segunda-feira, 23 de maio de 2011

Banquete dos Pássaros





Banquete dos Pássaros



Sou eu ou são os dias que ficaram assim? Um ar frio, uma cortina cinzenta que cobre os olhos, essa poeira lenvantada por pés apressados, a fome que corrói cada ser, a sede que nunca se acaba, nossas veias cheias de sonhos, nosso peito cheio de paixões incompletas, nossas mentes repletas de procuras intermináveis e pensamentos inesgotáveis; a saudade que desenha cenários enegrecidos repletos de vultos, de vozes , vento que sopra promessas, que leva e que trás procuras, amores, vontades: Saudade de que, saudade de quem? Vontade de que, vontade para quem? Amores? O mundo vive assassinando seus amores...
Vejo um homen alimentar os pássaros todos os dias, quase sempre no mesmo horário: como São Francisco de Assis gostava de fazer; varias aves de diverssos tamanhos se juntam ao bando em seu banquete matinal e despreocupado; o mundo girando veloz e cada um colhendo migalhas no chão da praça, pequenos pedaços de ilusão...
Toda manhã o mesmo rosto diante do espelho, modificando-se devagar com o passar do tempo, com as rotinas; a xícara de café, a água do chuveiro, os pensamentos que vão se organizando lentamente, depois um ônibus cheio de olhares, as ruas cheias de janelas, os seres em sua eterna busca; a praça, o mesmo banco enquanto se espera, vozes e silhuetas que passam para todos os lados, caminhos que se cruzam, que se perdem, vitórias, derrotas, o ir e vir de todas as coisas; e os pássaros já estão lá comendo felizes.
Todos os dias os corações cheio de sonhos, e novamente o despejar do tempo que corre, sem esperar ninguém, levando algumas coisas embora, trazendo outras nas asas do vento, nas curvas de uma esquina; o nascimento de sonhos diversos, a morte de habitos ultrapassados, o surgimento de novos conceitos, construção de varios sentimentos, o palco vazio e iluminado esperando por nós. E os pássaros ?
Olhando pelo buraco da fechadura em uma rua qualquer, relembrando dias que se foram, cada hora pingada conduzindo a um entardecer dourado, o virar das páginas escritas, o digerir dos fatos que se se seguem; são os passos dos seres humanos apressados, seguindo seu curso, neste rio enegrecido de asfalto e concreto, com suas carruagens de metal, fantasias e máscaras de cada dia; somos nós reescrevendo os dias que são tão parecidos, tentando pintar novas cores, degustar novos sabores, sentir diversos odores, lançar sementes e esperar seus brotos, seus frutos; rompendo círculos que se arrastavam por dias, meses e anos.
Felizes são os pássaros que tem o céu como quintal, a natureza como jardim, as praças como sala de estar, as estações como conselheiras, sol e chuva como irmãos; felizes são os palhaços no picadeiro, se desdobrando para agradar a platéia, pintam seus rostos para que ninguém veja suas cicatrizes, cantam suas músicas enquanto andam na corda bamba; fazem malabarismo com moedas de pouco valor, mês após mês; mas poucos sabem que quando as cortinas se fecham removerão suas máscaras com papéis e lágrimas, sentindo o peso de cada dia que se passa, pensando em cada gargalhada alheia que não pode compartilhar, ou em outros palhaços que estão em cima do muro, embaixo da ponte, ou estirados em um caixão; e estão por toda parte, no mercado, nos prédios e nas casas, em uma avenida qualquer; alguns ainda coloridos, outros desbotados, com sorrisos amarelados, outros desdentados e sem nenhum motivo aparente para sorrir.
Sou eu ou são os dias que ficaram assim?
Agora é cada um com suas armas, com suas mãos cheias ou vazias, com seus dardos e suas setas apontadas para os alvos, observando os pássaros, seguindo os dias que se escrevem, abrindo e fechando portas, abrindo e fechando mentes, corações, bocas, olhos, covas...
Agora somos nós em um entardecer de sentimentos, na velocidade do mundo, no ritmo de cada era, não é fácil dizer o que se sente e ver que não acreditam, jogar migalhas aos pássaros e ver que eles não se alimentam. Agir de forma errada põem tudo a perder, um passo em uma direção oposta atrasa todo o percurso, uma mente cheia de medo gera erros, cria fantasmas, pesadelos, mesmo quando se tenta ser o que completa a outra parte, o encaixe perfeito no quebra cabeça, a mão que arranca as ervas daninhas. Não discordo que os dias são corridos, que todos procuram se encontrar em meio a multidão, ou apenas encontrar alguém nessa multidão; as vezes só o silêncio nos conforta, entre esse abismo que se agiganta mais, pensamentos que se expandem e voam distantes, corações que se comprimem apertado em saudade, e a alma anoitecendo novamente. Neste mundo uma fenda enegrecida se abriu, horas que tem o peso de nossa consciência, olhos que tem o fogo da paixão, que evapora dia após dia, corações cheios de lastimas, bolsos cheios de dividas, a realidade dos que estão lá fora tentando seguir a maré, se afogando, nadando e morrendo na praia. A esperança é a ultima que morre: dizem por ai; alguns ainda acreditam...
As lembranças vem carregadas de pesar, passos que vacilam em solo firme, lágrimas que brilham no escuro, o bater dos corações em ritmo de mudanças, a vontade de ter feito tudo de forma certa em mínimos detalhes, com grandes sentimentos, moldando do barro das emoções o inicio de uma nova jornada .
Felizes são os pássaros pois eles sabem voar...




W. R. C




Um comentário:

  1. ..gostei dessa sua "crônica-poética"..ainda q tenha ficado + poética ..do q crônica..
    ..falta uma certa trama..um foco cercado por essa poética-lúdico-metafórico..
    ..a Crônica quer relatar algo..denunciar um mundo despercebido por outros..reverenciar o sensitivo do cotidiano..os contrastes..o plural das coisas..pode vagar pelo cenário..+ nunca fugir da trama...
    ..qnd vc me mostrou o primeiro rascunho..pensei nas infinitas possibilidades de se criar a partir dali qualquer trama..uma vez q o cenário estava..e ainda está perfeito..só penso (e isso uma opinião minha)..q vc se perdeu da trama no meio do txt..
    ..+ saiba q eu gostei muito...!!
    ..continue assim meu caro!!..
    ..
    flanando pelo mundo das palavras!!




    ...Braga

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