sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

As Lágrimas Secaram



As lágrimas secaram

Por muito tempo e agora havia segredos em minha mente, pedaços que foram se moldando, sussurros intermináveis e melodias esquecidas entre os vapores que subiam destas lágrimas que sacavam; havia vontades e amor profundo, partículas desprendidas de meu coração, pedaços flutuantes de cada sentido, partes soltas de muitas sensações; por muito tempo e agora havia coisas que eu deveria ter dito, mapas desenhados que eu devo seguir, curvas desleais que são escritas, palavras que foram evaporando com o tempo, fumaça de delírios escurecidos com as sombras de tantos pensamentos escancarando a órbita craniana; luz de portas que vão se abrir, sentimentos que deveriam ser explorados.
Na escuridão eu estava tropeçando até a porta em pedras escuras que eu deixei cair, escorregando em pérolas que lancei aos demais; de frente ao espelho embaçado, de frente ao cenário estranho do alto de minha cabeça aberta, para achar uma razão, a verdadeira força para seguir, para achar o tempo, o lugar, à hora, cada fagulha fragmentada de sensações perdidas que movam à engrenagem e encaixe todas as peças que podem ser encaixadas...
Esperando pelo sol e a luz do dia após este dizer suas promessas, aquelas que cegam olhares curiosos e aquece corações de gelo; aquele vento que leva nossas preces aos quatro cantos com todos os elementos nas asas dos desejos furiosos, dos desejos renascidos, deixando para trás todos os fantasmas assustadores dos medos de infância e cadáveres de amores fatídicos espalhados no chão, novidades de sentidos ressurgidos entre as horas que se escrevem.
A pressão está crescendo, a vontade de deixar a imaginação voar aumenta dia após dia, são os pássaros de nossos eus querendo sair e tatear idéias; eu não consigo ficar longe de cada um desses pensamentos, de tantos sentidos latentes e seus diversos sentimentos, o amor que adormece latejante e me diz que não pode mais germinar o solo, não agora, diz que também não quer voar com esses pensamentos e tocar o intimo gritante de cada sensação...
O tempo abre seu oceano em cada onda violenta que a vida despeja, quando tentamos navegar em suas verdades, em tantas vontades sufocantes e diversos ideais famintos; nos jogamos no mar, em sua espuma de pensamentos, deixamo-nos banhar com suas águas de conhecimento e confusão, afogamos em seus mistérios e bebemos suas loucuras em goles de procuras incansáveis; procuramos as chaves, queremos abrir todas as portas, seguir os corredores transparentes para encarar o mundo e suas inúmeras variações de cenários: eu acreditei uma vez, aquele fruto tão doce e cheio de veneno, que aqueceu nossas mentes e incendiou nossas almas; as lágrimas secaram, o coração ainda pulsa por você e por mim.
Onde eu estava, onde eu tentei ir, arrastando memórias e momentos que apontam para o nada? Eu tinha asas que não podiam voar e uma voz que poucos escutaram, sonhos que não estavam se movimentando que desbotavam e escorriam; eu tinha a chama que não pôde se incendiar pois sozinha se escurecia, sementes secas que não germinaram pois a terra árida as devorou!
Onde eu estive por tanto tempo parado observando o horizonte calado, absorvendo o silêncio e expelindo vontades que não se saciaram, onde foi que eu errei? Eu tinha lágrimas que não pude chorar, soluços silenciosos que ecoaram distantes, palavras surdas que não falaram a ninguém; eu tenho sementes que ainda não tive tempo de semear!
Minhas emoções congeladas num lago gélido pareciam um convite tentador a embriaguez em seus goles de nostalgia, meu peito aberto em carne viva e muita dor o aperitivo a todas as luzes de memórias e quereres; eu não pude senti-las como deveria, pois iam se afastando de mim; eu não pude entendê-las como era preciso, pois me distraia com tantas vozes e sem nada sólido diante de mim, até que o gelo começou a se quebrar e as lágrimas começaram a secar.
Eu não tenho poder sobre isso, todos esses sentidos que vão dançando, às vezes não sei como movimentar cada peça necessária nesse jogo; às vezes o amor escorre por nossos dedos, às vezes outros sentimentos; é quando hesitamos mais uma vez: eu quero que tudo saia certo, como um quadro bem feito em uma moldura! Fui às profundezas de meus enegrecidos sonhos, as lágrimas secaram, os vapores subiram aos céus, a água está se movendo de uma outra barragem, de uma outra estação de cores diferentes em novos tons e estou sendo levado para longe...
Lentamente me desperto, lentamente me levanto, caminho de olhos bem abertos, passo a passo vou seguindo, deixando minha sombra escrever junto comigo cada traço que vai saindo; minhas linhas nunca irão parar, rabiscando sensações e sentidos, meu pensamento sempre corre como o vento a soprar minhas velas; minhas lembranças me acompanharão em cada dia em que eu construir novidades nessa minha jornada de gritos silenciosos...

W. R. C.

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