segunda-feira, 28 de março de 2011

Onde está o segredo da vida?




Onde está o Segredo da Vida



Confusão em nossas cabeças,
Não se pode dizer quem são os culpados,
As recordações derretem e esmorecem,
Destruindo,devastando, construindo, renovando,
Novas descobertas estão aqui,
Novos pensamentos, o sentimento,
Ah, o sentimento ainda está aqui,
Me contando as não reveladas... Respostas...
Uma nova sensação, uma reação estranha para
Aquilo que sentimos dentro de nós,
Que borbulha silenciosamente agora;
Eu vejo respostas, eu ouço ecos de uma vida,
Fragmentos de sentidos, pedaços de sonhos .
Pode ser aquele que eu deixei para trás?
Onde está o segredo da vida?
Quantas vezes, Deus você sabe,
Eu me esforço para descobrir o caminho,
São tantas curvas, tantas ladeiras,
As pedras sempre irão cair, irão rolar,
Para derrubar a cortina que cega os olhos.
As coisas ficam mais claras
No decorrer de dias silenciosos,
Adiquirem novas cores, novos sons...
Eu sabia que eu não gostaria,
Ter que sorver o amargo fel de meus pensamentos,
O vai e vem dos sonhos nebulosos,
O transitar pisicodélico das nuvens cinzentas,
Os cacos de vidas que tentamos juntar,
Eu, você, eles, papéis e linhas tortas...
Onde está o segredo da vida?
Eu ando vivendo, eu ando morrendo... Por quê?
Tudo aqui está ao avesso, qual é o segredo da vida?
Encontrar outro caminho,
Abrir qualquer porta,
Buscar novas respostas; onde o amor se escondeu?
Preciso encontrar outro caminho,
Abrir definivamente a porta certa,
Romper estas correntes,
Que não se acorrentam mais a mim,
Estas correntes chamadas de incerteza,
Chamadas de paixões oníricas;
Esperar mais um dia,
Mais um sonho, mais uma última lágrima,
Talvez umas derradeiras linhas tortas,
E chega, e basta...
Onde está o segredo da vida?
Eu não posso esperar mais um dia
Encontrar outro caminho,
Sonhar com este rosto todas as noites,
Encontrar outro caminho antes que eu enlouqueça,
Antes que a última página se vire,
Antes que seja tarde demais...


W. R. C.



sexta-feira, 25 de março de 2011

É sexta feira


É Sexta Feira



É sexta feira, os cães estão lá fora,
O dia segue seu curso,
Horas que se arrastam lentamente,
Pessoas apressadas,
Pessoas solitárias,
Pessoas mal amadas,

Aguardando mais um anoitecer
E seus mistérios e suas esquinas,
O aglomerado de olhos famintos,
De bocas sedentas,
De vozes que ecoam,
De bares super lotados.

É sexta feira, já posso ouvir meu nome,
Páginas que se escreveram durante a semana,
Sentimentos que se acumularam,
Procura que nunca tem fim,
Mais uma carta nesse baralho,
E outra garrafa de vinho tinto...

A noite chama por você, chama por mim,
E nos corredores entrelaçados de ruas iluminadas
Onde os amantes se encontram
E os sentidos são aguçados,
Borbulham os desejos e o sangue ferve em nossas veias,
A mente se expande e o coração abre suas janelas.

É sexta feira, os jardins noturnos estão floridos,
Portas estão abertas, convites foram lançados,
Deixe-se levar ao som da melodia da noite,
Dance comigo entre as flores e seus espinhos,
Venha colher os sonhos de neon
E caminhar sobre as pétalas que se espalham no asfalto.

Os vapores etílicos se elevam,
Chama da paixão que queima feroz,
Palpitar de corações que pulsam juntos,
Eu e você, só mais uma vez,
No calor de nossos corpos famintos
Na volúpia de nossos beijos de mel.

É sexta feira!...



