terça-feira, 28 de agosto de 2012



Poema III
 
Juntam-se as palavras
Sopradas aos ouvidos
Dos que ainda
As querem ouvir,
Em tons e gemidos,
Em folhas rasgadas,
Em muito sentir;
Abra a porta e seja bem vinda...
 
Após semear trovoadas
O jardim revela suas cores,
Os versos transcrevem
Soluços e sensações,
Partículas de amores,
Respostas sopradas,
Inúmeras soluções;
Verdades então se escrevem...
 
Idas e vindas, outros passos
No labirinto e suas linhas
E tudo que se transforma
Nessas páginas rabiscadas;
E o andarilho ainda caminha
Ocultando seus rastros
Seguindo sua jornada
Impondo suas normas...
W. R. C.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Fotografia antiga e noticias relembrada

Fico sentado diante dos fatos revirando paginas empoeiradas, do tempo que passou; noticiários em folhas de jornais escrevem o cotidiano das grandes cidades, o pensamento corre solto nas avenidas, são veias agitadas a pulsar, repletas de homens e seus gestos, fazendo suas colagens do que vai se juntando entre os dias e suas cores, o jornal e seus dissabores e o café de todas as manhãs; cada um em seu caminho, este que quase sempre desbota depois que o tempo faz sua curva e deixa esses papeis que se escrevem, suas imagens envelhecem, e os dias seguem seu curso cheio de rostos, desses seres que se descrevem em atos marcados, em feitos heróicos ou fatídicos que por alguns serão lembrados.
Uma fotografia velha guarda inúmeros segredos, noticias relembrada: tudo que ficou arquivado nas enciclopédias de tantos convidados, que deixaram suas marcas, que sorveram os venenos, que lançaram os seus dardos, que compartilharam essências e riscaram os seus livros antes da próxima estação que embarcaram. O tempo deixou saudade, poeira soprada adiante, sentimentos e sentidos remodelados com o passar das décadas enquanto a imagem ainda está em uma moldura na estante; as notícias irão se renovar assim como as flores após o seu sono, o homem continuará a caminhar assim como a imagem vai se apagando; outro café, mais uma olhada, outra mancha que se vê após o derradeiro gole de vida, gotículas pingadas na fotografia antiga.
Tão difícil para me manter acordado quando o caminho se torna agitado e portas se tornas escolhas, entre os dias e suas penas e cada verdade que vai se mostrando, o abrir e fechar de cada vontade; um sono de desejos desaba soterrando tudo momentaneamente entre as fotos e os fatos e as ruas que não mais se encontram; sigo por essa estrada onde vejo meus dias, suas sombras e cada pedra que vai se juntando entre os pensamentos escurecidos e suas buscas que falam tanto, pisando neste solo muitas vezes seco cheio de flores e folhas mortas onde brotam arbustos de temporário silêncio e espinhos de leito solitário onde a derradeira faísca se escondeu...
Papeis se escrevem no dia a dia de todos nós, o tempo se despede enquanto envelhecem suas lembranças, o amanhã aguarda ansioso por suas novas paginas; é necessário que se publique novidades em bons feitos nos jornais do presente de cada individuo que também se faz presente, e necessário que se guarde o antigo no fundo do peito para quando fizer a próxima curva e escrever a próxima linha possa mais uma vez dizer: _Que entre uma imagem e uma nova notícia, os passos vão seguindo adiante, construindo um destino, remendando sentimentos, criando possibilidades, guardando cada feito, renovando muitos atos e tirando outras fotos.   
W. R. C.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012



Espero 

Subo aos céus
Em um salto só,
Buscando janelas
Que mostrem
A verdade,
Que iluminem
O caminho
E abra suas portas;
Que desenhe
Sentidos,
Que expulse
A saudade...
Se escrevendo
Em linhas discretas,
Em linhas tortas,
No barro
Que somos feitos,
Nas cinzas,
No pó...
Minhas palavras
Parecem perdidas,
Em cada curva
E seus versos,
Em dias escuros
Ou ensolarados,
No tempo enfim...
O vento irá levar
Esse sentimento latente
Que grita em mim?
O sol que raiou
Nesta manhã que segue
Irá secar cada lágrima
Que caíram por aqui?
Um novo caminho
Irá se iniciar,
Com passos lentos
Nesse labirinto disforme
De corredores estreitos;
Entre o frio vidro
E outras janelas iluminadas;
Pássaros que vigiam
Do alto das estações
E suas imagens
Em direção ao amanhã...

