quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Incomodando os Anjos



Incomodando os Anjos


Transcorrendo em direção ao desconhecido,
Lembranças gritantes, vontades que não se foram,
Ainda rasgam os sentidos sem piedade,
A história retrocede nos meus espelhos oculares
Como vultos disformes a me atormentar;
É quando vejo com perfeição tudo novamente,
Se escrevendo em linhas imprecisas,
Em sonhos nebulosos distorcidos,
Levado por uma onda de versos em uma estrada deserta,
Onde me afogo em meus desejos sem fim,
Sedento e faminto, sem poder me saciar...

A memória fala no coração de uma cidade cinzenta,
Com suas janelas abertas mas sem enxergar;
Um pomar cheio de maçãs,navio a navegar,
E pagina por pagina se escreve,
Um livro sagrado, linha por linha.

Toda a minha vida, em cada uma estrada,
Eu tenho incomodado os anjos constantemente,
Me perdendo em mim mesmo,
Me encontrando em negras asas,
Voando sorrateiro entre sentimentos,
Passeando, subindo, descendo e vivendo,
Cada dia como se fosse o ultimo,
Cada hora como se fosse a primeira,
Tão perto do limite, entre a vida e a morte,
O sono profundo e o despertar ardente
Incomodando os anjos constantemente.

Passeando através da Cadeia de Luz,
Que adentra cada janela enegrecida
E transforma cada dia esquecido,
Até a cidade ferida e silenciosa
Enchendo meu espírito, minha carne,
Com sensações e vontades,
Com o mais selvagem desejo de voar.

Pegando a estrada para a cidade ferida,
Pelos homens e suas pragas,
Sem tocar os pés no chão,
Sentindo o vento frio banhar a face,
Soprar a alma suavemente,
A memória dedilhando no coração
A melodia que canta a vida;
Toda a minha vida, eu tenho incomodado constantemente,
Passeando, girando e voando, bem além dos limites,
Bem além dos sonhos e suas portas;
Incomodando os anjos constantemente.

Caminhando pelo fio da navalha,
Em direção ao corte final,
Que não deixará cicatriz,
Entre o passado e o futuro,
O ontem, o hoje e o amanhã,
Sonhando e vivendo as cores
Que não estão em minha realidade,
Pois as sementes agora que foram lançadas,
Sendo levadas pelas canções de tempos perdidos,
De momentos únicos guardados,
Memória ecoando no coração de um sonhador,
Memória batendo ressoando em uma alma faminta
Que sempre estará incomodando os anjos.

W. R. C.

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