W. R. C.




quinta-feira, 24 de março de 2011

Dilacerações



DILACERAÇÕES


Ó carnes que eu amei sangrentamente,
Ó volúpias letais e dolorosas,
Essências de heliotropos e de rosas
De essência morna, tropical, dolente...

Carnes, virgens e tépidas do Oriente
Do Sonho e das Estrelas fabulosas,
Carnes acerbas e maravilhosas,
Tentadoras do sol intensamente...

Passai, dilaceradas pelos zelos,
Através dos profundos pesadelos
Que me apunhalam de mortais horrores...

Passai, passai, desfeitas em tormentos,
Em lágrimas, em prantos, em lamentos
Em ais, em luto, em convulsões, em dores...


Cruz e Sousa

quarta-feira, 23 de março de 2011

É inevitável


É inevitável


É inevitável que meus pensamentos girem por lugares sem fim, assim como também é inevitável que as horas passem e o sol cruze o eixo meridional. No decorrer de nossos dias nos deparamos com diversos rostos, diversas realidades, diversos gostos e principalmente com nós mesmos.
As pessoas com seu ritmo acelerado, de um lado para o outro como formigas famintas e desesperadas, correndo a traz do tempo perdido, marionetes do presente agitado, da evolução rápida, da consciência perdida, do medo de ficar para traz. Não existe mais tempo de amar o próximo, de amar alguém, apenas usa-lo temporariamente, amenizando a procura idividual, uma mera distração.
O sol brilha para todos igualmente toda manhã, as horas possuem a mesma quantidade de minutos e segundos, mas para alguns nunca há tempo suficiente, nunca há palavras suficientes, nunca é suficiente, o sentimento parace não ter luz o bastante para demonstrar a quem se quer.
Somos feitos de poeira de estrelas cujo brilho se propaga no espaço sideral, somos feitos de pedaços de sonhos, de vontades, de desejos, de procuras; sem tempo de amar de verdade, de se dedicar a outras pessoas, mesmo rodeados de tantos ainda estamos tão sozinhos.
Somos parte de um todo e tudo de um nada, somos paixões insatisfeitas, procura interminável,
pensamentos que nunca param, sentimentos que se propagam, medo de amar demais e nunca ser amado. Estamos a beira do precipício, preste a cair, estamos sem asas, estamos revestidos com o manto plúmbeo do desespero, cegos caminhando em direção o abismo enegrecido da dúvida.
Eis que o amor está porta e pede para entrar, encontra cadeados e grossas correntes, encontra cães ferozes a vigiar a entrada, encontra répiteis columbinos venenosos em altares ebúrnios em pilares argíricos, prontos a morder a mão de quem se aproxima.
Eis que estou a dizer tudo isso, que flutuo no curso fluvial de minhas ideias, que afogo-me na extensão lacustre de meus sonhos, de minhas vontades, procurando o que os bens pecuniários não podem trazer, a verdade das pessoas, a nudez da alma, a pureza do amor. Serei eu o único tôlo que acredita, que sente isso tão forte? Você o que sente, não posso saber? Os espinhos ao meu redor crescem, é sufocante, rasgam minha carne, dilaceram min'alma, e todo o amor que sinto parece evaporar pelas feridas abertas, gritando, agonizando. Minhas palavras parecem não ter valor, meus olhos são covas profundas,onde lentamente morrem os sentimentos, mas em meu interior a chama arde sem fim,o amor corrói minhas entranhas louco para sair, teme não encontrar nada onde está procurando e se perder de vez, levado pelas dores do mundo.
As pedras que jogamos se acumulam e depois voltam sobre nós, não quero perder o que tento construir,
não posso lidar com essa dor que cresce,não sei mais como fazer .

Ah, eu quero tanto, tanto!...


