Aristóteles
Grécia Antiga: -384 // -322
Filósofo/Cientista
A Indagação das Causas e dos Princípios
Visto que
esta ciência (a filosofia) é o objeto das nossas indagações, examinemos de que
causas e de que princípios se ocupam a filosofia como ciência; questão que se
tomará muito mais clara se examinarmos as diversas ideias que formamos do
filósofo. Em primeiro lugar, concebemos o filósofo principalmente como
conhecedor do conjunto das coisas, enquanto é possível, sem, contudo possuir a
ciência de cada uma delas em particular. Em seguida, àquele que pode alcançar o
conhecimento de coisas difíceis, aquelas a que só se chega vencendo graves
dificuldades, não lhe chamaremos filósofo? De fato, conhecer pelos sentidos é
uma faculdade comum a todos, e um conhecimento que se adquire sem esforço em
nada tem de filosófico. Finalmente, o que tem as mais rigorosas noções das
causas, e que melhor ensina estas noções, é mais filósofo do que todos os outros
em todas as ciências. E, entre as ciências, aquela que se procura por si mesma,
só pelo anseio do saber, é mais filosófica do que a que se estuda pelos seus
resultados; assim como a que domina as mais é mais filosófica do que a que se
encontra subordinada a qualquer outra. Não, o filósofo não deve receber leis,
mas sim dá-las; nem é necessário que obedeça a outrem, mas deve obedecer-lhe o
que seja menos filósofico.
(...) Pois bem: o filósofo que possuir
perfeitamente a ciência do geral tem necessariamente a ciência de todas as
coisas, porque um homem em tais circunstâncias sabe, de certo modo, tudo quanto
está compreendido sob o geral. Todavia, pode dizer-se também que se toma muito
difícil ao homem alçar-se aos conhecimentos mais gerais; as coisas que são seus
objetos como que estão mais distantes do alcance dos sentidos.
(...) De tudo quanto dissemos sobre a própria
ciência resulta a definição da filosofia que procuramos. É imprescindível que
seja a ciência teórica dos primeiros princípios e das primeiras causas, porque
uma das causas é o bem, a razão final. E que não é uma ciência prática, prova-o
o exemplo dos que primeiramente filosofaram. O que, a princípio, levou os
homens a fazerem as primeiras indagações filosóficas foi, como é hoje, a
admiração. Entre os objetos que admiravam e que não podiam explicar,
aplicaram-se primeiro aos que se encontravam ao seu alcance; depois, passo a
passo, quiseram explicar os fenômenos mais importantes; por exemplo, as
diversas fases da Lua, o trajeto do Sol e dos astros e, finalmente, a formação
do universo. Ir à procura duma explicação e admirar-se é reconhecer que se
ignora. (...) Portanto, se os primeiros filósofos filosofaram para se
libertarem da ignorância, é evidente que se consagraram à ciência para saber, e
não com vista à utilidade.
Aristóteles, in 'Metafísica'
Nenhum comentário:
Postar um comentário