O Livro Sagrado
Tenho pensado nas linhas que vão se escrevendo no
decorrer dos dias agitados, vogais e consoantes encaixadas, palavras, frases e
textos, vidas verbalizadas entre o nascer e o por do sol e o inicio e o fim da
noite e seus mistérios; rabiscando fagulhas diversas entre o ir e vir das horas
e o gotejar de cada pensamento que transita entre tantos sentidos, semeando
procuras, misturado aos sentimentos que entrelaçados formam conceitos, criam
desejos, borbulham vontades; tenho também pensado nessas imagens que habitam o
consciente, quando inconscientes estamos a sonhar, fumaça disforme que ganha
suas formas quando começamos a alimentá-las; lembranças fragmentadas em
realidades pingadas, a galeria da mente expondo seus quadros para contemplação
da saudade...
De pé contemplamos o horizonte, o livro sagrado
está aberto, paginas e paginas foliadas; muitos já abriram o seu, inúmeras
linhas já foram escritas, detalhes traçados na construção de uma vida, verdades
sopradas, outras quase esquecidas, escritas borradas antes da despedida, pois
algumas já se sabe: não há mais como lê-las, foram viradas há certo tempo, ou
apenas guardadas em uma estante empoeirada no fundo do peito, no intimo d’alma
onde poucos podem chegar. O amanhã sempre irá esperar com suas páginas em
branco cada um encontrar a tinta e o papel para que a prosa ou a poesia dessa
existência ganhe parágrafos ou versos, descreva a vida de formas únicas ou
guardem seus segredos em papéis amarelados; sussurros são soprados aos quatro
cantos em todas as estações: a mão que transcreve vontades; rabisca verdades e
vivencias é a mesma que fecha o livro ou rasga suas páginas.
A ave do conhecimento abre suas asas e plana sobre
as cabeças dos que a querem alimentar, migalhas são lançadas e formam um
banquete diante dos olhos dos que querem contemplar as palavras e seus
sentidos; verdades são descobertas no vôo diário do pensamento livre, do
sentimento gritante que em silêncio corre nas veias dos que ainda permitem; a
criação do cenário diante dos fatos, a semeadura do campo diante dos feitos, o
pulsar do coração a irrigar cada emoção que escreve suas linhas precisas nas enciclopédias
da vida de todos os indivíduos que seguem seus passos e abrem seus braços, suas
asas, seus livros, seus pensamentos e seus sentidos, compartilhando verbos com
os demais, deixando um pouco de si aos que também caminham nessa biblioteca
coletiva chamada vida.
W. R. C.
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