W. R. C.




segunda-feira, 21 de março de 2011

Cinzas, Poeira



Cinzas, Poeira


Viajar os dias de liberdade,
Sem medo, sem destino certo,
Estradas levando a todos os lugares,
Entre curvas entrelaçadas, altos e baixos,
Venha comigo agora e mostre como você se importa,
Siga as brasas que se apagam,
E a fumaça que sobe aos céus,
Cruze os caminhos onde elas estão,
Vá onde seu coração nunca ousou antes,
Sopro do passado, o ontem da terra,
Pedaços do presente, inicio de uma nova era.
Clareie sua mente talvez você descobrirá,
Que em meio as sombras e as lembranças,
O passado ainda está volvendo,
Círculos giram, ecoam o ontem
Cinzas queimando, cinzas queimando,
Poeira levada pelo vento...
Cores estão desbotando a luz das estrelas,
Constelações se perdem e evaporam,
Prata é o caminho a encontrar,
Ouro são as estradas que procuramos
Andando pelas sombras encontradas em nossas mentes,
Hoje, ontem, amanhã, tudo junto,
Mudando a ordem lentamente,
Abandonando a bruma do tempo,
Reconstruindo pensamento e amor,
Os dedos estão segurando meus fragmentos,
Partículas de sensações, de emoções,
Pedaços escritos, pedaços falados;
Clareie sua mente talvez você descobrirá,
Que o passado ainda está volvendo
Pulsando em nossas veias, nossos corações,
De alguma forma sempre irá existir...
Círculos giram, ecoam o ontem,
Se propagam no hoje, se eternizam no amanhã,
Cinzas queimando, cinzas queimando
Poeira levada pelo vento...
Imagine as brasas ardentes,
E sonhos brilhantes florescentes,
Elas brilham abaixo e acima,
Para frente e para traz,
Seus pecados você não lembrará,
Suas virtudes se espalharão ao redor,
E tudo que encontrarás lá é amor.
Cinzas estão queimando intensamente,
A fumaça pode ser vista a distância,
Rodopiando, criando formas únicas
Rostos, sonhos e lembranças ...
Então agora você está enxergando quão longe
Se pode ir quando se permite sem medo?
Cinzas estão queimando pelo caminho...


W. R. C.

sábado, 19 de março de 2011

Lua cheia


Lua Cheia

Sua magnífica presença encanta até os mais descrentes,
Conduzindo-os por um mágico caminho de silêncio e reflexão
Os sentidos se expandem, a alma anseia por paixão,
Sempre à procura daquele ser amado que a muito esteve ausente.

É nesta noite de céu estrelado que a contemplo, admiro e venero,
E me perco sem medo em seu fascinante encanto misterioso
Esquecendo até mesmo do tempo: _Agora tudo e paz, prazer e gozo!
Que assim seja, é exatamente assim que eu quero.

Mais um entre os milhares, mais um amante da lua e seus luares,
E todas as dádivas agradáveis que ela nos oferece,
Muitos a vêm como deusa e devotam suas singelas preces,
Em toda parte, a qualquer momento, em todo os lugares.

Oh, astro majestoso, seja nossa protetora e eterna guia,
Em noites escuras ilumine nossos caminhos com sua pureza
Mostre-nos sua infinita força e sua poderosa magia,

Que transforma os mares com seu magnetismo e beleza
Tornando tudo mais belo proporcionando momentos de alegria,
Agindo simplesmente como decretou a mãe de todos nós: _A mãe natureza!...


W R. C.


quinta-feira, 17 de março de 2011

Mudam-se os Tempos...


Mudam-se os Tempos...


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve), as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E, enfim, converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.