W. R. C.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012



Antônio Maria Lisboa
Portugal: 1928 // 1953 Poeta

Rêve Oublié

Neste meu hábito surpreendente de te trazer de costas
Neste meu desejo irrefletido de te possuir num trampolim
Nesta minha mania de te dar o que tu gostas
E depois esquecer-me irremediavelmente de ti

Agora na superfície da luz a procurar a sombra
Agora encostado ao vidro a sonhar a terra
Agora a oferecer-te um elefante com uma linda tromba
E depois matar-te e dar-te vida eterna

Continuar a dar tiros e modificar a posição dos astros
Continuar a viver até cristalizar entre neve
Continuar a contar a lenda duma princesa sueca
E depois fechar a porta para tremermos de medo

Contar a vida pelos dedos e perdê-los
Contar um a um os teus cabelos e seguir a estrada
Contar as ondas do mar e descobrir-lhes o brilho
E depois contar um a um os teus dedos de fada

Abrir-se a janela para entrarem estrelas
Abrir-se a luz para entrarem olhos
Abrir-se o teto para cair um garfo no centro da sala
E depois ruidosa uma dentadura velha
E no CIMO disto tudo uma montanha de ouro

E no FIM disto tudo um Azul-de-Prata.

Antônio Maria Lisboa, in "Ossóptico e Outros Poemas"


quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Tempo e Espaço


Tão longe, tão perto, a um passo de terminar, de começar outra corrida entre os dias e suas penas, suas glórias e cada um de seus paladares; vapores que sobem; venenos que descem, entorpecendo os sentidos e alimentando os pensamentos, sonhos, vontades; o globo cefálico se enche novamente; silêncio, sussurros intermináveis, antes de a próxima linha começar; as folhas caem; se escrevem, flores se escondem; se mostram e se colorem novamente, o vai e vem dos minutos e segundos  e seus sabores... Cada pulsar de membros e órgãos no balanço desleal do tempo inquieto; mais uma hora se vai, mais um pedaço de mim, e outro de você, entre os dentes pontiagudos de tantos quereres, em tantos lugares de formas diversas, procura interminável, fumaça e cinzas do incenso que cumprem seu papel...
O mundo dá suas voltas e veloz gira, como se não fosse suficiente esse girar desconexo de tantos ideais, alternado entre luz e escuridão, promessas, verdades e mentiras, novidades, o inicio de páginas, mudança de estação; o aglomerado de sentidos múltiplos, rostos por toda parte e sempre solidão, solidão de cada ser em seu universo que vai se preenchendo com outras vidas, que são bem vindas; espaço sideral entre o bem e o mal, eu e você na roda gigante de cada um de nossos ideais, os nomes e suas sentenças, os passos em suas estradas pelos campos de concreto seguindo adiante em direção ao horizonte e suas novidades, peças que se encaixam portas que irão se abrir... Tento entender isso que queima tão forte, que faz minh'alma vibrar em cores vermelhas, em seus pensamentos azuis, essas cartas que jogam com a sorte e que parecem que nunca irão para, esses brinquedos tão frágeis que perdem suas vozes antes mesmo dela se iniciar quando gritam tão alto vontades que irão ecoar;  seguem o curso pluvial como o sangue quente que corre nas veias e o ciclo vital tão limitado. Este mistério chamado viver, essa faca de dois gumes sempre a cortar, esse suspense falado do sentir arrastado dividindo os dias e suas horas, as vozes e seus verbos distintos, os sonhos e suas cores opacas; esse deleite prazeroso em dor quando pelos poros começa a fluir suas mais intima essência, esse grito em nossas entranhas que nunca irá se calar, pois grita em silêncio profundo cada um de seus anseios de paixão, de suas buscas tão urgentes.
Agora sei que o que sei não é nada, que ecoa perdido na existência, existindo de forma calada, rabiscados em papeis variados, em telas iluminadas, virtuais, anormais, muitas vezes irreais; mais que ainda pulsam, onde os olhos têm brilho profundo , dos que ousam enxergar adiante, onde a voz sempre ecoa pelo ar em pensamentos de perguntas sem respostas e variações de enigmas de uma vida; parte comum de toda jornada, pedaço onírico de nossa consciência moldada no barro, esculpido sensações.
Sei que o amor é um labirinto, sei que na vida podemos nos perder, sei que sombras ocultam sentimentos e vultos escurecidos vagam por ai; a realidade que começa a se iluminar mostrando suas cores verdadeiras...

           W. R. C.

terça-feira, 14 de agosto de 2012



Poema II


Soam os sinos
Das catedrais
Pelas cidades enfim;
Ecoam gemidos
De muitos amores,
Batem
Em portas silenciosas
E pedem para entrar.
Chaves capturadas,
Escolhas, escolhidos...
Que as brumas
Dos pensamentos escurecidos
Se dissipem;
Entradas e saídas...
Suave a melodia ecoa:
Sinfonia dos violinos;
Essa música
Que agora
Alguns escutam,
Um coro
De anjos celestiais,
Orquestra
Dos magníficos,
Entoam cânticos,
Sons, sensações
De paz e amor
E muitos
Pensamentos
Entre o ir e vir
De cada passagem...
Agora
Estas notas musicais
Fazem parte de mim,
De você,
 De meus sentidos,
Dos seus;
Tudo que nos faz
Estremecer,
Do que faz,
Quando permitimos
Nossos corações
Em ritmo frenético
Palpitarem...

W. R. C.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012



 Quando


Quando o relógio
Com precisão
 Bate meio dia
E meus pensamentos
Continuam buscando,
Fagulhas luminosas,
Momentos que evaporaram
No silêncio de tantos versos
Em cada hora
Desmembrada.

