terça-feira, 7 de agosto de 2012



Florbela Espanca
 Portugal: 1894 // 1930 Poetisa

 Charneca em Flor

Enche o meu peito, num encanto mago,
O frêmito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...

Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!

E nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu burel,
E, já não sou, Amor, Sóror Saudade...

Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca, a saber, a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"


Nenhum comentário:

Postar um comentário