quarta-feira, 11 de maio de 2011

Amores Engarrafados





Amores Engarrafados


Meus pensamentos vagam distantes
Por lugares onde realmente gostaria de estar,
O arrastar das horas agonizantes, vazias,
Um mar imenso de sentimentos pesarosos,
Lacuna aberta no fundo do peito,
Silêncio que ecoa pelo jardim cinzento.

Olhos em chamas, reflexos d'alma,
Saudade flutuante que volta para casa,
Colhendo frutos amargos,
Entre os campos secos,
Sozinha... Calada... Escura...

Portas vermelhas e caminhos azuis,
Estradas cintilantes e cheiro do amanhã,
Se propagando em sussurros engarrafados,
Palavras trançadas, vontades em espera,
Um pequeno gole e nada mais...

Inúmeros cenários em cada amanhecer,
Possibilidades diversas, caminhos distintos;
O coração dita o ritmo dos sentimentos,
A bomba cardíaca a mercê do acaso,
De cada porta que se abre, que se fecha,
E aquelas que gostariamos de entrar novamente.

As fores despejam seu pólem no ar,
A natureza está lá fora, nos seres, nos homens,
Repleta de vida, escondendo a morte,
Sonhos se formam de pequenas partículas,
Pedaços de mim que se juntam novamente...

Folhas secas caem diariamente, amareladas,
Se escrevem por linhas tortas,
Em aglomerados de sentimentos,
Por dias, por messes, por anos,
Se iniciam e acabam de repente...

Uma página sem letras: cheia de pontos,
Um quadro sem tinta: cheio de vultos,
Esquinas iluminadas: um amante sozinho;
Amor engarrafado, empoeirado,
Em garrafas com tampas de chumbo,
E ninguém mais quer abri-las.

Amores velhos e perdidos,
Cheio de datas e conservantes,
Esquecidos em uma prateleira qualquer,
Repletos de arrependimentos,
Destruidos pelo mofo, pelo tempo,

Perdido entre a sede de consumo,
A fome de progresso,
A saudade e seu retrocesso,
A ferrugem de seus cantos
E os sentimentos que perecem...

Sentidos embutidos, enclausurados, comprimidos,
Que perdem sua validade antes da primavera,
Desejos corroídos, amores desgastados,
Guardados e esquecidos,
Em um canto sujo jogado... Assim...
Assim são todos os amores engarrafados.


W. R. C.



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