Quando me lembro
 Das ultimas sinfonias
Que ecoavam sorridentes
E o fogo que se levanta
Entre a poeira dos sentidos,
Fico às vezes sem saber
Em meio a tantas novidades;
O que realmente posso,
Como devo seguir
Essa estrada.

Quando penso
Nesses caminhos
E suas portas escancaradas
Meu coração forte palpita,
Sinto outra vez
O gotejar do tempo
E o sonho palpável,
Que transita nas avenidas
Entre os verbos
Que são soprados...

W. R. C.

terça-feira, 7 de agosto de 2012



Florbela Espanca
 Portugal: 1894 // 1930 Poetisa

 Charneca em Flor

Enche o meu peito, num encanto mago,
O frêmito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...

Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!

E nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu burel,
E, já não sou, Amor, Sóror Saudade...

Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca, a saber, a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"


segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O Livro Sagrado 

Tenho pensado nas linhas que vão se escrevendo no decorrer dos dias agitados, vogais e consoantes encaixadas, palavras, frases e textos, vidas verbalizadas entre o nascer e o por do sol e o inicio e o fim da noite e seus mistérios; rabiscando fagulhas diversas entre o ir e vir das horas e o gotejar de cada pensamento que transita entre tantos sentidos, semeando procuras, misturado aos sentimentos que entrelaçados formam conceitos, criam desejos, borbulham vontades; tenho também pensado nessas imagens que habitam o consciente, quando inconscientes estamos a sonhar, fumaça disforme que ganha suas formas quando começamos a alimentá-las; lembranças fragmentadas em realidades pingadas, a galeria da mente expondo seus quadros para contemplação da saudade...
De pé contemplamos o horizonte, o livro sagrado está aberto, paginas e paginas foliadas; muitos já abriram o seu, inúmeras linhas já foram escritas, detalhes traçados na construção de uma vida, verdades sopradas, outras quase esquecidas, escritas borradas antes da despedida, pois algumas já se sabe: não há mais como lê-las, foram viradas há certo tempo, ou apenas guardadas em uma estante empoeirada no fundo do peito, no intimo d’alma onde poucos podem chegar. O amanhã sempre irá esperar com suas páginas em branco cada um encontrar a tinta e o papel para que a prosa ou a poesia dessa existência ganhe parágrafos ou versos, descreva a vida de formas únicas ou guardem seus segredos em papéis amarelados; sussurros são soprados aos quatro cantos em todas as estações: a mão que transcreve vontades; rabisca verdades e vivencias é a mesma que fecha o livro ou rasga suas páginas.
A ave do conhecimento abre suas asas e plana sobre as cabeças dos que a querem alimentar, migalhas são lançadas e formam um banquete diante dos olhos dos que querem contemplar as palavras e seus sentidos; verdades são descobertas no vôo diário do pensamento livre, do sentimento gritante que em silêncio corre nas veias dos que ainda permitem; a criação do cenário diante dos fatos, a semeadura do campo diante dos feitos, o pulsar do coração a irrigar cada emoção que escreve suas linhas precisas nas enciclopédias da vida de todos os indivíduos que seguem seus passos e abrem seus braços, suas asas, seus livros, seus pensamentos e seus sentidos, compartilhando verbos com os demais, deixando um pouco de si aos que também caminham nessa biblioteca coletiva chamada vida.
W. R. C.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012



O ciclo se renova

Mais um ciclo se renova
Entre o ir e vir de todas as coisas,
Muito do que fora semeado
Agora brota em suas bolhas,
Verdades antes ocultas
São reveladas,
Reflexos dos versos tateados
Escrevem passos e pensamentos.

Imagens e sentidos são formados
Um rosto, um corpo
Com os fragmentos
Sussurrados no presente,
Que são mais vivos
Quando seguimos adiante;
Tudo se renova...

Pedra erguida antes da despedida,
Às vezes vemos vidas verbalizadas
Quando alimentamos nossos sentidos,
São páginas rabiscadas
Que os gemidos guardam.

São sonhos suaves semeados
Na realidade pulsante,
Partículas que se agigantam no agora
Diante do mar da vida
Enquanto as nuvens se dissipam...
W. R. C.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Poema I

 Caminhando no labirinto
Em corredores transparentes,
Uma névoa se espalha
Em pensamentos e sentidos,
Sussurros são soprados
Entre o tempo e suas garras
Na cidade petrificada
Sempre a procurar...

A procura de algo simples
Que possa aliviar
Minhas dúvidas
Trazendo as chaves,
Mostrando as saídas,
Suprindo desejos,
Anseios e vontades;
Que traga mais uma vez
Os doces frutos do presente
Em cada um
De seus ventos suaves.

Hoje navegarei em direção
Ao entardecer
Em cor de cobre
Pelas grandes avenidas
E cada um de seus paladares,
Sentindo o coração palpitar,
Um nó no tempo
E seus mistérios,
Conquistas em pensamentos;      
O fogo em minh'alma,
De olhos ainda fechados
Que queimam em vontades,
Sensações,
Procuras e verdades...
W. R. C.