terça-feira, 15 de novembro de 2011

Edgar Allan Poe




UM SONHO NUM SONHO


Este beijo em tua fronte deponho!
Vou partir. E bem pode, quem parte,
Francamente aqui vir confessar-te
Que bastante razão tinhas, quando
Comparaste meus dias a um sonho.
Se a esperança se vai, esvoaçando,
Que me importa se é noite ou se é dia...
Ente real ou visão fugidia?
De maneira qualquer fugiria.
O que vejo, o que sou e suponho
Não é mais do que um sonho num sonho.

Fico em meio ao clamor, que se alteia
De uma praia, que a vaga tortura.
Minha mão grãos de areia segura
Com bem força, que é de ouro essa areia.
São tão poucos! Mas, fogem-me, pelos
Dedos, para a profunda água escura.
Os meus olhos se inundam de pranto.
Oh! meu Deus! E não posso retê-los,
Se os aperto na mão, tanto e tanto?
Ah! meu Deus! E não posso salvar
Um ao menos da fúria do mar?
O que vejo, o que sou e suponho
Será apenas um sonho num sonho?

Edgar Allan Poe

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