Luís Vaz de Camões

quarta-feira, 16 de março de 2011

Panapaná


Panapaná


Um branco níveo caem sobre a terra, são os sentimentos dos seres humanos que se esfriam, em meio palavras sem pensar, gestos que se repetem, são os dentes pontiagudos dos devoradores de sonhos, são os ossos dos que partiram sem nunca terem encontrado o que procuravam, o antropofagismo dos sentidos, a dilaceração dos gemidos de amor que na noite fria ecoam. Que olhar hibernal, que toque gélido, que beijo sem sabor, depois desse fato, agora por um instante o fogo existente não aquece mais ele queima apenas a vida que insiste em se colorir em ser mais bela.
Uma cainçalha feroz surge do nada, seus latidos são as vozes dos desesperados, que correm, que diz coisas sem pensar, que não aprende com o erro, que abre qualquer porta mesmo se ainda estiver escuro lá dentro. O convívio é tão complexo quando não se entende, uma máscara de madeira ocultando a súcia de cada ser, com sigo mesmo, que escondem seus olhos para que não vejamos sua alma.
Em meio a tertúlia discutimos a vida, os sentimentos verdadeiros, até onde devemos ir, em que acreditar, um “ror” complexo e sem fim, um diálogo bélico e sangrento. Cada qual com seu mundo, cada mundo com suas pedras. Que mundo posso lhe oferecer, que mundo você quer? O que podemos somar, ganhar, perder?
Um panapaná cruza os céus neste instante, se achar que deve, pegue carona e volte para casa, deixe que apenas as lembranças lhe conte uma história, e quando vier a saudade, apague com lágrimas, com silêncio, como quiser. Já não sei mais, sei que sempre estamos sós, que somos arvores de raizes profundas que precisa de espaço, as vezes não se pode por duas no mesmo lugar, somente uma sobreviverá, talvez nenhuma...
Mais ainda quero, quero tanto...
O tempo é muito curto para que mostre tudo que sentimos, sentimentos são gotas no oceano, verdades tem que ser conquistadas, o amor não vem engarrafado pronto para o consumo, tem que ser cultivado diariamente,
fertilizado, vigiado e explorado com cuidado, aprendendo com erros a ser mais completo, se não for assim nos perdemos... O perdemos... São tantos mundos... Como estarei no seu, e você no meu?...


W. R. C.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Sombras e Esquecimento


Sombras e esquecimento


Muitas linhas foram escritas,
Pedaços de sentidos, do ontem, do hoje,
Sobre as coisas que vi, que senti,
Minha alma interior é uma terra árida,
Meus olhos só veem poeira no horizonte.
Eu não posso fugir daqui,
Para tentar encontrá-los.
Em meio todas essas sombras e esse frio,
Todos os pensamentos perdidos,
Todas as vontades guardadas;
Em minha mente eu acordei em uma colina,
Em uma noite cinzenta, tantas vezes antes,
Esperando um amanhã parecido com aquele,
O ontem não parece mais um sonho,
Se evapora devagar, memórias congeladas rindo
De toda solidão atual, toda saudade,
Eles não me deixam encontrar a verdade;
Eu nasci para ser um rei ou um bufão dos tolos?
Eu não consigo lembrar meu nome,
Em noites de pensamentos profundos,
Eu nunca soube como encontrar meu lar,
Quando saia à procura de um amanhã,
Sem nunca poder encontrar quem tanto quero ver.
Eu não consigo lembrar meu nome,
Quando me perco em sonhos sombrios,
Venha me dizer onde isso irá acabar,
Qual porta devo abrir, qual devo fechar?
Para representar todas estas coisas,
Tudo que gira dentro de nosso ser,
Mas não para mim,em ilusões e realidade
Entre sonhos e sombras do escuro,
Eu estou em minha jornada pela escuridão.
Eu não consigo me lembrar
Será que um dia eu descobrirei?
Será que descobrirei um caminho
Que me leve até você?
A distância está aumentando,
Um abismo que se agiganta,
Minha esperança se foi,
Um clarão de luz mas nada muda
Um vulto cinzento e um perfume no ar.
Quando irá acabar
Qual parte de mim permanece?
Em breve eu voltarei,
Ao lugar onde meus pensamentos fluem,
Em minha balsa de contos,
Esse mundo de poucas cores,
Onde o esquecimento reina,
Onde as lembranças voam para longe,
Onde passarei mais um tempo sozinho,
Isto levará tudo de mim.



