Antônio
Maria Lisboa
Portugal:
1928 // 1953 Poeta
Rêve
Oublié
Neste
meu hábito surpreendente de te trazer de costas
Neste
meu desejo irrefletido de te possuir num trampolim
Nesta
minha mania de te dar o que tu gostas
E
depois esquecer-me irremediavelmente de ti
Agora
na superfície da luz a procurar a sombra
Agora
encostado ao vidro a sonhar a terra
Agora
a oferecer-te um elefante com uma linda tromba
E
depois matar-te e dar-te vida eterna
Continuar
a dar tiros e modificar a posição dos astros
Continuar
a viver até cristalizar entre neve
Continuar
a contar a lenda duma princesa sueca
E
depois fechar a porta para tremermos de medo
Contar
a vida pelos dedos e perdê-los
Contar
um a um os teus cabelos e seguir a estrada
Contar
as ondas do mar e descobrir-lhes o brilho
E
depois contar um a um os teus dedos de fada
Abrir-se
a janela para entrarem estrelas
Abrir-se
a luz para entrarem olhos
Abrir-se
o teto para cair um garfo no centro da sala
E
depois ruidosa uma dentadura velha
E
no CIMO disto tudo uma montanha de ouro
E
no FIM disto tudo um Azul-de-Prata.
Antônio
Maria Lisboa, in "Ossóptico e Outros Poemas"
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