quinta-feira, 16 de agosto de 2012



Antônio Maria Lisboa
Portugal: 1928 // 1953 Poeta

Rêve Oublié

Neste meu hábito surpreendente de te trazer de costas
Neste meu desejo irrefletido de te possuir num trampolim
Nesta minha mania de te dar o que tu gostas
E depois esquecer-me irremediavelmente de ti

Agora na superfície da luz a procurar a sombra
Agora encostado ao vidro a sonhar a terra
Agora a oferecer-te um elefante com uma linda tromba
E depois matar-te e dar-te vida eterna

Continuar a dar tiros e modificar a posição dos astros
Continuar a viver até cristalizar entre neve
Continuar a contar a lenda duma princesa sueca
E depois fechar a porta para tremermos de medo

Contar a vida pelos dedos e perdê-los
Contar um a um os teus cabelos e seguir a estrada
Contar as ondas do mar e descobrir-lhes o brilho
E depois contar um a um os teus dedos de fada

Abrir-se a janela para entrarem estrelas
Abrir-se a luz para entrarem olhos
Abrir-se o teto para cair um garfo no centro da sala
E depois ruidosa uma dentadura velha
E no CIMO disto tudo uma montanha de ouro

E no FIM disto tudo um Azul-de-Prata.

Antônio Maria Lisboa, in "Ossóptico e Outros Poemas"


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