
Esperar colher velhos frutos,
Ver se olhares se cruzam novamente,
Corpos se incendeiem no calor de um abraço,
Em esquinas iluminadas
Ou em sonhos em preto e branco...
Agora só nos resta esperar o amor florescer,
Este amor cheio de mistérios,
De segredos, de sussurros,
Que sem se despedir se distancia,
Que vem e que vai,
E que muitas vezes mesmo tendo partido ainda fica,
E fica sozinho, calado, perdido;
A esse simplesmente
Pedimos um pouco de compreensão...
Pois bons foram os dias que vivemos,
Horas que voavam quando junto estávamos,
Cada sentimento, cada lembrança,
Que ficaram guardados no fundo d'alma,
E todas as melodias que ainda tocam no coração
E que iluminam as noites escuras
Ecoarão para sempre ressoando neste amor que ficou...


W. R. C.