sexta-feira, 13 de maio de 2011

Areias do Tempo






Areias do tempo


Mais uma vez surge,
Pensamento como fumaça
Nebulosa e cinzenta,
Sobe em direção ao céu,
Em espiral de aromas e sensações,
Um cavalgar de lágrimas sobre o queixo rumo a selva,
Um soluçar de sonhos de volta ao colo da serpente,
Nos dentes pontiagudos do silêncio,
Entre folhas e espinhos onde outrora já foi meu lar;
E as garras afiadas da saudade
Onde construí castelos de lembranças
E plantei flores de sentidos,
Lá se encontram os frutos de todos os amores.
Entre minhas visões e a sede constante,
O dilacerar impiedoso dos corações
E as estações de cores cintilantes,
Procuro a chuva dos meses passados,
E as curvas onde antes me perdia,
Que nos sonhos vem se seguindo,
E vão desaparecendo, se distanciando,
Me devorando... Me consumindo...
Não sei o que se passa,
Mas evapora rapidamente,
Ali não há mais gota alguma
Que possa germinar novamente,
O silêncio e a distância cumpriram seu papel,
Os campos parecem ter adormecido...
Ventos que sopram em direções opostas:
Deixe-me cavalgar as lágrimas,
O que restou aqui, o que pode ter ai,
Sobre nuvens sem sorte, por terras sem fim,
Entre as folhas vermelhas e os ninhos cinzentos
Onde o grande pássaro esconde a cabeça
Suavemente de volta ao seu esconderijo;
Entre os pensamentos e os sinos que tocam,
Borboletas transparentes e vespas azuis,
Procuro a areia dos meses passados,
Grão por grão, cada perfume que se perdeu,
Mas sei que fora levado pelo tempo,
O doce beijo colhido nas esquinas
O palpitar que se calou de repente.
Mas ali não há mais areia alguma,
Impiedoso foi o vento que soprou para longe,
Saudade que se esconde como um inseto,
Sorrateira na noite se aproxima,
Durante o sono você não percebe
Que ela está te picando,
Espalhando sua peçonha por seu corpo,
Deixando em seu coração seu veneno.
Com sorte chego a lugar nenhum,
Talvez volte ao fundo do abismo,
Ou cultive sussurros pela noite enfim,
Memórias dançarinas, palavras que se vão,
Desenhando na areia, escrevendo nas estrelas,
Deixando pegadas na existência,
Versos empoeirados, sonhos guardados;
As areias do tempo cobrirão os meus rastos.



W. R. C.

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