W. R. C.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Sonho Ruim

Sonho Ruim


Os dias passam, meus pés doem,
A estrada fica cada vez mais sinuosa,
A despedida do sol em um entardecer dourado,
Meu coração apertado, espinhos ao redor,
Todas as flores se fecharam,
Lágrimas e chuva se misturam,
Sonhos escurecidos, lugares estranhos,
São tantas portas trancadas
E nenhuma chave para abrir.

Pesamento, saudade, a brisa do vento,
Acompanham meus passos errantes,
A companhia do vinho, o silêncio de cada esquina,
Vazia... Cheia de ecos de ontem,
Esperando os sussurros de amanhã.
Árvores que observam os que passam,
Passos que param na borda do precipício,
A um passo do nada, despencar de vez nesse sonho ruim.

Veja, são tantos rostos ao redor,
Caminhos que se cruzam nos jardins da vida,
Palavras e sentimentos que brotam da terra,
Muitos levados pelo vento,
Muitos guardados n'alma,
Mas, quase sempre estamos sozinhos,
Estas paredes altas, um imenso vazio.
Onde está você agora?
Nesses sonhos cinzentos não posso mais te ver...

O despertar cheio de dúvidas, de medo,
Um esperar cheio de curvas, de incertezas,
Essa dor no peito, essa melancolia,
Esse vento frio, esses corredores altos,
Alguns sonhos são bem ruins,
Nem sempre realizamos nossos sonhos acordados.
Para onde foi o amanhecer
E todos seus aromas agradáveis ?
Para onde iremos depois que abrirmos nossos olhos?



W. R. C.

quarta-feira, 9 de março de 2011

A Minha Dor

A Minha dor

À você

A minha Dor é um convento ideal
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.

Os sinos têm dobres de agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal ...
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias ...

A minha Dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!

Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve ... ninguém vê ... ninguém ...



Florbela Espanca

segunda-feira, 7 de março de 2011

Inverno



Inverno





Comi o pão amargo da tristeza,
Em minha ultima noite de pensamentos,
Suas migalhas espalhadas pelo chão
Fagulhas de meus sentimentos;
Minhas lágrimas eu bebo como vinho,
Embriagando meu presente,
Distorcendo minha realidade,
Seguindo esse estranho caminho,
Ofuscando meu passado,
Que nunca deixará de existir.
O esquecimento não me traz alegria,
Nuvens cinzentas desenham lembranças no céu,
Paginas escurecidas viram devagar,
Enterradas sob os dentes do tempo,
Onde meu último grito de amor ecoa,
Ocultas dos olhos, distante da alma.
Pois fria seja a pedra no inverno de sentimentos
Quando as geleiras devorarem as terras,
Quando os sonhos voltarem a ser pedras,
Quando o frio congelar ainda mais os corações,
E a chuva virar definitivamente lágrimas,
Consolação não é uma dádiva,
Esperança é sempre uma dúvida,
O martelo que bate forte
Da mão de gelo do inverno profundo...
Sob a grama molhada pela chuva
Eu vou repousar meus ossos cansados,
O que carne e espírito não levarem
Eu oferecerei em nome do inverno,
Este inverno que existe em mim,
Esta estação cinzenta e sem cores...
Se ao menos eu pudesse respirar,
Os ares puros daqueles dias,
Para ver o sol do inicio de maio,
E as chuvas rápidas que as vezes caiam,
Mas as noites ainda são mais longas que os dias,
E os sonhos mais escuros que a noite sem lua,
Enquanto eu me afundo em lembranças.
Nos olhos dela eu irei me perder,
Como me perdia em seus braços,
Nestes sonhos onde a vejo vou ficar,
Eu vou colher a safra de maçãs,
E oferecerei a você mais uma vez,
Eu baterei em portas trancadas,
Mesmo aqui onde estou agora,
Tão distante, tão faminto,
Eu correrei por todos os corredores,
Buscando recordações e sentimentos,
Mesmo que em sonho verei o sol brilhar
E fugirei desse inverno implacável...






