Florbela
Espanca
Portugal: 1894 // 1930 Poetisa
Charneca em Flor
Enche
o meu peito, num encanto mago,
O
frêmito das coisas dolorosas...
Sob
as urzes queimadas nascem rosas...
Nos
meus olhos as lágrimas apago...
Anseio!
Asas abertas! O que trago
Em
mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me
as palavras misteriosas
Que
perturbam meu ser como um afago!
E
nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo
a minha mortalha, o meu burel,
E,
já não sou, Amor, Sóror Saudade...
Olhos
a arder em êxtases de amor,
Boca,
a saber, a sol, a fruto, a mel:
Sou
a charneca rude a abrir em flor!
Florbela
Espanca, in "Charneca em Flor"
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