quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Linhas manchadas, linhas diversas



Linhas manchadas
Linhas diversas


Tarde cinzenta poeira no horizonte, cada pensamento tem sua estação, ventos que sopram procuras, vontades que são aguardadas entre o verão e o inverno em gavetas esquecidas; pensamentos que vagam perdidos no ontem sem se encontrar no hoje, venenos sorvidos antes do anoitecer em cada gole de vida e os tragos esfumaçados de saudade; procurando o amanhã, se afogando no agora. Música que toca alto, vontade que pulsa forte, tédio, vinho...
Poesia no papel, escrituras que saem d'alma, sentidos rabiscados no tempo que nos divide, horas que escorrem pelo ralo das lembranças, lágrimas que secam, verdades que se ocultam dos olhos. Vendo a chuva cair, nos dias quando ela cai, esperando a página se virar, nas folhas como elas são, como as flores ainda espera o jardim despertar, mostrando onde suas cores se encaixam, falando suas linhas em tons múltiplos, boca sedenta desejando o último beijo.
Entardecer nebuloso, convite tentador, folhas mortas no chão descrevem emoções e sentimentos, tudo que brota do intimo discreto de cada ser; coração apertado, melancolia, sonhos sem cores, sonhos diversos, sonhos de neon; verdades faladas em vozes profundas em sentidos suaves, melodia cinzenta que guarda o firmamento.
O palhaço não sabe onde perdeu seu sorriso, se foi entre o ultimo espetáculo da vida no malabarismo de emoções constantes ou os passos apressados na corda bamba; anjos de asas queimadas choram no escuro, demônios de vozes caladas declamam seus amores, moedas de lados vazios se espalham pelo chão em um jogo com a sorte, cara e coroa de cada sensação, verdade ou conseqüência com toda a emoção...
Cicatriz profunda, abismo de vontades, entre o tempo e suas vozes, cada sentido que cai no papel rabiscando quereres disfarçados, sentimento raso enchendo a caneca das emoções; abismos que nos separam, eterna paixão...
Espinhos que crescem em volta do leito quando adormecemos sem querer diante de tantos rostos que passam por nossas vidas, que vão embora e não dizem adeus; rosas brancas manchadas de vermelho com o sangue que vai pingando desses amores que se vão e outros que vão se reconstruindo na falta do que faz tanta falta. Lençóis amarrotados, corpo suado, solidão... O caminhar por ruas silenciosas, esquinas e becos... Rostos... Olhares... Procura...
Janela que se fecha, boca que se abre; palavras sussurradas ao vento levadas aos recantos esquecidos sem direção, sem destino, sem saber se vai ou se fica...
Inacabada construção, intermináveis pensamentos, paredes que desabam e virão pó, moradias que se erguem buscando novidades, o que vai se despedindo do presente se tornando passado se fazendo ausente mas ainda pulsante; pedra que rola morro abaixo do alto de todas a emoções que foram vividas, muitas já acabadas mas não esquecidas, apenas guardadas. Edifício vazio, moradia abandonada, amante sem teto, outro grito que se perderá mais tarde na madrugada, outras vozes que ecoam distantes.
O sol irá se despedir novamente com todas suas melodias, grita ao céu em estrondo silencioso cada um de seus temores, esperando a chuva que não veio neste dia, que virá talvez; quente é a lágrima que escorre pelos olhos, substituindo gotas de chuva, de vinho e sangue, de paixões; pingando em cima da mesa, borrando, manchando as linhas no papel...
As palavras que tentamos dizer, muitas se perdem em nosso tempo, evaporam e somem em meio à multidão, levadas por dias agitados e rostos distraídos; perdem seu som lentamente e suas cores vão desbotando quando não podem sentir sua essência. Cada dia que passa é uma nova página que vira; outro sonho que tenta se escrever é sua voz querendo se propagar, buscando alguém para ouvi-la...

W. R. C.

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