W. R. C

sexta-feira, 4 de março de 2011

Casulo


Casulo


Neste céu cinzento desta manhã mórbida
Lancei meu ultimo lamento,
Um silêncio de cor argêntea bate a porta,
Pensamentos de sussurros nublados
Viram fumaça em pouco tempo
Com os sonhos trasparentes que saíram do passado.

Um olhar sedento me observa, me devora,
No canto da prisão com pequenos papeizinhos,
Desenha vidas de plástico e amores invisíveis,
Colore telas com lágrimas vermelhas,
Reboca paredes com sentimentos perdidos
E canta melodias com soluços...

Pássaros voam no subterâneo
Em busca de cacos de vidas,
Uma substância plúmbea escorre
Deslizando como serpente sorrateira,
E nas frestas das janelas não passa mais luz.

Um chamado poeirento ecoa distante
Onde os velhos vão para desaparecer,
E as flores brotam nos telhados,
Espinhos de lembranças não podem mais ferir,
Perfume de saudade não embriaga mais,
Agora o sono constrói as moradas petrificadas.

Duas pequenas arvores secas em meu jardim,
Conversando com vozes de veludo
Falam dos passos errantes sem direção
E dos pássaros falantes que deixaram de cantar.

Um casulo de folhas de papéis
Com cinzas de incenso queimado
Agora abriga o ultimo lamento de amor,
Sem saber se quando eclodir
Terá forças para voar novamente.


W. R. C.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Anseio



Anseio


Nessas paragens desoladas, onde
O silêncio campeia soberano
Morreram notas do bulício humano,
Nem vibra a corda que a saudade esconde.


Anseios d’alma aqui se perdem. Donde
Fluiu outrora a luz dum doce engano,
Hoje é trevas, é dor, é desengano,
E eu ergo preces que ninguém responde.

Triste criança virginal, quem dera
Voar est’alma a ti, longe dos laços
Dessa jaula de carne que a encarcera!

Ah! Que unidos assim, lá nos espaços,
Cantarias do amor a primavera,
Tendo a minh’alma presa nos teus braços!

Pau d’Arco - 1902


Augusto dos Anjos

terça-feira, 1 de março de 2011

Os jogadores





Os jogadores



Eu vaguei por minha mente,
Perdido sem saber aonde ir, sonhando acordado,
Entre o ontem e o hoje,
Na terra dos contos de fadas e histórias,
Perdido entre felicidade e lamentações,
Eu não tive medo, eu não tive sono,
Caminhava por toda parte,
Abria uma porta e fechava outra,
Inocência e amor eram tudo que eu sabia.
Era ilusão, devaneio?
Logo os dias foram se tornando meses,
O gotejar do tempo, o silêncio, os pensamentos,
Desejos contidos, vontades guardadas;
A felicidade simplismente não vem tão fácil,
Se a terra não for fértil não dará frutos,
E todas as folhas amareladas
Se perderão sopradas pelo vento.
O coração sente o que o olhos não veem,
O corpo grita em silêncio sua fome insaciável,
Inocência era apenas outra palavra.
Era ilusão, devaneio?
Perdido na roda da confusão,
Girando em um turbilhão de sentimentos,
Transpondo a fornalha de lágrimas,
E um coração que se petrifica novamente,
O lhos cheios de uma ilusão enfurecida,
Escondendo-se em todos.
E vamos descobrindo que a vida é só um jogo,
Os jogadores aprendem todos os dias,
Movimentam-se ocupam varios quadrantes,
Modificam suas cartas,
Suas peças em um tabuleiro chamado vida;
Uma boa mão do baralho,
Que a cada dia após terminar,
Se inicia novamente.
Mas você sabe que nunca houve um vencedor,
Que cada batalha trás uma estória,
Cada uma um sentimento;
Tente seu melhor, só para ser um jogador,
Ganhar o que não se quer,
Perder o que ainda nem se formou,
Formar o que nem se criou,
Criar o que tanto se quer,
E ver o mundo continuar girando.
O jogo nunca para, sempre surgindo novidades,
Novos jogadores, novas cartas...


W. R. C.