terça-feira, 4 de outubro de 2011

Parte de uma lembrança




Parte de uma lembrança


Preso no tempo e espaço, como um pássaro na gaiola cruelmente condenado, girando em espiral nos vapores sufocantes da consciência, num estado de visões passageiras, e distrações momentâneas, que insistem em permanecer, que dilaceram meus sentidos; de repente percebo que o errado é o certo desafiando as leis, contradizendo as regras, pronto para iniciar uma luta, de armas invisíveis, de vozes silenciosas, uma batalha cruel contra os sentimentos, contra a realidade, tudo que gritou o tempo e balbuciou as vontades.
O amor arrastará seu coração para um mundo onde os sonhos são feitos, onde as verdades as vezes se escondem e não é possível esconder de sua mente sem ajuda, em silêncio; juntos nós esperamos calados, as respostas surgirem, os mundos se encaixarem, papeis se escreverem e tudo se resolver como tiver que ser, de acordo com cada semente germinada.
Eu gritei um nome no pátio, debaixo das árvores cinzentas, o sussuro que eu segurava era como um velho amigo, contando estórias; as rosas trepavam pelas paredes, e seus espinhos adormeciam lentamente, o vento prendeu sua respiração, ocultou as batidas de meu coração; mas a resposta que eu esperava nunca veio, ela flutuou no tempo, ficou engasgada entre o ontem e o hoje, silencioso, brumas e devaneios; entre aquilo que tanto quero e se mantem guardado, entre você e eu, e todos os outros que surgiram depois; entre tudo que não valeu nada, o abrir e fechas das portas transparentes; entre palavras que nunca passaram de palavras, que caladas ficaram sem dizer nada, nunca tiveram a chanse de se transformar ...
Veio o silêncio, e a distância ficou ainda maior, veio a tristeza com sua espada flamejante transpassando corpo e alma, dilacerando pensamento e emoção; veio os lobos famintos devoradores de esperança, veio as horas arrastando a saudade, veio o frio... Paredes construídas entre nós, milhas nos separam, algo parece existir ainda em nossos corações, nós compartilhamos o mesmo sonho, a mesma vontade, essa de amar sem medo, de amar com os sonhos prontos a se tornarem realidades, pronto a sentir toda sua essência... Talvez... Quem irá nos dizer, nunca se tem tempo suficiente!
Sentimento tão forte, precisamos seguir em frente, para o nosso mundo mágico, esse de sensações oníricas, esse lugar único onde não tem espaço para mais ninguém, onde os sonhos podem se tornar realidade, e a realidade pode ser criada novamente mas sem o risco que tudo escorra por nossos dedos.
O destino nos chamou, como um poema sem fim, um lamento em cores púrpuras,um grito que ecoa distante, um desejo enclausurado por uma parede chamada vida; vamos seguir, dançar até a música findar, e nossos corpos chegarem a exaustão, até ter a certeza de que nada mais é certo, até termos certeza de que seguiremos uma estrada qualquer, deixar cada curva nos levar, mesmo que por acaso, mesmo que por um segundo, mesmo que em sonhos, está tudo diante dos olhos.
Onde está aquele rosto silencioso, que eu levei todo tempo comigo, foi embora?
Ainda reside em meus sonhos, em minhas lembranças mais agradáveis, em meu coração; agora estou aqui, não sei como manter cada luz dentro de mim, essa que brilhavam tão constantemente, espere, tarde demais... Não posso mais... Não sei mais como...
Será que eu as verei de volta novamente, ou todas morreram pela minha mão, ou foram mortas pelo velho e maligno fantasma do acaso,pelo abismo enegrecido que existe entre cada mundo, em cada esquina que vemos os outros partirem; de todos os meus sonhos que valiam a pena serem guardados no fundo do meu coração, eu gostaria de poder tê-los de volta do fluxo eterno antes de eles desaparecerem, evaporarem dia após dia, antes que seja tarde e eu faça parte apenas de lembranças ...

W. R. C.

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